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Ação na Mata do Camarido e Duna de Moledo

Nos passados dias 23 e 24 de outubro, a Corema – Associação de Defesa do Património desenvolveu uma intervenção na Mata do Camarido e na zona dunar de Moledo, para o levantamento dos exemplares ainda existentes de camarinha ou camarinheira, de nome científico Corema album.

Este arbusto, característico de zonas dunares, encontra-se em regressão, assim como toda a vegetação autóctone que deveria existir para proteger a duna. No seu lugar, são encontradas grandes manchas de chorão e acácias, plantas invasoras que se desenvolveram em demasia, impedindo a proliferação de todas as outras. Nesta ação, contou-se com a presença do INIAV – Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, fundamental para se fazer uma correta análise do estado dunar, do tipo de vegetação existente, e como proceder para uma intervenção eficaz. O Minho Digital esteve à conversa com o presidente da Corema, José Gualdino Correia, para melhor entender qual o propósito desta ação. 

Minho Digital (MD) – Sr. Presidente, sendo a Corema criada em homenagem à própria camarinha (Corema album), foi esse um dos motivos que levou a este tipo de intervenção?

José Gualdino Correia (JGC) – A camarinha é um símbolo da Mata Nacional do Camarido e da zona dunar contígua de Moledo. Esta espécie endémica terá mesmo dado o nome a este pinhal atlântico. As lutas ecológicas surgiram em Caminha precisamente quando foi necessário defender a Mata Nacional do Camarido contra a sua alienação e urbanização, no final da década de 70 do século passado. A Corema ao adoptar o nome científico da camarinha ficou, desde logo, ligada à sua existência. A constatação da regressão acelerada desta espécie botânica, existente originalmente apenas na Península Ibérica, impõe-nos que mobilizemos todos os recursos existentes para evitar o seu desaparecimento completo da zona dunar de Moledo e da Mata Nacional do Camarido. Constituem, como são conhecidas em Espanha, autênticas “perlas de las dunas”, património natural e biogenético que não queremos que se extinga.

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MD – Como se deu o envolvimento da Corema com o INIAV, contando assim com o seu apoio?

JGC – O contacto com o INIAV foi facilitado por umas das suas técnicas – a Dra. Alexandra Abreu Lima –, que conhece desde a sua infância as camarinhas de Moledo e que continua muito ligada a Caminha. Na reunião que teve lugar em Oeiras, entre a Corema e o INIAV, no passado dia 19/07/2017, ficou combinada a deslocação a Caminha de uma equipa daquele instituto para, em colaboração com a Corema e com o apoio da União de Freguesias de Moledo e Cristelo e da Câmara Municipal de Caminha, realizar um levantamento e caracterização da situação da camarinheira no litoral do concelho. Este seria o primeiro passo para o desenvolvimento de um projecto para a conservação desta espécie endémica que se pretende materializar com o envolvimento da população local, nomeadamente da comunidade educativa/população estudantil.

 

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MD – Existem outros apoios que suportem esta ação?

JGC – O primeiro levantamento/estudo realizado nos dias 23 e 24 de outubro contou com a presença do presidente da União de Freguesias de Moledo e Cristelo e do vice-presidente da Câmara Municipal de Caminha. A sua participação selou o empenhamento das autarquias que representam em integrarem um projeto de preservação da camarinha e do seu habitat natural. A Corema, avessa a protagonismos, quer, em conjunto com o INIAV e com os eleitos locais, contribuir para que este património botânico e biogenético não venha a existir apenas na memória de alguns de nós e possa ser usufruído pelas gerações vindouras. As escolas do concelho – algumas delas já participaram em anteriores ações de sensibilização organizadas pela Corema – jogarão um papel muito importante na sustentabilidade do projeto. As primeiras ações que iremos pôr em prática já no início do próximo ano servirão, também, como sustentação do projeto que o INIAV, em parceria com a Corema e com as autarquias, irá submeter, no próximo ano, a uma candidatura no âmbito do Programa de Cooperação Territorial Europeia (Interreg  SUDOE).           

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MD – Na sua opinião, e após o desenvolvimento da ação, como classifica o estado dunar de Moledo?

JGC – O estado de conservação da duna de Moledo é extremamente preocupante. O atravessamento e o pisoteio a que está sujeita, sobretudo na época balnear, estão a fragmentá-la e a contribuir para o seu desaparecimento e a sua erosão. A abertura de autênticos canais eólicos em consequência da sua transposição está a provocar o definhamento e a morte das espécies naturais que a colonizam (ex: camarinha) e a favorecer a fixação de espécies invasoras (ex: acácia e chorão). A não serem tomadas medidas de protecção nos próximos meses, a população de Corema album que ainda resiste, irá desaparecer irremediavelmente e a função protectora que o cordão dunar desempenha face aos efeitos transgressores do mar ficará comprometida.

 

MD – Que tipo de intervenções se podem esperar na duna de Moledo?

JGC – Torna-se necessário sacudir a pressão humana e impedir o atravessamento indiscriminado – em escassas centenas de metros existem actualmente 8 passagens para a praia. Nesse sentido é imprescindível instalar passadiços elevados e protecções, ao mesmo tempo que é necessário remover as espécies botânicas invasoras e promover o enraizamento das espécies endémicas e nativas, como é o caso da camarinha.  

 

MD – Considera então que a sensibilização das pessoas é fundamental para levar avante a intervenção na zona dunar?

JGC – O sucesso desta intervenção reside muito no envolvimento da população e dos utilizadores da praia e da Mata. A partir do momento em que todos eles reconheçam que o património botânico que se pretende perenizar tem valor como elemento integrador e agregador da sua identidade, quererão fazer parte da solução e não do problema.   

 

O Minho Digital gostaria assim de felicitar a Corema pela iniciativa e também de apelar à sensibilidade dos seus leitores, para que participem e cooperem com esta causa. Moledo é cada vez mais um ponto emblemático no mapa de Portugal: o conjunto da praia extensa, com as águas frias e as paisagens únicas, tornam este lugar especial aos olhos de todos aqueles que lá passam. Ajude nesta causa, não pisoteie a duna, use os devidos acessos e não deite lixo fora dos locais apropriados! Para se manter informado, siga a Corema através das redes sociais, ou através da sua página http://www.corema.org.pt/?pagina=home 

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