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Monçanenses são campeões nacionais de Pesca à Pluma

Dois jovens de 28 e 26 anos são, respetivamente, campeão e vice-campeão nacional de pesca à pluma. Rui Pereira e Miguel Reis praticam pesca há alguns anos e desde 2006 que se dedicam àquela modalidade. Este ano conseguiram mostrar que o treino e a paciência deram frutos. A falta de apoio e o pouco peixe nos rios monçanenses é uma preocupação daqueles jovens que querem incentivar à pesca sem morte.

 

Rui Pereira vai defender as cores nacionais

Com quatro ou cinco anos Rui Pereira já ia à pesca com o pai. A pesca e a caça foram os desportos de eleição. O jovem conta que inicialmente começou por matar o peixe. No entanto, em 2006 quando teve contacto com a Pesca à Pluma e sem morte encontrou a razão. “Em 2006 graças ao pai do Miguel e a outro colega daqui que nos ensinou e foi a partir daí que comecei a praticar pesca à pluma sem morte”, revela.

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Nesse ano iniciou-se na categoria de júnior. Enquanto esteve neste escalão participou em dois campeonatos do mundo. Um em Portugal e outro nos Estados Unidos. A subida para os seniores foi aquilo que marcou a mudança. “Eu entrei para os seniores em 2008. Até 2012 andava ali meio perdido. Mas isso foi muito importante, porque fomos observando e só nos últimos anos é que nos estamos a destacar. O melhor que me aconteceu foi sair dos juniores e passar para os seniores, porque fui acompanhando bons profissionais”, salienta.

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Depois de ser duas vezes vice-campeão nacional, Rui Pereira conseguiu este ano subiu ao lugar mais elevado do pódio. “Fui duas vezes vice-campeão e à terceira foi de vez”, conta, com um sorriso.

O campeonato nacional divide-se em cinco provas. No final dessas é encontrado o campeão e os representantes da seleção nacional que defendem as cores nacionais nos campeonatos da Europa e do Mundo.

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Rui Pereira foi em outubro à Polónia e participou no campeonato da Europa. A classificação em segundo lugar no campeonato nacional de 2015 permitiu-lhe ser apurado. No próximo ano vai à Eslovénia graças à classificação obtida este ano.

 

Miguel Reis trocou futebol pela pesca

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A pesca fazia parte da vida de Miguel, mas de forma pontual. A paixão do pai tenta ser-lhe incutida, contudo Miguel Reis estava mais voltado para o futebol, embora pontualmente fosse à pesca. “Quando se começou a praticar a pesca à pluma na nossa zona comecei a aprender e na altura começamos a treinar e a aprender esta técnica e a partir daí foi sempre a crescer até hoje. Nunca pratiquei muita pesca talvez por desconhecer e também porque praticava outro desporto e tirava-me muito tempo para me dedicar a esta modalidade. Mas pouco a pouco fui descobrindo e melhorando. E fui-me apaixonando por esta modalidade”.

               

Este ano deixou o futebol e está inteiramente dedicado à pesca e o resultado foi subir dos 9º e 10 º lugares no campeonato nacional para segundo. “Todos os anos existe um campeonato nacional. E os quatro primeiros classificados apuram-se para representar a selecção no ano seguinte. Para mim esta foi a primeira vez que tive uma classificação tão boa. Costumava ficar no 9º ou 10º lugar”, revela o jovem.

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Com experiência desportiva, Miguel Reis defende o treino para a conquista de bons resultados. “Como em todos os desportos temos de treinar muito. O ideal seria treinar nos locais onde vamos ter as competições, mas por vezes, devido às deslocações, não é possível. E então treinamos nos rios que estão mais próximos”, refere.

Com oscilações ao longo das cinco provas, Miguel Reis terminou a 17 de julho no rio Alva em segundo lugar a nível nacional. O vice-campeão nacional está disponível para ajudar quem quer começar a praticar a modalidade. No entanto, aconselha a quem quiser a inscrever-se nas competições. “O melhor para as pessoas é entrar para as competições. As pessoas recebem muito bem os novos pescadores e por observação aprende-se muito”. Paciência e treino são outros segredos para atingir bons resultados.

 

Condições do rio influenciam prova

Com as provas a acontecer no rio Coura (Paredes de Coura); Vez (Arcos de Valdevez); Zêzere (Covilhã); Lagoa Comprida (Serra da Estrela) e no rio Alva (Arganil), as provas são diferentes umas das outras. “Consoante o rio há muita variação”, informa Rui Pereira. Lamentando que os rios monçanenses tenham escassez de peixe. E a falta de apoios para conseguirem ir treinar aos rios onde decorrem as provas. 

“As provas decorrem em rios concessionados, porque assim a Federação reserva essa concessão para a prova e temos a certeza que mais ninguém vai lá pescar para se conseguir desenvolver com naturalidade a competição”, diz Miguel Reis. Rui Pereira acrescenta: “E de uma forma justa”.

