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Câmara de Arcos de Valdevez aposta no imaterial

A perda de recursos financeiros, devido à redução das transferências do Estado, e o atraso na disponibilização das verbas do Portugal 2020 não paralisaram a infraestruturação no município de Arcos de Valdevez, mas a crise económica tem tido o condão de mobilizar (e redirecionar) investimento em políticas ligadas ao imaterial e à desoneração fiscal dos munícipes.

As medidas adotadas pela Câmara arcuense consubstanciam uma mudança de paradigma, do material para o imaterial, sem que isso signifique um desinvestimento infraestrutural. Em rigor, pertence ao passado a construção de pavilhões, piscinas, espaços de lazer, rotundas ou estradas, mas, localmente, existe a noção de que eventuais excessos noutros tempos não compensam o que falta fazer hoje. Neste sentido, é consensual a necessidade de reabilitar estradas, muitas das quais em muito mau estado. E o investimento nas redes de abastecimento e saneamento, atualmente em curso, mostra que, ainda, há infraestruturas por fazer.
Mas o reforço das dotações financeiras nas funções sociais (11,5 milhões de euros para o ano em curso, ou seja, 62,3% do investimento previsto pelo Município), que é proporcional ao desinvestimento em betão, aponta, na verdade, para um virar de página. Devido a esta reorientação, tem aumentado de ano par ano o investimento municipal na esfera social, que diz respeito a políticas de ação social, habitação e educação, preocupação que, também, subjaz ao alívio fiscal das famílias.
A aposta em habitação social, que já vinha de mandatos anteriores, tem sido corporizada através do apoio financeiro e temporário ao arrendamento. Paralelamente, a autarquia de Arcos de Valdevez é uma das que prescindiram de parte da receita do IRS em favor dos arcuenses (mas câmaras como Ponte de Lima têm ido ainda mais longe, devolvendo aos seus munícipes a totalidade da percentagem da coleta de IRS cobrada pelo Estado). E, pelo segundo ano consecutivo, está em aplicação a redução do IMI familiar para mais de 1100 agregados residentes nos Arcos.
Marca deste Executivo Municipal é, também, a estratégia de desenvolvimento assente na natureza. Aproveitando o filão do turismo de natureza, o plano da edilidade arcuense tem residido, por exemplo, na criação de uma rede de ecovias e trilhos para “puxar” por setores como a hotelaria, a restauração e o alojamento. Segundo o edil João Manuel Esteves, é no ar puro da Reserva Mundial da Biosfera que reside “a nova infraestrutura”.
A “transformação” da natureza tem ajudado a confirmar esta visão. A abertura de “caminhos pedestres” – entre ecovias e trilhos, há mais de 250 quilómetros de descoberta neste concelho – prova que o ecoturismo é o “petróleo” da região e uma âncora para o crescimento sustentável com vista a uma economia geradora de riqueza. Mas as onerosas reparações da Ecovia do Vez (norte do concelho), a cada temporal, são uma “pedra no sapato”. E a Ecovia de Ermelo, a primeira travessia do género a ser construída, carece de limpeza/manutenção e de maior divulgação.
De resto, na perspetiva de valorizar o rico património que “enfeita” vários núcleos rurais (cada vez mais despovoados), foi lançada, em fevereiro de 2016, a candidatura de Sistelo a “Património Cultural Evolutivo Vivo”, cujo processo de classificação será efetivado sem dificuldade. E Soajo vai ser candidatado ao prémio “7 Maravilhas de 2017”, o qual é consagrado às “Aldeias de Portugal”.
Ou seja, fruto de circunstâncias estruturais (crise), a Câmara de Arcos de Valdevez tem vindo a “experienciar” um modelo diferente de desenvolvimento. É um tempo de imaterialidade (dos investimentos) centrado em medidas de ação social e em políticas de valorização da educação e da escola, como as múltiplas atividades de cultura e desporto proporcionadas à população escolar.
O aproveitamento dos recursos naturais, à “boleia” de projetos como a Plataforma Padre Himalaya (candidatada a financiamento) ou a classificação dos socalcos agrícolas de Sistelo como Paisagem Cultural, também se inscreve nesta (nova) forma de o poder local arcuense redirecionar políticas para o turismo ambiental.

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