Lendas e Mitos do leste Brasileiro: O Caboclo d’ Água

Lenda narrada por Thobaldo Miranda dos Santos, em seu livro “Lendas e Mitos do Brasil”.

No tempo em que os índios Tupinambás  viviam nos sertões da Bahia, um chefe dessa tribo, vizinho dos brancos e conhecedor de sua linguagem, seduzido pelas diversões da cidade, resolveu abandonar sua gente passando a morar  entre os civilizados.

Em vão seus pais, já velhos, tentaram impedir sua partida. Guaripuru – assim era chamado o jovem índio – quebrou seu arco e suas flexas, e tomou o caminho  da cidade. O rapaz seguiu a margem do rio, levando no ombro apenas sua rede  de tucum. Cansado de andar, já de noite, armou a rede nos galhos  de um jatobá e dormiu profundamente.

Ao acordar, pela madrugada, ouviu um canto esquisito, de voz humana. Aproximou-se de mansinho da beira do rio e qual não foi o seu espanto quando viu, de pé, sobre um rochedo, no meio das águas, um homem estranho de longos cabelos negros.

Do outro lado do rio, Guaripuru avistou, através da transparência das águas, uma imensa caverna e dentro dela, uma montanha de ouro, que brilhava como se fosse o sol. O índio tomou cuidado para não ser visto por aquele ente estranho, que deveria ser “Uauiara”, o caboclo-d´água, o pai dos peixes, o terror dos barqueiros.

– Ah ! – pensou o índio – ali é a casa dele, feita com aquela pedra amarela, chamada ouro, que os brancos apreciam tanto ! Vou guardar bem o caminho e serei um chefe entre os brancos, quando lhes apresentar pedaços daquela pedra maravilhosa.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Com tal ideia na mente, Guaripuru entrou na cidade. Não tardou muito que o jovem índio, caçador hábil e guerreiro valente, conquistasse a admiração dos brancos. Tendo-os ajudado a vencer diversas guerras, Guaripuru foi nomeado oficial dos exércitos do Rei e batizado com o nome de Manuel Teles.

Resolveu, então, o índio  comandar uma expedição em busca do ouro do caboclo-d’água. Uma velha índia, sua amiga, aconselhou-o a desistir da empresa, pois seria punido com a morte. Mas o oficial índio não atendeu. E seguiu para a caverna  do “Uauiara”.

Ao cair da noite, a expedição chegou à margem do rio. Mas, na manhã seguinte, desapareceu o seu comandante. Procuraram-no debalde, por toda a região. Os soldados resolveram então, mergulhar no fundo do rio. Lá encontraram, sem vida, o corpo do seu chefe.

Guaripuru fora vítima da vingança do caboclo-d’água.

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Porém, prosseguindo a pesquisa, encontra-se uma outra versão não menos curiosa, e que merece o apreço.

Vejamos o que nos mostra a internet:

Caboclo D’Água

Há muitos anos atrás surgiu em Minas Gerais um caçador. Seu nome era Zé do mato; um sujeito ambicioso que vivia pela mata do interior de Minas Gerais a caçar cobras com a única finalidade de vender sua pele e fazer dinheiro para ostentar nas festas no município de Medeiros onde morava desde que nascera. No entanto, tendo dificuldades na caça devido à intensa proteção de Curupira e caipora, Zé do mato resolveu então se arriscar na bacia do rio São Francisco a fim de caçar jacarés para vender seu couro no mercado negro.

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Certa noite Zé do mato partiu para sua caçada em busca do couro valioso dos jacarés que moram no Rio São Francisco. No entanto, assim que estava se aprontando para sair com seu pequeno barco emprestado por seu tio, que era tão ambicioso quanto Zé e emprestou o barco na condição de reter para si 40 % do valor que ele arrecadasse com o couro dos jacarés, Zé se deparou com um pescador experiente nas águas do Rio São Francisco, que já corria por aquelas bandas por mais de trinta anos e, este vendo o barco de Zé do mato, encostou sua embarcação ao seu lado e puxou conversa, dizendo;

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? É Noite !

E o Zé respondeu, mas sem, no entanto, olhar nos olhos do pescador:

? É Noite.

? Ocê é novo por essas bandas do pai Chico não?

? Sim. É a primeira vez que pego esse rio para caçar, já andei muito por ele, mas nunca para caçar; antes eu caçava cobra no mato, mas ultimamente tá muito difícil de encontrar cobra valiosa dentro dessa mata, parece até que as cobras evaporaram no ar.

? Num é não seu moço. Na verdade, é que nesta época o Curupira e o Caipora intensificam sua defesa dos bicho da mata contra os caçador que só caça pra encher os bolço de dinheiro e não para comer e matar a fome.

? Isso é besteira, é lenda e história que esse povo besta conta por aí. É apenas uma fase ruim, por isso vim pro Rio pegar jacaré; ele com certeza há de me trazer algum dinheiro.

