Começou a destruição do Mosteiro de S. João de Arga com a descaracterização do adro

 

 

Joaquim Vasconcelos

Engenheiro Civil 

 

A capela de São João d’ Arga é um dos mais importantes testemunhos medievais da região (Argas), não obstante a sua pequenez e simplicidade.

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Desde muito cedo deu origem a uma romaria, dedicada a São João Baptista, que se realiza todos os anos nos finais de Agosto (dia 28 – dia da morte de S. João).

Embora as festas sejam realizadas por mordomos de S. João d’ Arga, a sua localização está em território de Arga de Baixo, sendo administrada pela “Comissão Fabriqueira da Paróquia da Arga de S. João.

Na ” Chorografia Portuguesa (42) – I ” pag. 249 -, o padre António Carvalho da Costa, refere que o Mosteiro foi mandado construir por S. Frutuoso, concluído no ano de 661, e restaurado na Idade média por frades beneditinos.

A primeira referência histórica a este Mosteiro encontra-se nas “Inquirições Afonsinas ” de 1258.

Tendo sofrido muitas obras, apresenta suficientes vestígios de uma capela de origem românica, do séc. XIII, mas de acordo com dados existentes, no século XVIII, no alçado Sul foi colocada uma sacristia e no século XIX a Capela de S. João de Arga, (de cunho românico), foi completamente desfigurada ao ampliarem-lhe o corpo na direcção de poente (no século XIX). No entanto, mantém-se com o testemunho da sua primitiva traça, com a cachorrada “sobre a cornija, da construção original, e as portas laterais”.

 

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No adro ou terreiro ainda se encontra uma série de carvalhos seculares que, na altura das festas, protegem os peregrinos do calor e dos raios solares. Além disso, existem duas plataformas que durante as festas servem de coreto a duas bandas musicais.

Mas…. há uns tempos atrás realizaram uma série de obras de beneficiação melhorando um conjunto de  construções que se encontravam em mau estado. No entanto, existem alguns pormenores que são chocantes, como é o caso de um cano de granito que corre internamente numa construção localizada a sul, onde colocaram um tubo plástico que foi envolvido por cimento. Termina com um cotovelo de metal canalizando a água para o interior de um antigo caixão de pedra. 

 

Uma erro técnico, tem a ver com a saída de um tubo, localizado a poente do terreiro ou adro de S. João,  que se presume seja de águas pluviais… e julgo que nada tem a ver com qualquer documento histórico, até porque é plástico. Num país civilizado o caudal desse tubo seria encaminhado para o solo de uma forma canalizada, mantendo assim a estética do local.

Mas os disparates continuam e não me parece que tenha a ver com a Direcção-Geral do Património Cultural (DGPC) – embora considere que pelo Decreto-lei nº115/2012 de 25 de Maio, as intervenções nas zonas de protecção de imóveis classificados necessitam dum parecer para realizar intervenções nas zonas de protecção, o que não me parece ter existido com a construção de umas obras executadas nos primeiros dias de Agosto de 2019.

As obras que estão a ser executadas, consistem na alteração do pavimento natural que documentava o circuito histórico religioso. Ao alterar parte do seu pavimento, destruíram um pouco mais parte da nossa História.

 

Podemos beneficiar o património, sem alterar a História e respeitando o Património e a nossa Identidade.

É necessário preservar todo o património da região e as suas tradições, atraindo assim os peregrinos e turistas, mantendo o ritual de dar as voltas à capela de S. João de Arga não havendo necessidade de perder a identidade cultural.

O cenário deve remeter-nos para a época medieval, em que os terrenos eram naturais, para que esses tempos não deixem de estar presentes  no nosso imaginário.

Os responsáveis deviam saber que só preservando as matrizes originais desses locais é que podemos mostrar as nossas raízes culturais a quem nos visita, fazendo frente ao lado negativo da globalização.

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