O que seria hoje Paredes de Coura sem o festival?

Miguel Nogueira

O que seria hoje Paredes de Coura sem o festival?

 

Começa daqui a poucos dias uma edição mais do melhor festival português de música rock que se realiza actualmente em ambiente rural. A consistência e a coerência que outros não foram capazes de ter (Vilar de Mouros à cabeça, que começou a delapidar na década de 90 uma das marcas nacionais mais carismáticas no que diz respeito a eventos musicais), são a imagem de referência do Paredes de Coura.

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Por várias razões: o facto de manter ao longo destes mais de 20 anos os mesmos elementos a organizar o festival, pessoas que são naturais do concelho e que aproveitaram o conhecimento adquirido no evento local para se lançarem como empresa de organização de espectáculos de créditos firmados (é a Ritmos que faz, por exemplo, o Primavera Sound no Porto). Apesar de anos menos bons, por várias contingências (apoio considerado insuficiente por parte do município, condições climatéricas, calendário pouco propício em virtude da quase sobreposição com outros festivais ou cartazes menos fortes fosse por incapacidade financeira ou por não ser possível acertar nas alturas em que as melhores bandas faziam as suas digressões europeias), a verdade é que o festival nunca foi interrompido. Houve um período de maior incerteza, em que as datas eram sistematicamente trocadas, fosse à procura da melhor altura do calendário para trazer as melhores bandas a melhor preço, fosse à procura do período em que houvesse mais garantias de que não viria a maldita chuva estragar o certame, fosse para fugir à concorrência, já que o realismo do mercado actual mostra à saciedade que não se consegue competir com os Rock in Rios e os demais festivais urbanos que grassam como cogumelos, sempre bem acompanhados dos milhões dos milionários patrocinadores capazes de trazer as bandas e os artistas comerciais do momento. O Paredes de Coura resistiu ainda à necessidade que teve de procurar um novo patrocinador principal praticamente todos os anos e durante algum tempo, a Ritmos viu-se obrigada a partilhar riscos (para aumentar a capacidade de investimento e porque houve 2 ou 3 anos em que o festival deu prejuízo).

Passada a fase de sobressalto, a Ritmos voltou a organizar o festival a solo, encontrou na Vodafone uma parceira estável, fixou as datas do festival na 3ª semana de Agosto e hoje são os outros eventos que evitam coincidir com o Paredes de Coura.

Mas aquilo que de mais meritório tem ressaltado no festival é a capacidade que tem mostrado para crescer e a competência para se reinventar a cada ano que passa, introduzindo novidades a cada ano que passa, suplantando e deixando a grande distância a concorrência (os serviços de babysitting, os bungalows para quem queira campismo com mais qualidade, os descontos nos bilhetes para todos os courenses, o serviço de transportes para a vila e para o recinto são apenas alguns exemplos) e que cada vez mais tornam o Paredes de Coura muito mais que um festival. A somar a tudo isso, existe uma espécie de warm up na semana anterior ao festival que anima o centro da vila e que faz aumentar para o comércio local os dividendos daquilo que eram já 5 dias dourados que ajudavam a equilibrar-lhes as contas do ano inteiro.

Este ano, a promoção do festival aumentou ainda exponencialmente com a entrada em cena de um dos canais de televisão com maior audiência.

A todo este recente relançamento do festival (depois dos organizadores terem considerado que 2014 foi uma das melhores edições) não é alheio o crescente envolvimento da autarquia. O actual presidente de Câmara tem uma relação umbilical com a Ritmos (foi um dos fundadores do festival em 1993 e manteve-se sócio da empresa até há poucos anos atrás) e nunca escondeu que uma das bandeiras do seu mandato seria potencializar o efeito do festival no concelho ao longo do resto do ano. Hoje, tal como Cerveira é a vila das artes, Paredes de Coura caminha para ser, com merecimento e por direito próprio, a vila que é a capital da música. Porque tem o “habitat natural” mas porque tem havido arte e engenho, e também muita persistência dos envolvidos, no sentido de rentabilizar uma marca que hoje em dia é o activo mais precioso do concelho. Que o digam comerciantes e operadores turísticos no geral! O que seria hoje Paredes de Coura sem o festival?

geral@minhodigital.pt
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