BICADAS DO MEU APARO: Musculatura e vigilância

Artur Soares

Escritor d’ Aldeia

 

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Há pouco mais de uma semana soube-se na praça que o Ministério Público (MP) mandou seguir/espiar dois jornalistas para conhecer as fontes de informação que os perseguidos obtiveram em relação à operação E-Toupeira. A Procuradora-Geral da República, Lucília Gago, anunciou processo de averiguações para saber até onde cavalgou o MP.

A protecção do sigilo das fontes jornalísticas é possível, porque em prol das liberdades de expressão e de informação, as quais são elementos essenciais para a existência de um Estado de direito democrático. Tal atitude de mandarem espiar quem informa o povo e serve a democracia, só podia ter partido dos mandantes “virtuosos” do Ministério Público – da esquerda socialista que governa.

Se foi verdade que Salazar aproveitou no seu tempo a Censura, convém não esquecer que foi a I República de 1910 que a modernizou, lhe deu profundidade, longevidade, poderes e a fez crescer. Esta III República, principalmente a República dos socialistas, nunca a deixou induzir em côma. O partido socialista, sempre soube agarrar-se aos restos mortais da Censura em Portugal, caminhando pelos caminhos da não-censura-visível, mas impondo a sua democracia e a musculatura à sociedade que diz representar. E quem desconhece a frase de que “quem se meter com o PS leva”?

Os caminhos duvidosos que o partido socialista tem percorrido em relação às liberdades de expressão e de informação, sempre que tem sido Governo, as suas histórias negativas são várias, tiveram os seus malefícios e fazem lembrar as “amplas liberdades” de que falava Álvaro Cunhal: que eram as liberdades da então União Soviética, da democracia de Cuba, da China ou da Coreia do Norte, etc.

Ora os socialistas em Portugal (e social-democratas lá fora), não calaram/arredaram o cartunista Augusto Cid do seu trabalho, pelo humor que imprimia nos seus cartoons? Herman José não teve de procurar outro canal de televisão para dar os seus espectáculos, porque falando de facetas negativas sobre os reis de Portugal, equiparava-as a facetas de elementos socialistas? O actual presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não teve de mudar de canal de televisão também, aquando das suas análises políticas, porque “era pouco tolerante” com o Governo de José Sócrates? Quem não conhece o afastamento da televisão, da jornalista Manuela Moura Guedes, por Sócrates também, que iam levando a jornalista à loucura? Quem esqueceu as aulas de política, programadas e a serem dadas por Jaime Nogueira Pinto, e que foram boicotadas por “democratas atentos” do BE e que o Governo PS de António Costa abençoou? Quem deu ordens a todos os Comandos de Bombeiros, de que “só o Governo decidirá o quê e quando informar o país”, quanto aos relatórios dos fogos em 2017? Não foi o Governo, actual? Quem esqueceu ainda a vergonhosa censura aos trabalhos jornalísticos de Sandra Felgueiras, que eram vistos sob a rubrica “Sexta às Nove”, que deu origem a mais de dois meses de suspensão e à queda da directora-geral de informação, porque tal programa incomodava o PS? Recentemente, em Fevereiro passado, a jornalista Ana Leal, não afirmou ao jornal Sol que o PS “fazia pressão junto dos jornalistas para que calassem certas notícias que lhe eram adversas”? Que solução deu o Primeiro-Ministro a estas afirmações? “Despeçam-na”.

Sabe-se que o jornalista é atento ao seu mundo e é, naturalmente culto. Tem como não podia deixar de ser uma opinião política que democraticamente tem de ser aceite, desde que não colida com a ética da sua profissão. Mais: o jornalista que preza a sua profissão, não transmite ideologias, mas esmiúça acontecimentos, a verdade e pode ser um educador. Sabe-se também que há jornais, televisões e jornalistas que se alimentam de escândalos, do derrube daqueles que não gostam, porque vivem convencidos que só o que é morto ou que o está em vias de apodrecimento, lhes dá vendas e sobrevivência.

Um escritor americano escreveu em 1950, que “silenciar uma opinião é roubar a humanidade do seu mais valioso património, pois se essa opinião estiver certa perdemos uma oportunidade de corrigir a nossa própria opinião, e se essa opinião estiver errada perdemos a oportunidade de denunciar a sua falsidade”.

Ora o sério jornalismo deve combater o sensacionalismo, não deve usar da boa-fé dos outros, não deve humilhar e perturbar quem quer que seja e nunca nada deve esconder se estiver em causa o bem público. Pelo que, qualquer Governo democraticamente eleito, nunca terá o direito de reduzir a liberdade de expressão, de fazer pressões ou de usar a musculatura política, para que o ideal de informar não seja manobrado ou afectado. Neste assunto de liberdades – pela sua história –  o partido socialista português tem défice, é paupérrimo.

 (O autor não segue o novo Acordo Ortográfico)

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