Tempos sombrios

Serve o mês de Dezembro, por exemplo, para nos informar do aumento de preços que vamos ter em Janeiro.

Haverá, estou certo, muitas explicações para que isso aconteça neste mês e não noutro qualquer, ou em nenhum, sendo certo e garantido que esse aumento não será o único. Haverá muitos mais aumentos durante o ano.

Mas em Dezembro é o mês em que as pessoas receberam o subsídio de Natal e quer seja por hábito, ou pelo momentâneo desafogo financeiro, pouco ou nada ligam ao que a seguir lhes vai cair em cima. Muitos ficam felizes e até agradecidos, pela “esmola dada”.

A maior parte receberam no mês de Dezembro aquilo que deviam receber em cada mês.

È mais que vergonhoso, é ultrajante, que pensões de reforma não tenham, no mínimo, o valor do fraco Salário Mínimo Nacional, que por sua vez é uma miséria.

Enquanto assim não for, não há democracia e muito menos a tão propalada igualdade. Essa verifica-se para, essencialmente, os altos servidores do Estado. Para esses há pensões de reforma de mais de seis mil euros mês, para além dos bónus e outras prebendas adicionais.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Mas, até ver, ninguém teve coragem de nivelar esta orgia, porque a mesma esbarraria no Tribunal Constitucional, um poder sem escrutínio, que funciona como um contra-poder.

Ainda estou para ver o ano em que, no mês de janeiro, os preços se mantenham. O que é que justifica que de um dia para o outro os preços disparem?

Por exemplo: se eu viajar numa auto-estrada no dia 31 e dali a umas horas, mas já no dia 1 de Janeiro regressar a casa vou pagar mais. O que é que justifica esse aumento?

Ou as comissões bancárias, vulgo manutenção de contas que, já por si, são uma espécie de extorsão porque se durante longas décadas não existiram e os bancos cresceram e multiplicaram-se, pagando juros nos depósitos à ordem, agora e com a devida autorização do Estado que, no meio deste negócio leva a sua maquia, portanto faz parte da equação, são uma mina segura e de fácil obtenção.

Ou seja: os parcos aumentos salariais e das pensões de reformas, a maioria de miséria, são comidos numa espécie de jogo de damas. Mas estes valores têm que durar um ano e fazer frente às permanentes subidas de preços do cabaz alimentar.

Tempos incertos, de grande selvajaria iliberal e ganância, por parte de empresas, sobretudo, de distribuição e venda alimentar que lucram milhares de milhões por ano. Assim o vão atestanto os lucros por elas apresentado e é de tal forma tão desproporcionado que, elas mesmas, se sentem mal e dão, às vezes, uma esmola aos seus diligentes trabalhadores, que o ganharam. Mas atenção à publicidade enganosa: as esmolas não são para todos, como devia ser.

Por seu lado, o sector primário, a agricultura, nos seu diversos sectores, que é de onde tudo o que comemos vem, vivem constantemente esmifrados pelas grandes superfícies comerciais. Eles não têm o poder reivindicativo que deviam, não tem escala para isso, vão abandonando essa vida dura, ficando Portugal cada vez mais à mercê das exportações vindas de países com escala e voz.

O Estado promete-lhes, mas o Estado não é pessoa de bem, nem está interessado em dinamizar o nosso sector primário, até porque cada ministro é mais incompetente que o anterior.

Celebrem o cinquentenário do 25 de Abril, com este e outros pesos na consciência.

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(José Venade não segue o actual acordo ortográfico em vigor)

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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