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Santa Casa da Misericórdia em Ponte da Barca, uma polémica institucional!

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A instituição que conta com mais de 435 anos de história está, atualmente, “no olho do furacão”. O Provedor Honorário António Eiras Bouças (médico de medicina geral), levanta a questão da apresentação do espólio exibido pela atual Mesa Administrativa da Santa Casa da Misericórdia, na cerimónia de comemoração dos 270 anos da instituição  estar, alegadamente, desaparecido há mais de quatro décadas. O Provedor atual Rui Folha, defende a exposição e garante que todas as peças estão inventariadas, e mais – pertencem e sempre pertenceram à instituição. O Minho Digital obteve, em primeira mão, as declarações dos dois visados.

António Eiras Bouças, que foi Provedor da instituição durante quinze anos, garante que grande parte do espólio apresentado pela atual Mesa Administrativa tinha desaparecido há mais de quatro décadas. “Muitos dos barquenses que hoje em dia têm 50, 60 anos, nasceram nesta casa. Todos nós tínhamos noção de que haveria um grande espólio de material, sobretudo cirúrgico, da época, mas que, infelizmente, tinha desaparecido. Pura e simplesmente desaparecido!” – afirma.

O Provedor Honorário explica que depois do edifício ter passado por sucessivas remodelações “não terá havido o devido cuidado em proteger as peças e, quando eu assumi funções, tentei recuperar algumas dessas peças, mas consegui um número ínfimo. O resto, tinha simplesmente desaparecido”, garante.

O médico ficou surpreendido quando, no passado dia 29 de dezembro, no âmbito das comemorações dos 270 anos do Hospital da Misericórdia, encontrou uma grande amostra de materiais cirúrgicos, obstétricos e livros da época. “Aquando da abertura da exposição – confesso -, fiquei surpreso quando me deparei com a existência de um enorme espólio. Surpreendeu-me pela positiva ver todas aquelas peças mas, paralelamente, suscitou a minha curiosidade, porque durante muito tempo eu fiz um esforço para saber do paradeiro deste material, e agora, quase miraculosamente, as peças apareceram”.  

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António Bouças garante que o dia da exposição confrontou o atual Provedor, Rui Folha, com o facto das peças estarem ali expostas e explica que “nesse dia mostrei a minha surpresa – e desagrado – ao atual Provedor e aconselhei-o a não abrir a exposição porque, ao fazê-lo, estaria de alguma forma a branquear um ato ilícito de posse de peças que nunca foram doadas, nem vendidas, e ao abrir a amostra estaria a licitar o dito proprietário”.

Por sua parte, o atual Provedor, quando questionado acerca da possibilidade deste material ter estado desaparecido e agora fazer parte desta vasta exposição, comentou que “nesta exposição existem mais ou menos 550 peças. Todas elas inventariadas. Acho insólito que o senhor Provedor Honorário venha agora questionar a existência destas peças. Elas sempre existiram. E esta exposição foi feita com o trabalho e investigação da equipa de Património, Cultura e Comunicação que ele próprio ajudou a criar no seu mandato”. Folha questiona ainda o Dr. Bouças “que foi Provedor durante 15 anos e, por isso, pergunto o por quê de só agora trazer este assunto à baila. Se houve alguém que devia ter apurado responsabilidades foi ele!”

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No contraditório, António Bouças explica que “a minha reação e atitude prendem-se com uma única questão: as peças que estão agora expostas vão ser restituídas ao dito colecionador e assim, definitivamente, limitar a sua posse? Ou será que as peças ficarão na instituição? Que, ao meu ver, assim deve ser. Por isso, a minha comparação com o caso Tancos. Esta situação faz-me lembrar aquele episódio”, declara.

Entretanto Rui Folha, garante que “acho um desrespeito para com a instituição e mais ainda com a equipa, esta comparação com o caso Tancos, um episódio tão negativo. Fico triste com o facto de uma instituição com tanta riqueza a nível de património e história esteja a ser vilipendiada desta forma”. Garante, ainda, que “efetivamente houve algumas instituições, nomeadamente farmácias e a Santa Casa da Misericórdia da Povoa do Lanhoso, que nos emprestaram alguns dos artigos que estão nesta exposição, mas o resto está devidamente inventariado e foi encontrado nas instalações da Santa Casa da Misericórdia e no sótão do Lar Condes da Folgosa. Por isso, no fim da exposição (a 31 de janeiro) ficará na nossa posse, como é de direito”, asseverou.

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António Bouças garante que trouxe estes factos à opinião pública “com toda a legitimidade que me assiste como Provedor Honorário da instituição e também como Barquense. A atual Administração não teve responsabilidade da perda destes objetos – na altura -, assim como eu também não tive, mas agora sim, têm a responsabilidade de tentar averiguar e encontrar a melhor solução para não lesar o património de todos os barquenses. Isso é o essencial”, frisou.

Para o Provedor, Rui Folha “nós devemos fazer o nosso trabalho e não assobiarmos para o lado. Sob pena de amanhã também sermos acusados de não ter feito nada sobre os assuntos que aparecem. Por isso, a minha admiração! O Dr. Bouças foi Provedor 15 anos e as peças já existiam. Muita delas, no seu gabinete”, garante.

Garante no seu depoimentoa que “tudo aquilo que está nesta exposição é material que está cá e, como é obvio, vai cá ficar. Todo ele está catalogado e inventariado. Para mim, tudo isto é um desrespeito pelo trabalho da equipa que ele – na altura – ajudou a criar. Estas pessoas fizeram um trabalho desprendido, mas sério, e que o Dr. Bouças com as suas atitudes simplesmente desrespeitou”. E, a concluir, acusa que “este ataque não é para com a Mesa Administrativa, nem com a minha pessoa (Provedor), acima de tudo é com a instituição secular e cheia de história e património. Havia melhores maneiras de tentar arranjar palco. Não desta maneira”.   

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