Editorial

Crónicas de Trazer por Casa: De vez em quando as dúvidas surgem-me
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Zita Leal

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Zita Leal

Professora

Aposentada

O nosso dia a dia faz-se de altos e baixos, avanços e recuos, sorrisos e dores. É assim, sempre será assim. E em certos momentos dizemos “ quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães “, frase em que não me revejo. Gosto de uns e outros, mas nestes dias de cheiro a canela, de luzinhas nas árvores, quem me encanta mesmo são as crianças.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Entretanto assalta-me muitas vezes esta dúvida: devemos alimentar-lhes a ilusão de um Menino ou de um Pai Natal a oferecer brinquedos, “ coisinhas boas “ como prémio de se terem portado bem durante o ano todo? E aqueles que o Pai Natal, ou o Menino ignoram, sem motivo de castigos ao mau comportamento? Encontro argumentos variados, mas as dúvidas continuam. É que as crianças acreditam mesmo no milagre do sapatinho e reagem muitas vezes mal quando descobrem o engano.

Há dois meses atrás, contava eu a história da Menina do Mar de Sofia de Melo Breyner a meninos de seis e sete anos. A certa altura falei do polvo que como tem oito braços ajudava a menina nas tarefas de casa e brincando com as palavras, disse “ Ai que jeito me fazia um polvo destes em casa… Grande ajuda ele me dava… “ Comentário de um garoto gentilmente solidário:

– “Ó Zita, queres que eu peça ao meu pai que apanhe um para ti? Ele pesca muitos e se calhar não se importava de te dar um para te ajudar a limpar a casa.”

Sensibilizei-me com a oferta, engoli uma lágrima estupidamente a saltar-me dos olhos e lá lhe fui agradecendo, mas que este polvo da história não era bem como os polvos normais, etc, etc. A história continuou sem eu me armar em parva para não confundir mais os miúdos e no final a eterna dúvida: será legítimo mascarar a realidade no espírito crédulo de uma criança?

E como estamos no tempo dele assaltou-me de novo a dúvida de trazer ou não o Pai Natal a satisfazer os pedidos infantis. É que ainda hoje recordo o desgosto de menina que viu as pernas do Pai Natal com umas calças pretas vestidas e que fugiu assim que me viu. Mais tarde percebi que era o pai com as calças pretas da farda de empregado do Casino Oceano da Figueira da Foz. Isto aconteceu há setenta e cinco anos atrás e não esqueci ainda a desilusão.

Será bom ou mau contar a verdade desde cedo?

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