Editorial

Ler nem sempre é o melhor remédio!
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Damião Cunha Velho

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Ler tem de ser como um desporto, ou se faz por gosto ou não se faz.

Não deve ser uma obrigação, mas uma escolha, tal como um atleta quando opta, livremente, por ir ao treino ou um comum mortal ir ao ginásio todos os dias. Se bem que os gostos também se educam, com os devidos limites.

Conheço quem leia compulsivamente, por gosto. A mim, acontece-me passar dias a fio a ler e mesmo fazendo-o com prazer, acreditem, não sou mais feliz do que quem nunca pegou num livro. O mundo está cheio de letrados frustrados e de poetas suicidas. E de incultos felizes que até escrevem livros.

Portanto, ler nem sempre é o melhor remédio!

Só o é, se esse esforço for moderado. Aliás, como em tudo na vida.

Apesar das recorrentes solicitações para se ler, não me parece boa ideia estar obcecado por uma coisa e fazê-la com um esforço excessivo durante muitos anos, seja um esforço físico ou intelectual. No caso da leitura, um esforço intelectual, pelo facto de não ser sinónimo de felicidade, como já referi. No caso de um esforço físico, por não ser amigo da longevidade. Não me lembro, por exemplo, de um jogador de futebol ou de um corredor de fundo viverem até aos 100 anos de idade. No caso de um esforço simultaneamente físico e intelectual como é o de um ator porno, que tem de decorar textos complexos e reproduzi-los com suor, também não é uma prática especialmente saudável, apesar de este durar mais tempo do que o futebolista e o corredor de fundo. Tudo profissões de desgaste rápido, pelo dito esforço exagerado, sendo que umas desgastam mais do que outras. Dos exemplos citados, um pouco menos de desgaste no caso do ator porno, para bem da sétima arte!

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Fazer sempre a mesma coisa com elevada intensidade durante muito tempo, até pelos exemplos citados, já deu provas de não ser uma boa prática a seguir para quem quer partir tarde e feliz.

Ler é igual. Estar constantemente a ler dá uma visão mais complexa e subtil do mundo, porém não torna o leitor mais feliz. Afinal, a felicidade provém de coisas naturais e simples como comer, beber, caminhar, dormir, apanhar sol…

Enfim, um sem fim de comportamentos elementares, básicos, relacionados sobretudo com as nossas necessidades fisiológicas, que se têm mantido ao logo da história da humanidade, desde que o homem se conhece como tal até aos dias de hoje e sem as quais a vida dos seres-complexos-humanos não seria possível.

A felicidade não existe, mas às vezes acontece, como diria o saudoso David Mourão-Ferreira. Digam-me quem nunca sentiu uma felicidade enorme e aliviante, ainda que fugaz como todas as felicidades, quando encontrou finalmente, em desespero, uma casa de banho?

Agora, imaginem estar nessa aflição, entrar num WC VIP, com livros e outros perfumes, e no “durante” deparar-se com o best seller “Pra Cima de Puta” da Cristina Ferreira?

É que hoje entrei numa casa de banho assim, aflito, a suplicar aos deuses um pouquinho de felicidade, e pensei: uma merda nunca vem só!

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