Greve como quem tem cócegas… não há!

José Andrade

É o que parece quererem uns quantos indígenas, pela forma ‘ordeira’ e ‘bobina’ como seguiram os lamentos de certa Comunicação Social, porta-vozes do governo e da associação empresarial.

Ainda a greve dos camionistas de coisas perigosas não tinha passado de um mero formalismo burocrático, e já eram mais que muitos os ‘valentes’ portugueses que desfilavam perante as camaras dos canais de televisão, microfones de rádios e gravadores de jornalistas, tremendo de medo.

Valeu de tudo para aterrorizar o pagode português. Medo. Muito medo. Em doses substanciais, generosas. Nunca os terrores, e temores, tiveram tantos ‘bons cidadãos’ a tremer, e a temer. Desde os cultivadores de tomate, aos taxistas.

Não sei porquê, mas não registaram um único lamento dos cangalheiros. De tudo e de todos, o anúncio de uma greve, recebeu frémitos de incontida indignação. Não era o fim do mundo, mas os setecentos condutores de uma associação que virou sindicato, conseguiram quase o pleno de receios e temores jamais proclamado em tempo de paz. E, para não deixar dúvidas de que o reino das trevas vinha por estes dias ocupar o lugar de Madona no circo nacional, o governo, através dos seus queridos homens instalados na alimentação de ‘cachas’ para a comunicação Social, criou uma ‘campanha negra’ contra o dr. Pardal, consultor e porta-voz dos motoristas, perigosos. Miserável? Claro!, Miserável atitude de gente que se diz socialista, democrata, de esquerda, plural e herdeira das liberdades. Não conheço, nem conhecia o dr. Pardal.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Tão pouco sabia da existência deste Sindicato que nasceu como Associação. Mas sei como funciona o tecido empresarial. Este tecido empresarial que teima em confundir empresário com patrão. E se nos momentos em que a Razão tem de ser usada contra a força, o governo, os poderes, de forma declarada, canina, tomam partido por um dos lados, como foi o caso, é certo e sabido o resultado final. O PS pode ter ganho mais uns votos. Mas quando o indigenato portuga se der conta da trapaça que lhe montaram, o saldo eleitoral pode não ser assim tão elevado. Mas o perigo não está na mentira e temores montados. O perigo, depois deste malbaratar de Direitos e Princípios, democráticos, constitucionais, está aí, ao virar da esquina. Que ninguém se queixe quando a meio da noite a Policia lhe bater à porta! Nem venha gritar que o populismo tem pernas para andar.

Quando me preparava para passar ao papel esta minha contribuição pública, que vale o que vale, um valimento que apenas e só tem como propósito mostrar que ainda existe alguém que não tem canga – para os mais modernaços e urbanos, canga, não confundir com canja, que é um caldo feito com, ou, em a água de cozer aves, canga, é aquela peça, ou aparelho de madeira, colocado nos pescoços dos bois para os emparelhar, quando puxam os carros, mantendo-os submissos – depoimento de alguém, que não aceita a canga, e tem um profundo amor e respeito pela Liberdade, dizia, quando preparava este texto para o Minho Digital, foi com muito agrado que li no Público, desta quarta-feira, dia 21, um texto do meu companheiro das lides sindicais, José Manuel Torres Couto.

Sim, o Torres Couto que foi o primeiro Secretário-Geral da UGT, no tempo em que era complicado defender um sindicalismo Livre e Democrático. Um sindicalismo que não queria a Unicidade Sindical.

Um sindicalismo que apostava no diálogo e concertação social, e na efectiva participação dos sindicalizados nas decisões, mas sobretudo, numa vivência laboral, digna e responsável. E daí a minha participação com ele, com o Torres Couto, e mais uns tantos, que não revejo já à uns bons anos, mas que retenho como bons companheiros de jornada, Memórias de uma Causa e Valores que ainda hoje partilho, mas que hoje estão muito distantes daquelas que nos ‘incendiaram’ na criação da UGT.

Mas este não é, nem o espaço, nem o tempo, nem, muito menos, o ‘muro de lamentações’, para ‘chorar sobre leite derramado’. Fica o registo da satisfação de saber que Torres Couto, amigo Socialista, foi dos que não se ‘trocou’, nem se deixou ‘tocar’, pelo perfume urbano de Lisboa e dos corredores intrincados do poder, e muito menos mostrar medo da ‘máquina’, para vir agora a público, explicando a certos imbecis, o que é a Liberdade, Sindical, Política, Social. Não há greves ‘doces’, nem ‘amargas’. Existe o Direito à greve. Direito Constitucional.

Na verdade, daqui para o futuro, quando se ouvir o Senhor Presidente da República, os governantes, sejam de que coloração partidária forem, os funcionários sindicais de serviço nas distas centrais, a Procuradoria Geral da República, ou outro qualquer daqueles filhos dilectos do sistema, reclamar contra a ‘violação da Constituição’, isso deve ser tomado como mais uma ‘blague’, uma patranha, um gracejo, para não dizer uma peta.

O que se passou, na forma, como no conteúdo, na condução por parte do governo, com a dita ‘requisição civil’, é por no mínimo, criminoso. Que os sindicatos tiveram um comportamento de notória impreparação, é incontestável. O que é inquestionável, é  a aceitação pela sociedade, com a cobertura de uma Comunicação Social. E como o futuro é já amanhã… cá estaremos.

  Partilhar este artigo