Bicadas do Meu Aparo: O burro do meu arquivo   

 

 

 

Escritor d’ Aldeia *

 

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A Humanidade nunca foi justa, pelos vistos!

Acredita-se que o Criador fez tudo, absolutamente tudo bem feito e justo. O homem não soube aproveitar, desde o seu início, o que se lhe apresentou justo, bom e a forma de viver em Verdade.

Pai justo – dizia Cristo – o mundo não Te conheceu, mas eu conheci-te e sabem que Tu me enviaste.

Sempre o homem reivindicou o que por vezes não merece. E sempre o homem sacou ou usou de rapacidade do que não lhe pertencia. A injustiça é, hoje como nunca, o maior flagelo da humanidade.

Tantas vezes o homem é injusto com as coisas mais simples e com os acontecimentos mais banais. Mas também é nas ínfimas coisas e acontecimentos que o homem pode expor o seu carácter, a sua educação, a sua cultura, a dureza ou a sensibilidade que transporta.

E creio que no último dia, nunca perguntarão ao homem o que sabe, mas sim o que fez. Não a cultura que tem, mas sim como viu e lidou com os outros. E a propósito de espíritos injustos, pense-se nesta simples história que passou por mim há mais de trinta anos:

Um dia um camponês estava saturado de aturar o seu burro e, então, cruelmente, resolveu atirá-lo para dentro do poço que por acaso já estava seco há muitos anos e era mais interessante tapá-lo de qualquer forma. Então chamou os vizinhos para o ajudarem a enterrar o burro vivo.

Cada um deles pegou numa pá e começou a atirar a terra para dentro do poço. O burro não tardou a dar-se conta do que lhe estavam a fazer e zurrou desesperadamente. Porém, para surpresa de todos, aquietou-se depois de umas quantas pazadas de terra.

O camponês finalmente olhou para o fundo do poço e ficou admirado com o que viu: a cada pá de terra que lhe caía sobre o lombo, o burro sacudia-a, dando um passo sobre a terra caída no chão. Assim, em pouco tempo, todos viram como o burro conseguiu chegar até à boca do poço, passar por cima da borda e sair dali trotando.

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Na vida real, nas sociedades normais, nas instituições, associações, política, religiões ou onde quer que o homem permaneça em comunidade, qualquer um deles e em qualquer tempo está sujeito a entrar nos mais profundos buracos.

Uns são enterrados pelos incompetentes, mas com poder; outros enterram-se por vinganças, por ódio, por ciumeira, por más informações adquiridas, por inveja e até se enterram homens por elevadas capacidades e nobres virtudes.

Os incompetentes, os orgulhosos e os invejosos, procuram permanentemente buracos para enterrar aqueles que lhes façam sombra, que não os deixem sobressair, que lhes façam cócegas na testa e no nariz. Têm medo de tudo e até medo têm daqueles que fazem o Bem ou que bem trabalham na Vinha do crucificado.

São camponeses caducos, usam utensílios de coveiro, tapam, abafam, boicotam, vivem desconfiados, inseguros, travam sub-repticiamente a acção dos outros e esquecem o bem que os “burros” vão fazendo, quer puxando à nora ou ao arado, quer transportando o trigo para o celeiro, o feno do gado ou chamando uma ambulância que tarda.

Para estes caducos – que como as ratazanas não voam – que saturam facilmente dos “burros” que os vão acompanhando, só há uma lição a tirar: usar a terra que esses rapaces utilizam e, subir, subir, até à “boca do poço, trotando sempre”.

Assim, para concluir, acreditamos que há quatro coisas na vida que não se podem recuperar: “a pedra depois de atirada; a palavra depois de proferida; a ocasião depois de perdida e o tempo depois de passado”.

E Fernando Pessoa afirmou: “Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo. Terra atirada? Pedras no caminho? Guardo tudo, um dia vou construir um castelo”.

 

  • O autor não segue o novo Acordo Ortográfico.

 

* O autor não segue o acordo ortográfico de 1990

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1 comentário

  1. Gostei muito do seu texto ARTUR, ele está muito bem encaixado como esclarecimento dos motivos dessa situação atual que a humanidade atravessa a nível mundial! O burro é um animal bastante inteligente, trabalhador mas também muito cauteloso, ele tem percepção dos perigos, e sabe quando deve recuar ou parar! Um abraço.
    BOA NOITE
    BOM FINAL DE SEMANA
    29/07/2023

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