Lendas e Mitos do Leste Brasileiro: os Tatus Brancos

“Lendas são narrativas transmitidas oralmente com o objetivo de explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais. Para isso há uma mistura de fatos reais com imaginários. Misturam a história e a fantasia. As lendas vão sendo contadas ao longo do tempo e modificadas através da imaginação do povo.”

 OS TATUS BRANCOS

A Imagem de um tatu branco colhida na internet tem por objetivo ilustrar a lenda comentada a seguir:

 

Foi na época em que os bandeirantes desbravavam os sertões do Estado de Minas Gerais, em busca do ouro.

Um grupo desses aventureiros ficou perdido numa região cheia de furnas e cavernas. Um velho sertanejo que o acompanhava, falou, então, sobre o desaparecimento misterioso de gente das “bandeiras” anteriores. Durante a noite, muitos homens tinham sumido, sem deixar vestígios. Tinham sido vítimas dos Tatus Brancos, índios vampiros, que moravam em cavernas daquela região, e que só saíam à noite para atacar os viajantes.

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A história, apesar de impressionante, não atemorizou os bandeirantes. Eles até riram dos receios do velho sertanejo. E o chefe do grupo, que era jovem e valente, pensou consigo que haveria de desvendar o mistério e descobrir os Tatus Brancos, que ninguém tinha visto, a não ser os que foram por eles devorados.

Os bandeirantes foram dormir. Já era noite alta, quando um sussurro misterioso correu pela floresta. O ruído foi aumentando cada vez mais. O chefe do grupo, que estava acordado, chamou os companheiros. Ficaram todos à espera, de armas na mão. O velho sertanejo aconselhou os rapazes que fugissem o quanto antes, pois eram os Tatus Brancos que se aproximavam. Mas o chefe do grupo se opôs à fuga. Ficariam ali para o que desse e viesse.

Nesse momento, ouviu-se um grande alarido e os bandeirantes foram atacados, com violência incrível, por milhares de índios. Os rapazes reagiram com energia feroz, mas foram vencidos pela maioria esmagadora dos assaltantes. Vivos, feridos e mortos, foram arrastados para uma grande caverna. Ali foram devorados pelos Tatus Brancos.

O único poupado foi o chefe dos bandeirantes cuja juventude e beleza tinham atraído a atenção de uma princesa da tribo.  Ele ficou, porém, prisioneiro no interior da caverna, sob a vigilância da índia. Mas, uma noite, teve a sorte de sair do covil juntamente com os Tatus Brancos.

Sobe o pretexto de não poder correr no escuro, como os índios corriam, afastou-se do bando e deitou-se no chão, fingindo que dormia. A princesa ficou vigiando-o, até que, exausta, adormeceu profundamente. Era o que o bandeirante desejava. Só a luz do dia poderia salva-lo, pois os Tatus Brancos não suportavam a luz.

A madrugada encontrou fora da caverna a salvadora do bandeirante. Despertando, levou as mãos ao rosto, cega pelos raios do sol, e tentou arrastar o moço para a caverna. Só então ele pode vê-la. Era branca e loura. Era linda como um anjo. O bandeirante ficou com pena de abandonar a princesinha. Mas não teve outro jeito. Correu para a floresta, afastando-se, para sempre, daquele lugar maldito.

E a pesquisa na internet sobre a “Lenda dos Tatus Brancos” é continuada e frutífera. São muitas as versões  e de vários autores.