? Oia seu moço, se eu fosse o senhor não duvidava não dessas história, pois eu tô já a mais de trinta anos nessas banda e já vi foi muita coisa do outro mundo por aqui num sabe? Eu vou te dar um conseio de amigo seu moço. Se ocê vai navegar no pai Chico, é mió que ocê leve um pouco de fumo para oferece ao Caboclo D’Água se num quiser que ele vire seu barco e lhe mate afogado. Se ocê num tiver fumo aí é bão então colocar na frente do vosso barco uma carranca pra espantar o fantasma do caboclo, e se ocê num tiver aí uma carranca, é mió ocê colocar em baixo do vosso barco uma faca, pois o aço espanta tudo quanto é monstro do outro mundo.

Zé então olhou com um ar de deboche para o pescador e disse:

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? O fumo eu até tenho comigo, mas não vou desperdiçar jogando-o no rio. Nem carranca e nem faca no casco do barco, a minha defesa é o facão que carrego comigo na cintura, ele sim me protege num é dos monstro do outro mundo não por esses num existe, mas me protege é dos monstro desse mundo.

? Ó moço, o meu conceio foi dado. Eu lhe desejo é boa sorte na sua caçada… Inté!

? Inté – respondeu Zé do Mato.

Zé então partira da nascente do rio São Francisco no município de Medeiros onde morava e seguiu rumo a serra da canastra onde pensava ter mais chances de encontrar um jacaré que pudesse lhe render um bom dinheiro. Zé então subiu rio acima e quando avistou um lugar onde poderia ter jacarés, desligou o motor do barco e pegou sua espingarda segurando-a numa mão enquanto a outra segurava sua lanterna. Zé ficou na espreita durante uma hora só observando o rio correr e esperando aparecer ali um jacaré. Sentado em seu barco olhava de um lado ao outro do rio; até o momento nenhum jacaré aparecera. Zé então resolveu levar o barco ainda desligado para o outro lado do rio; lá chegando se posicionou na espreita para pegar o jacaré. Em silêncio absoluto Zé ficara ali mais meia hora, foi quando de repente Zé sentiu o barco balançar no meio da escuridão da noite regada pelo rio São Francisco.

Zé segurou firme sua espingarda e, olhando o rio fixamente de um lado ao outro, apontava sua arma, mas não via nada. Alguns minutos depois, no entanto, Zé sentiu novamente o barco balançar, só que dessa vez mais forte do que da primeira. Encasquetado com aquilo Zé se enfureceu e, mesmo não vendo nenhum jacaré sobre as águas do rio, disparou com sua espingarda um tiro a esmo no rio. O som do tiro da espingarda assustou muitos animais na mata e também no rio, de modo que se ouvia barulho de bicho por todo lado a correr e a nadar. No entanto, de repente tudo se calou, o silêncio tomou conta da noite com se o tempo tivesse parado; o vento não soprava e as águas não se moviam, e então Zé sentiu novamente o barco balançar, só que dessa vez muito mais forte do que das duas primeiras vezes, de modo que, no susto, Zé deixou sua lanterna e sua espingarda caírem no rio. Quando a escuridão se fez total e a pouca luz que dava a Zé o sentido da visão por causa da lua cheia, iluminou o rio e o barco, Zé viu duas mãos segurarem o barco bem calmamente e, apavorado, Zé se afastou daquelas mãos sombrias e, com os olhos arregalados, ficou a esperar ansiosamente com pavor na alma o que iria subir daquele rio, e de repente Zé viu submergir calmamente da água um ser troncudo e musculoso, de pele cor de bronze e um único grande olho no meio de sua testa, era o caboclo D’Água de que lhe havia falado o pescador no início da noite, mas Zé não acreditou que ele de fato existisse. Assim que Zé viu aquele monstro sair de dentro da água rumo ao interior de seu barco, Zé, afastando-se de medo, tropeçou em sua mochila que estava no barco e caiu. Assim que Zé caiu no interior do barco, o Caboclo d’Água puxou o barco para baixo com toda força e Zé caiu dentro do rio e começou a nadar o máximo que podia, mas de nada adiantou, pois o caboclo D’Água consegue se locomover rapidamente e, nadando por baixo da água, surgiu repentinamente à frente de Zé transfigurado em uma anaconda gigante e assim que Zé a viu submergir sobre as águas do rio arregalou seus olhos de pavor e antes mesmo que pudesse gritar, foi devorado vivo pela cobra.

 

António J. C. da Cunha

Empresário luso-brasileiro no Rio de Janeiro

Natural de Geraz do Minho – Portugal

Academia Duquecaxiense de Letras e Artes

Associado do Rotary Club Duque de Caxias – Distrito 4571

Membro da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade

Membro da CPA/UNIGRANRIO

Diretor Proprietário da Distribuidora de Material Escolar Caxias Ltda

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