Com as condições do rio, meteorológicas e até a vontade da truta a influenciar a prova, Rui Pereira não tem dúvidas em afirmar: “Este é um tipo de pesca, que o clima, o caudal do rio têm muita influência e pode alterar totalmente. Podemos ir lá fazer um treino e acharmos que estamos preparadíssimos e ao chegar o dia da prova, por alguma razão, as coisas não correm bem”.

Miguel Rei vê nisso o interesse da modalidade. “Isso também é o curioso para a nossa modalidade. O sermos capazes de dar a volta naquele dia. Daí que quanto mais nós treinarmos mais vamos conhecer as diferentes situações que podemos enfrentar”, revela. O campeão nacional complementa: “E depende muito das trutas. Quando dá para amuar (risos). A pesca à pluma é pesca sem morte e só vale medir trutas. Aprendemos muito, porque a maior parte das pessoas que pesca mata, mas nós não fazemos isso”, assegura Rui Pereira. Garantindo que até nos treinos mantém a postura de ser sem morte. “Outra coisa que queremos incentivar é a pescar sem morte. O que vemos é as pessoas irem à pesca tirar 10 ou 20 trutas e depois vai tudo para a arca e passado uns tempos vai tudo para o lixo”.

 

Modalidade cara

O equipamento, as deslocações para treinos e para provas levam os dois monçanenses a afirmara que “é uma modalidade cara”. “Esta é uma modalidade cara. O equipamento e a participação em provas tornam-se dispendiosas e depois não temos muitos apoios”, manifesta Rui Pereira.

Para o vice-campeão a falta de apoios é também prejudicial à entrada de mais gente na modalidade. “Se houvesse apostas a nível dos municípios, acredito que havia mais apoios. Nós até agora estávamos no Clube de Pesca dos Arcos”.

 Apesar de serem monçanenses, o campeão Rui Pereira e o vice-campeão estavam filiados no clube de Pesca de Arcos de Valdevez. O mesmo acontecendo com outros pescadores locais. O primeiro continua ligado àquela associação, mas Miguel Reis transferiu-se para o Clube de Pesca criado na Associação de Jovens de Longos Vales. “A Associação de Jovens de Longos Vales criou um clube de pesca e queremos cativar e ter algumas condições para impulsionar a modalidade. Vamos organizar várias formações para incentivar à prática. Vamos tentar ter mais apoios”, conta o também membro daquela associação.

 

Monção terra de campeões

Rui e Miguel juntam-se a outros monçanenses já premiados na pesca. “Monção já teve o Tó Zé que já foi três vezes campeão nacional. O meu pai já foi campeão nacional de outra modalidade. O Almerindo também. O Aleixo já foi campeão nacional”, dizia Rui Pereira.

A qualidade dos rios monçanenses e o facto de não serem concessionados têm levado ao afastamento das provas da região. “Nós temos rios fantásticos, o Mouro e o Gadanha. Vêm pessoas de outros países aqui visitar e ficam encantados com os rios, mas quando vamos mostrar vemos que não há peixe e o que tem é muito pequeno”, diz Rui Pereira. Acrescentando: “Monção já chegou a ter provas do campeonato nacional no rio Gadanha. Agora nesse é impossível. Além de estar todo sujo. É impossível pescar com a vegetação que existe”.

Para Miguel Reis a falta de peixe deve-se também à inexistência de repovoamentos. “A falta de peixe deve-se a essa cultura de apanhar, mas também à falta de repovoamentos nos rios. Antigamente havia esses repovoamentos e mais controlo do rio. Agora não se faz nada”.

A falta de bons exemplares nos cursos de água local levará muitos jovens a desistir. No entanto, Rui e Miguel falam de uma mudança de comportamento. “Na minha opinião, aqui em Monção cada vez há mais jovens interessados nesta modalidade. Fiquei impressionado no ano passado a quantidade de gente que começou a pescar. As pessoas que antes até gozavam por ir à pesca agora dedicam-se a essa área”, conta Rui Pereira.

Miguel Reis apela a quem quiser aprender a juntar-se ao clube que a Associação de Jovens de Longos Vales criou. Adiantando que a captação de novos elementos para a modalidade se faz: “Conhecendo casos de pessoas que se divertem e mostram que a pesca é uma diversão e exemplos de bons resultados é positivo. E isso trará pouco a pouco mais gente. É uma modalidade que está a crescer em Portugal”.

Pesca à Pluma

A pesca à pluma (flyfishing) ou pesca com mosca tem como base a utilização de moscas artificiais como isco base de captura. Nesta técnica de pesca está presente a devolução do peixe à água, ou seja, é uma pesca sem morte.

Nas provas faz-se uma dupla de pescador e controlador. Este último é o responsável pela medição das capturas. O pescador tira a truta e a partir do momento que a truta é apanhada não é possível tocar com a mão. Tem de vir diretamente para a rede.

O controlador mede-a e volta a devolve-la à água. No mínimo terá de ter 15 cm. O essencial é que a truta seja manuseada com cuidado. E se for assim poderá ficar quatro a cinco minutos fora da água. 

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