Encontrada a de Maria Rosa Moreira Lima, publicada pelo”. Diário de São Paulo, São Paulo, 9 de agosto de 1975, e transcrita no portal JANGADA BRASIL PONTO COM . Decidi-me pela apresentação. Vale conhece-la:

“A lenda dos tatus brancos”

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 Maria Rosa Moreira Lima 

A lenda dos tatus brancos, na opinião de Afonso Arinos, pertence ao folclore paulista e teve início da seguinte maneira:

Alguns bandeirantes audaciosos, buscando novos descobrimentos, acompanhavam o traçado do rio Tietê e depois de longa jornada resolveram adentrar a mata bravia. Caminharam dias seguidos quando lhes veio a ideia de procurar ouro e pedras preciosas. Dirigiram-se, então, para as terras das Minas Gerais. Desta maneira chegaram a um local desconhecido, onde os campos ficavam perto de cavernas e furnas imensas, escuras, tenebrosas. Apesar do local agreste, as tendas foram armadas para repouso merecido. Acocorados em torno do lume, saboreando alguma bebida, os viajantes escutavam as mais curiosas e absurdas histórias contadas pelos caboclos nativos embora, ao mesmo tempo, insistissem para que levantassem acampamento o quanto antes pelo fato daquela região ser dominada por uma espécie de índios conhecidos como tatus brancos, habitantes das cavernas adjacentes e, enxergando tão bem dentro da escuridão como se tivessem olhos de coruja. Além desta qualidade excepcional, havia uma outra e esta é verdadeiramente de apavorar pois as citadas criaturas davam um valor inestimável à carne humana, preferindo-a mesmo a qualquer caça ao alcance de suas flechas. Além da predileção absurda, tinham um faro especial. Quando sentiam o cheiro do alimento favorito, logo se apressavam para caçá-lo.

O chefe paulista, sendo o mais interessado nos relatos concernentes à sanha antropófaga dos vampiros da tribo dos tatus brancos, prometeu a si mesmo desvendar o mistério. Daí não querer escutar os conselhos do mais experimentado caboclo, cujas palavras eram endossadas pelos outros guias também confirmando casos de pessoas sumidas, provavelmente levadas para as vastidões sombrias e jamais tornaram a aparecer. Mesmo assim, o moço insistia em ficar no local, dizendo somente partir depois de certificar-se quanto à veracidade das histórias contadas por aqueles homens que, embora reconhecidamente valentes, manifestavam grande pavor ao ouvir o menor ruído. Audacioso, o chefe da expedição sozinho começou investigando e, para isso penetrava nas furnas mais tenebrosas, examinando rastros, atento ao mais insignificante rumor.

Certa noite de escuridão cerrada, a tropa descansava numa clareira. O silêncio era profundo, perturbado apenas pelo bater de asas de algum pássaro retardatário buscando o aconchego do ninho. Pouco a pouco os homens foram percebendo um clamor estranho. Eram muitas vozes juntas, inicialmente confusas pela distância mas, aproximando-se rapidamente, enquanto um tropel diferente como se incalculável quantidade de animais pequeninos corressem desenfreados pelas quebradas em direção ao acampamento e, suas vozes, foram discernidas à medida que se aproximavam. Os componentes do grupo paulista puseram-se de sobreaviso com as armas engatilhadas. Súbito, uma horda de pigmeus, saindo da escuridão, iniciou o ataque. O imprevisto do acontecimento impossibilitou uma defensiva eficiente.

Mesmo assim a luta foi renhida mas rápida. Era a força dos homens grandes contra a astúcia e agilidade assombrosa dos assaltantes. Os pequenos seres arrastavam para as trevas os corpos dilacerados e sem vida dos vencidos, inclusive os agonizantes e, nem escapou ao massacre o chefe da escolta. Este, ferido levemente, em companhia dos subalternos foi levado para uma das cavernas dos agressores. Mas aconteceu o seguinte: A princesa da tribo já vira o moço paulista e por ele se apaixonara, propiciando-lhe este fato, o direito de dispor da vida do prisioneiro.

