Dependentes

O recente surto pandémico que afectou Portugal e o mundo, veio por a descoberto demasiadas fragilidades que jamais imaginava-mos poder vir, alguma vez acontecer. 

 

Ficamos sem chão, fomos reduzidos à nossa incapacidade de lidar com o imprevisto.

E, porque não, à nossa insignificância?

O homem achava que dominava o mundo, com um simples clique, num computadora, e, afinal, fomos todos dominados, encerrados, com fronteiras fechadas, durante dois anos. Ficamos cheios de medo, sitiados, por um vírus mortal vindo da China.

Todos os dias, dezenas de milhares de pessoas, morriam.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

 

Este, sério aviso, podia e devia ter tido o condão de, uma vez por todas, pôr os líderes mundiais, a repensar, concretamente, a vida do seu povo, que lideram, e a de 8 mil milhões que compõem o mundo. Recentrá-los com tudo o que os rodeia e estarem atentos a todos os sinais que, países extremos, com os dados que se nos oferece ver quotidianamente, apontam.

Pelo menos, ao nível das grandes nações, poderosas, com regimes ditatoriais e extremistas.

Só a origem do vírus já devia ter sido o suficiente para que, o mundo livre e democrático, ficasse de sobreaviso. Mas os negócios, continuam a pesar mais do que a paz e a ordem no mundo. Continuam a pôr demasiados ovos nos mesmos cestos.

 

A Europa e o mundo vivem uma crise de lideranças. Não há, neste momento, personalidades influentes, em democracia, com capacidade de liderança, com espessura e intelecto, para além daquela que se vê na espuma dos nossos dias.

O que temos assistido, no Reino Unido, é um exemplo claro e evidente dessa mediocridade.

Falta de visão global, do amanhã, de pensar o futuro sem estar a governar, permanentemente, com um olho na folha das sondagens. Governar, sem peias, dentro do contexto constitucional, mas com os olhos postos no bem-estar das pessoas, no meio ambiente e nas futuras gerações. Este devia ser o caminho, e não a perpetuação no poder com mediocridade.

Isto, pressupõe ter e fazer planos a médio e a longo prazo, ter uma cultura de execução empresarial, que seja transversal a toda a classe política.

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Fazer acordos políticos maioritários e abrangentes, tendo em conta a efectiva realização dos mesmos. Não estar permanentemente no faz e desfaz, que assistimos, nas paragens meramente ideológicas de obras importantes e estruturais, sem nenhuma justificação, apenas e só porque não são da sua autoria.

O que realmente interessa às pessoas, ou à vida industrial e empresarial, comercial, ou outra, ou ao país, é que o mundo flua equitativamente e de forma harmoniosa e justa.

Dizer que, governamos de acordo com o voto que nos foi dado, é o maior embuste em democracia. Em qualquer país, é residual o número de eleitores que lêem e compreendem os programas eleitorais.

Mesmo assim, há tanta coisa feita e desfeita, posteriormente, nunca sufragada pelos eleitores.

A invasão da Ucrânia pela Rússia, foi outro aviso sério e para o qual, ainda, não sabemos que consequências vai ter. Evidenciou, contudo, outra vez, as nossas fragilidades e dependências a vários níveis. Muita coisa se podia ter evitado, desde logo, como o carinho dispensado à Rússia desde o início deste século. Ela soube-o aproveitar muito bem.

 

Não vejo as lideranças terem iniciativas para se livrar, minimamente, de algumas das dependências. Há uma evidente falta de solidariedade entre nações, ou dentro da UE. Não conseguem olhar, para além, da biqueira dos sapatos, concentrados que estão no seu egoísmo nas sondagens e imagem. Governar devia ser feito com sentido nobre de missão, de servir o seu país e o mundo, mas é, antes de mais, para muitos, um emprego bem remunerado e que lhe alavancará uma agenda promissora.

Há demasiados perigos à solta vindos de países gigantes como, por exemplo, a China. Este país decide de forma arbitrária, ditatorial, mas subtil, e a seu prazer, o futuro de 1.412 biliões de habitantes, com ideologias ditatoriais, canhestras e perigosas, inimigo de toda e qualquer liberdade, desconhece a democracia. É um país sem deveres nem direitos.

Atrás de si, há um rasto enorme de sangue humano. Na China, não se sabe onde acaba o Partido Comunista Chinês e começa governo. Quais são as empresas privadas ou governamentais. É um país enorme governado por um só homem. Um ditador perigosíssimo.

E será deste país que virá a maior ameaça à paz e à ordem mundial, ao mundo civilizado, democrático.

 

O mundo em geral, e a Europa em particular, depressa se esqueceram do que foi o horroroso massacre levado a cabo por soldados na Praça Tiananmen, ou Praça da Paz Celestial, local em que largos milhares de estudantes, provenientes de 40 universidades e também jornalistas, se juntaram durante seis semanas, para protestar, pedindo, apenas, democracia, liberdade, ou pelo fim da endémica corrupção.

Foram, no dia 4 de Julho de 1989, metralhados, esmagados por blindados, pondo um ponto final aos protestos. As imagens televisivas estão por aí.

É assim que os ditadores dialogam com o povo. Nós, temo-nos posto a jeito.

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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