Crónicas de Trazer por Casa: O Papagaio-mor da minha rua

Zita Leal

            

Não resisto a contar uma história verídica e passível de ser confirmada protagonizada por mim e por um certo papagaio que, pensava eu, morava num 3º andar de uma rua onde habitualmente passo.

Manhã cedo, a caminho do mercado onde compro os legumes, fruta, peixe, camisolas e calças ao preço da uva mijona, ouvi uns sons que me pareceram de papagaio pseudo falante. Não havendo mais ninguém nas imediações, resolvi parar debaixo da varanda de onde vinham os sons e tentei imitá-los. Nada de resposta. Insisti e assobiei com mais força. O papagaio respondeu com a mesma entoação e durante uns três ou quatro minutos dialogámos em modo assobio. Sempre que ia às compras, parava uns momentos debaixo da varanda, assobiava, ele respondia. Eu andava entusiasmada com aqueles diálogos e passei a ladrar para testar a habilidade do meu companheiro matutino. Ele respondia qual cãozinho amestrado.

Ao fim de um certo tempo, era um namoro pegado que me alegrava a ida ao mercado. Eu já não podia passar sem isso e para mim ele era o verdadeiro papagaio-mor. Uma certa manhã, assobiei-lhe e ele nada. Ladrei-lhe e ele nada. Fiz sons de beijinhos e ele nada. Já cansada de estar de pescoço esticado, disse-lhe: “ Ai não me respondes? Pois acabamos aqui o namoro e nunca mais te ligo “. E retomei o meu caminho. Eis senão quando, ouço uma voz de homem: “ Ele não fala porque está a comer e não se pode engasgar “. Fiquei sem pio e na dúvida de existir mesmo um papagaio-mor naquela casa. Andei este tempo todo a fazer figura de parva falando deliciada para o papagaio que se calhar não existia? Tenho quase a certeza que quem tão bem ladrava, assobiava, miava, era o dono. Nunca mais estiquei o pescoço para dialogar com o papagaio.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Nestes últimos dias tem-se falado num papagaio-mor que anda por aí a fazer de conta que fala… Atenção que pode ser um enganador como o meu a servir-se da “ Voz do dono “

Antigamente dir-se-ia que nos queriam enganar com uma gaitinha de cana.

Será?

  Partilhar este artigo