No âmago da caverna o valente bandeirante passa algum tempo desacordado e quando recupera os sentidos vê, junto de si, um pequeno vulto de mulher. Quando seus olhos vão se acostumando às trevas nota e com horror o restante dos companheiros devorados pela horda sinistra que, comemorando a vitória dançavam satisfeitos dando por terminado o banquete macabro. Naquele antro escuro, o detido permaneceu por muito tempo sempre vigiado pela jovem apaixonada. Certa noite a malta assassina parte para os cerrados buscando alimento humano. Aproveitando a oportunidade, o moço deixa-se envolver pela turba apressada dos pigmeus e, sem ser notado, consegue sair também das cavernas mas, sempre vigiado pela amorosa companheira. Enfraquecido, não consegue chegar à saída da gruta e, exausto pela falta de alimentação, sentindo-se desfalecer, faz um sinal para descansar. Deitam-se no chão. Ele apesar de tudo, alimentando a esperança de alcançar a liberdade, finge adormecer, enquanto a jovem a seu lado, é, na verdade dominada pelo sono. Disfarçadamente o prisioneiro atento, aguarda o nascer do sol para ver onde se encontrava e quando os clarões da madrugada iluminaram a terra, levanta-se com muito cuidado e tenta fugir. No mesmo instante a moça acorda e, mal desperta, atordoada com a claridade, num esforço tenta arrastar o homem para o negrume da caverna. E naquele momento de aflição ele conseguiu observá-la. Era uma pequenina mulher e como os seus irmãos, mal atingindo a metade da altura de um homem de baixa estatura, pele clara de quem nunca sentiu os raios solares, os cabelos longos de um louro sem vida. Quanto aos olhos eram de um azul esbranquiçado e ela gemendo procurava conservá-los fechados ou protegê-los da claridade com uma das mãos, enquanto com a outra buscava o companheiro, desta maneira caminhando às tontas como se fosse inteiramente cega. O moço desvencilhando-se da criatura que fazia ingentes esforços para detê-lo, foge em desabalada carreira, daquele local maldito dominado pela tribo dos tatus brancos, considerados os mais ferozes canibais que infestavam aquela região do ouro”. (MARIA ROSA MOREIRA LIMA),

(“A lenda dos tatus brancos”. Diário de São Paulo, São Paulo, 9 de agosto de 1975, transcrita no portal JANGADA BRASIL PONTO COM, 

http://www.jangadabrasil.com.br/revista/fevereiro133/im13302.asp)

 

LITERATURA SOBRE OS ANIMAIS CHAMADOS “TATU”

Sugestão : ASSISTIR

https://www.youtube.com/watch?v=CgrBL2juFPA

Marcar. Copiar . Colar. Assistir no GOGLE.

 

António J. C. da Cunha

Empresário luso-brasileiro no Rio de Janeiro

Natural de Geraz do Minho – Portugal

Academia Duquecaxiense de Letras e Artes

Associado do Rotary Club Duque de Caxias – Distrito 4571

Membro da Campanha Nacional de Escolas da Comunidade

Membro da CPA/UNIGRANRIO

Diretor Proprietário da Distribuidora de Material Escolar Caxias Ltda

 

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3 comentários

  1. Bons tempos em que as conversas podiam ser alimentadas por lendas e mitos. Tempos sombrios hoje não nos levam às magias das cavernas, à imaginação.

  2. Lí as duas narrativas à noite, já pronto para deitar-me. Confesso que fiquei muito assustado e fui deitar com receio de sonhar com os tais dos índios tatús brancos . Belíssima narrativa como já é hábito.,
    Parabéns, mas reveja a primeira palavra do sétimo parágrafo da primeira da versão da lenda.
    Abraços a você e Jacira.

  3. Amigo,

    Meu bisavô, materno, descansa, em paz (?), num cemitério do Rio de Janeiro. Natural de Candemil, de Vila Nova de Cerveira. Morreu, quando aí chegou num barco, para ganhar dinheiro para melhorar a casa. Pai de três filhas, a última, não viu nascer.
    Gostei de ler o que escreve. Não li tudo, e não estou a chatear no MD, concerteza, desde que começou, a Escrever.
    Saúde e escrita, para ler, e lerem…

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