A Recusa (7)

Comunhão.

– Meu querido Ulri, tenho aqui ao meu lado a mulher do teu amigo Valentin Ivanov, diz que não tem notícias do marido desde que daqui o levaram!

– Minha amada Leninha, penso que o Ivanov está cá, digo isto, porque ele veio comigo. Já falei com alguém do comando para o encontrar…

– Ulri, sabes, A mulher dele todos os dias vem falar comigo, não fala noutra coisa senão no marido, e chora, chora, coitadinha anda muito triste… vê se sabes alguma coisa!

– Sabes Leninha, meu amor, quando os militares me foram buscar a casa, tu tinhas ido ao padeiro, eu supliquei-lhes que estavas a chegar e se não se importavam esperavam mais um pouco para me despedir de ti, embora me dessem uns minutos, não me deram o suficiente, fui obrigado a obedecer, levaram-me para o jeep e ao entrar, já lá estava o meu amigo Ivanov. Depois de ter cá chegado separamo-nos, nunca mais o vi…

– Meu amor, ela está aqui ao meu lado, desesperada, quer te dar uma palavrinha…

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

– Agora não, diz-lhe que eu vou com urgência saber do Ivanov, prometo saber dele, que fique tranquila, já dei instruções para o encontrar, não tarda muito a receber notícias. Vou ter que desligar. Fica bem meu amor. Beijinhos.

– Ulri, meu amor tenho muitas saudades… Deus te proteja, meu santo.

 

No dia seguinte, no gabinete dos oficiais recebe a visita da enfermeira Toskaia.

– Sra. Enfermeira olhe como tenho a mão e o braço! Estou em sofrimento, tenho um zumbido na cabeça e nos ouvidos, sinto dores! – Lamenta-se o Comante Ulrich.

A enfermeira não diz nada, observa com as suas mãos a mão e o braço do Comandante.

– O Sr. Comandante parece ter uma rotura de ligamentos, deve pôr imediatamente gelo. Para as dores, nomeadamente para a cabeça e ouvidos vou-lhe receitar uns comprimidos.

– Sra. Enfermeira, gelo foi o que eu fiz durante uma hora. O que lhe parece, vou ficar com o braço durante uns dias sem poder fazer nada… – num tom suave pergunta o Comandante.

– Sim, talvez dois, no máximo três. Continue a pôr gelo, isso passa depressa. – Responde não como enfermeira, mas como militar. – Isso passa.

PUB

w

No seu gabinete, Ulrich está com a enfermeira a sós, condição que permite fixar os seus olhos nos olhos dela, motivo que num relâmpago a observa por inteiro; simpática, cortês, cabelo repuxado atrás num formado de trança descida sobre a coluna vertebral, corpo esbelto, a rondar os quarenta, quarenta a cinquenta anos…

– Sra. Enfermeira como quer que a trate?

– Toskaia.

– Toskaia, desculpe a minha curiosidade, tem uma profissão tão digna quanto humana, já sei que está cá neste meio por vontade própria, é voluntária porquê?

– Sr. Comandante, essas coisas são muitos pessoais, mas como é uma pessoa instruída… primeiro porque quero ajudar os combatentes que integram a “operação especial” …

– “Operação especial”! Esquisito, ainda não sei o que é isso de “operação especial”! Aliás ainda ninguém se dignou explicar-me…  são exercícios militares? – Um tanto ou quanto ingénuo, argumenta Ulrich.

– Pois, o que eu quero dizer é ajudar os combatentes na linha da frente, desnazificar o povo ucraniano e recuperar a soberania da Ucrânia.

– Curioso, que eu saiba a Ucrânia é um país independente e soberano se é nazi, desconheço…! – Argumenta Ulrich educadamente com a intenção de se acercar melhor de toda aquela trapalhada extremamente confusa…

– Esse assunto é geracional…. Faz parte duma tradição de família. Eu sou bisneta de um herói, Vassili Grigoryevich Zaitsev, soldado russo, que se notabilizou na segunda guerra mundial contra os alemães. O meu pai foi tenente do exército Bielorrusso. O meu marido morreu em combate na libertação da Crimeia. Portanto, como vê está no sangue.

– História aliciante a sua! Gosto, quero ouvi-la mais vezes…Não menos aliciante está a ser a minha; um homem que não fez serviço militar, não percebe rigorosamente nada destas coisas, nunca teve uma arma na mão, enfim, com a idade que tem é um inútil e ainda querem fazer dele um comandante, no mínimo, não acha isto anedótico?

– Sr. Comandante, continue a pôr gelo, amanhã volto a visitá-lo.

 

Acho que fui longe de mais, a situação está muito tensa… sinto que há bufos por todo lado, a minha curiosidade vai trazer-me problemas, suspeito que vou ter represálias… daqui em diante é melhor pensar bem com quem falo e o que digo antes que me dêm o xeque mate, já que aqui estou e estou, devo ser cauteloso com a minha sagacidade e engenho…  Grande balbúrdia! Muita calminha. – Pensa Ulrich lá com os seus botões…

 

Continua no próximo capítulo.

 

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida  total ou parcialmente por quaisquer meios, sem autorização escrita do autor.

  Partilhar este artigo

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *