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Extinção dos ENVC: A história regista, não esquece e tudo recordará…

Sob o signo da esperança, nasceram em Junho de 1944.

Texto: GFM

Animaram sobremaneira os poderes e as forças vivas locais; mobilizaram as gentes de Viana, com uma relação de afecto sem paralelo; encorajaram o comércio local como jamais tinha acontecido; instituíram a cultura do trabalho com direitos, caso raro nesta região subdesenvolvida, que só tinha como escapatória a emigração; socializaram a comunidade de trabalho que constituíam, construindo, ainda na década de 1950, um refeitório moderno para substituir com vantagens a magra refeição da marmita; instituíram, na década de 1960, as festas e os cabazes de natal e criaram um grupo desportivo e cultural para valorizar social e intelectualmente cada trabalhador; ligaram-se a toda a vida social da cidade, não descuidando ninguém que servisse causas (que o digam o SCV e as Festas d’Agonia).

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Foram em tudo pioneiros: na conquista dos mercados internacionais, ainda na década de 1950, na formação profissional, preparando milhares de operários oriundos do campo e das profissões mais rudimentares em artífices qualificados, que tantas vezes se tornaram donos do mundo; na aplicação de grande parte dos lucros na evolução tecnológica e na criação de meios para proteger o trabalho duro da construção naval; na ponderação com que sabiam apostar no crescimento, alargando e alongado docas e montando novas oficinas para estarem aptos a construir cada vez mais navios sofisticados. Depois, foi a conquista de grande parte do planeta para exportar navios admirados e gabados como construções exemplares, com vivas felicitações para quem os edificava. Durante décadas os ENVC e Viana do Castelo estiveram nas bocas do mundo pelas melhores razões.

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Mas bastou um tempo limitado para que tudo passasse do céu ao inferno. Porquê?

Tudo já foi demasiado escalpelizado. A história é por demais conhecida. Os ENVC criaram-se por gente que só conhecia o trabalho duro, que subiu a corda a pulso, que investiu todas as suas economias para criar riqueza na região.

Quem eram João Alves Cerqueira, Vasco d’Orey, Jacques de Lacerda e os grandes mestres de Lisboa, gente semianalfabeta, mas com um conhecimento técnico incomensurável? Foi esta gente que soube criar um conceito novo do trabalho na região vianense e soube conjugar sinergias para manter e consolidar um projecto que foi a verdadeira alma de Viana.

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Contrariamente, no passado dia 24 do corrente mês, quase de certeza, que foi um apparatchik, um desses moços encartados com o cartão partidário, essa verdadeira praga que desde há muito tempo, para nossa desgraça, inunda o país (consulte-se as redes sociais e veja-se os recentemente nomeados para o conselho de administração da APDL) a dar o tiro de misericórdia na liquidação efectiva duma empresa que faz parte da história da nossa cidade, como seu vulto maior. Só podia ser assim. Esta gente que, regra geral, nunca trabalhou, que se remunera principescamente, que inverte o direito para agradar aos chefes que os nomearam (veja-se o folhetim do navio Atlântida, com a capitulação total ao “príncipe dos Açores”), esta gente está disposta a tudo.

Mas a honra terá eterno valor e jamais deverá ser vendida. É esta mensagem que devemos legar às gerações futuras. Nada poderá ser mais decente, e nada deverá contribuir mais para melhorar a nossa auto-estima do que circular na rua de cara levantada e saudar olhos nos olhos a gente séria, que serão para sempre os nossos melhores amigos. Dos videirinhos não reza nem se ocupará a história.

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