Expoente máximo da Cultura: Arte na Leira!

Jornalista a entrevistar Mário Rocha

 

Provavelmente, não estaremos muito longe ao afirmar que este é um evento que poderá ser designado como um expoente máximo da cultura no concelho de Caminha, concretamente na Arga de Cima, e que é a «Arte na Leira».

Mário Rocha, um artista de renome, quer a nível nacional como internacional é, também, o organizador e o mentor desta mostra. Este evento iniciou-se em 1999 e todos os anos é um marco cultural. Num espaço com várias salas, o público pode disfrutar de obras plásticas, cerâmica e pintura. Todo um espaço onde se respira paixão, dedicação e cultura.

Minho Digital foi conhecer um pouco mais deste artista e do seu projecto.

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 Quem é o Mário Rocha?

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

É um indivíduo que nasceu em Perre  há 61 anos, que veio para Viana do Castelo, depois foi para o Porto e que sempre se dedicoui às artes. E estou vivo! (sorrisos)

Mas tem formação?

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Andei na Escola das Artes Decorativas Soares dos Reis, mas depois não segui para Belas-Artes por dificuldades económicas.

Pode dizer-me em que altura da sua vida a arte despertou?

Acho que a arte quando nasce com a pessoa, já nasce mesmo com ela. Eu encontrei-a muito cedo. Há pessoas que acabam por não a encontra, mas todos nós temos a  veia artística própria. Ou para um lado ou para o outro, cada um tem a sua veia artística. Eu encontrei-a muito cedo. Talvez na escola primária, creio. Penso que foi daí …

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O que é que gosta mais de fazer? Eu sei que em termos de pintura e em termos de cerâmica, mas o que é que é mais o Mário Rocha prefere?

Eu penso que são as duas coisas. Uma coisa é complemento da outra. Eu sempre tive um ‘bichinho’ pela cerâmica. Acabei por comprar um forno quando tinha 22 anos, mas a pintura sempre me acompanhou. A gente faz hoje a cerâmica e não se vê o resultado de  imediato, vê-se o resultado passado uns dias e, às vezes, passado um mês… Depois é conforme a paciência. Umas alturas gosto de fazer cerâmica e outras gosto de fazer pintura. A cerâmica é conforme a paciência… Mas cerâmica e pintura andam sempre juntas, de braço dado.

Quando estamos na cerâmica o que é que o Mário Rocha faz?

 Faço aquilo que já está projetado e que dantes fazia. A cerâmica é, para mim, o despertar, o ver como o fogo transforma aquilo que nós fazemos. A sensação de ver uma criação que partiu de nós, mas o fogo é que a acabou. E o desafio é esse mesmo! Há coisas que a gente faz, muito bonitas antes de ir para o forno e depois saem totalmente diferentes. Há pequenas coisas que a gente faz e que depois se surpreende com o resultado. O fogo, o calor, ajudam a transformar a peça. É isso que é fundamental em cerâmica.

Mas o Mário Rocha quando vai trabalhar em cerâmica primeiro faz um esboço em papel do que pretende ou é na altura que o cria?

Depende do trabalho que a pessoa faz. Se for um painel em azulejos, tenho de fazer um esboço, porque depois tenho de obedecer àqueles azulejos e tem de ser feito um esboço. Quando são coisas mais pequenas, não faço esboço nenhum.

Passando agora para a pintura. Já passei por alguns abstratos. É o abstrato? É outra forma de pintar?

O abstrato… Não posso dizer que o trabalho seja abstrato. Nós gostamos muito da música e, no fundo, é mais abstrata do que a pintura. São sons que são misturados, são 7 ou 8 notas que são misturadas. Nós temos 3 cores e, portanto, chama-se abstrato, porque de facto não se vê o que a pessoa pretende ver, mas está lá tudo. É o movimento, a cor, o que nos vai na alma. É como a música. É um bocado difícil de explicar, mas quem o sente é quem o fez, sente-o dessa maneira. Está lá tudo.

Utiliza óleo, aguarela…

Utilizei óleo, utilizei aguarela e, de vez em quando, utilizo uma coisa ou outra… Deixei de usar óleo por causa do cheiro… Utilizo mais sintético.

Quando surge a «Arte na Leira»?

Arte na Leira surgiu em 1998… e a primeira exposição foi em 1999. Fiz uma exposição em Bruxelas, a convite do Instituto Camões, na sala Damião de Góis em Bruxelas. O trabalho era uma mistura, uma sobreposição de imagens entre a cidade do Porto, a paisagem urbana e as pessoas daqui da Serra d’Arga. Entretanto, depois da vinda dos restantes trabalhos para Portugal, lembrei-me de mostrar aqui, às pessoas da serra, o meu trabalho, aqui em casa. As pessoas sabiam que eu era pintor, artista plástico, que vinha ao fim de semana. Lembrei-me de mostrar o meu trabalho e fiz aqui uma exposição. Só dava para meter meia dúzia de quadros, pois os espaços estavam ainda destruídos. Apliquei umas placas de ferro no exterior e fixei umas placas em cerâmica, as quais eu pintei. Surgiu daí! Veio gente de todo o lado, muita gente minha conhecida e amiga … Daí achei que era interessante, no ano seguinte, convidar os meus amigos pintores para participarem numa exposição minha. Foi assim que aconteceu. Surgiu o nome Arte na Leira, porque utilizei umas leiras para fixar as placas de ferro forjado para expor os quadros nos suportes, nos painéis. Foi assim que começou.

Estando, hoje, a inaugurar mais uma exposição, até quando vai estar patente?

A exposição abriu no dia 18 de julho e fecha a 23 de Agosto, são 5 semanas.

 

ESCASSOS APOIOS INSTITUCIONAIS

E este ano o que é que o público pode ver?

Pode ver muita coisa… E convido algumas instituições: Instituto Politécnico de Viana do Castelo, Instituto de Bragança, do Porto e do Cávado.

E essa sua intenção, ao convidar estas instituições, é para dar um apoio aos jovens que se iniciam na arte?

Sim, de facto, o objetivo de Arte na Leira é isso mesmo. É trazer jovens e, um dia mais tarde, fazerem isto à maneira deles. Nós vamos ficando velhinhos…Depois a gente só dá para sentar e beber um copo e mais nada. (risos)

Mas agora convém perguntar: tendo o Mário Rocha criado este projeto, além de divulgar a sua arte, também divulga a arte de outros colegas seus e proporciona impulso a outros jovens artistas. Que apoios institucionais é que tem o Arte na Leira?

Para começar, convidar amigos meus, isto só prova que não sou egoísta e que não quero tudo para mim. E todos eles ficam e eu fico a fazer isto. Os apoios que tenho tido são praticamente de amigos. As instituições como Câmaras Municipais vão dando dentro daquilo que podem!… Penso que podiam ser mais sensíveis a isto, mas pronto, a vida é feita disto mesmo, não é?! Uns sentem outros não …

“Uns sentem  outros não” … Pelas suas palavras depreendo que o apoio que se dá à Cultura é pouco ou nenhum?

Sim, é pouco. Mas também há outra vertente: há gente que recebe dinheiro para cultura e não faz nada. Outros fazem e não recebem … É apenas uma questão de acertar agulhas!…

O que para si significa a Arte na Leira? É a sua vida? É um projeto concretizado?

Foi uma ideia que tive e deu bom resultado. É uma maneira de eu conhecer gente, trazer a arte para o campo que é diferente de trazer para um salão. Num salão, as pessoas têm dificuldade em entrar. Se for num rés-do-chão entram, se for num primeiro andar já não entram. E no fundo educar as pessoas, para nos poderem aceitar melhor, não é verdade?! Há muitos anos, quando se dizia que uma pessoa era artista ou pintor deitavam as mãos à cabeça. E é bom para todos. Por exemplo, nós temos aqui a vizinha Espanha onde, de facto, as pessoas têm outra sensibilidade para as artes. que nós, portugueses, não temos! Recebo muitos espanhóis, vêm aqui, e eles dizem que não sabem como é que estando tão pertinho. eles não sabem que existe esta exposição, porque não têm informação: «Eu não sei e moro aqui ao lado…”. Se calhar nós, aqui em Portugal, não fazemos a publicidade que se deveria fazer, como acontece em Espanha. Para fazer publicidade é muito simples, basta fazer uns telefonemas. Nem é preciso gastar dinheiro… Basta fazer um telefonema para a pessoa certa. É aquilo que cá  não funciona …

Eu acho que é importante! Mas não sou eu que tenho de pôr o carro a andar… Eu já fiz a minha parte. O Arte na Leira está aí… Se quiserem aproveitar, que aproveitem. Se não quiserem … eu continuo na mesma! Eu faço isto na mesma! Mas um dia que não me apeteça fazer, não faço e é porque não me apeteceu mais fazer. Às Câmaras Municipais que passaram aqui, sempre abri as portas. A porta está sempre aberta! Uma vez aproveitam, outras não aproveitam, mas a porta está sempre aberta …

De individualidades que aqui visitaram o Arte na Leira, quem esteve presente?

Em anos anteriores esteve Isabel Pires de Lima que foi Ministra da Cultura, os meus amigos, Pedro Abrunhosa, o Toi, o Rui Veloso, Gil do Carmo, o Nicolau Breyner e muitos outros….

PRESENÇAS ASSINALÁVEIS:

Este ano o «Arte na leira» contou com os seguintes artistas: Março Rooth que começou a carreira em  1973; Luiz Coquenao, de Angola e que vive e trabalha na vila de Prado; Jean Pierre Porcher que reside em Portugal desde 1986; Nuno Portela nascido na freguesia de Alheira  em 1971; Manuel Lima da Escola Superior de Belas Artes do Porto em 1973; Elsa César , nasceu em 1947 no Porto  prémio revelação 1995; Dilar Pereira , mestre em desenho desde 2013; Tiago Cruz que atualmente desenvolve  o Doutoramento; Bruno Silvestre nascido em 1976 em Cascais 1976 e com formação digital 3D; Fatima Pitt, professor de educação  visual e tecnológica desde 2005; Hermínia Cândido que expõe desde 1995; Joana Caçador, artes visuais; Jorge Rocha , médico; Lara Lavey; Luiz Paupérrimo , Lurdes Rodrigues que é detentora de vários  prémios de pintura; Marlene Macedo, autodidata que participa em exposições  colectivas; Mario Rebelo, Marta Pereira  que participou na Arte na Leira em 2003  e 2015; Miguel da Silva Rocha , prémio no ano de 2013 em fotografia; Pablo Vásquez Garcia; Teresa Costa , advogada que também se dedica a artes plásticas  nos tempos livres.

‘Arte na Leira’ vai na 17ª edição  e foi idealização por um artista apaixonado: Mário Rocha!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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