Editorial

Comemorar o 25 de Novembro? Sim, sempre.
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Damião Cunha Velho

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Eu estou entre aqueles que entendem que o 25 de Novembro de 1975 deve ser comemorado da mesma forma que comemoramos hoje o 25 de Abril.

Aliás, José Milhazes, que viveu a ditadura portuguesa e que, por causa dela, emigrou aos 17 anos para a antiga União Soviética, e viveu o comunismo puro e duro durante quase 40 anos, diz que ainda havemos de comemorar estas duas datas com igual consideração.

Em Portugal, ao contrário do que aconteceu noutros países europeus, em que os partidos comunistas praticamente se extinguiram, existia uma visão romântica em relação ao Partido Comunista Português (digo “existia” no passado, porque espero que tenha acabado no dia da invasão russa à Ucrânia, apoiada pelo PCP).

Este olhar sobre o PCP, comungado por muitos em Portugal, compreendia-se e foi sempre tolerado porque os comunistas portugueses – não só, mas sobretudo eles – conseguiram derrubar uma ditadura de 41 anos, no dia 25 de Abril de 1974. Mesmo sabendo-se, para alguns antes, para a maioria depois, que a cúpula do Partido Comunista pretendia, após a Revolução de Abril, instalar em Portugal uma ditadura soviética. Algo ao qual o 25 de Novembro de 1975, felizmente, pôs termo. Digo a “cúpula” porque acredito que o cidadão comum que se dizia comunista e que lutou pela liberdade, não conhecia as verdadeiras intenções de Cunhal e de Brejnev.

Apesar de achar que estas datas são igualmente importantes e históricas, a sua comemoração em simultâneo não faz sentido, nem mesmo na especial Comemoração dos 50 anos do 25 de Abril, como alguns propuseram e que será já no próximo ano.

A comemoração separada destes momentos históricos faz, a meu ver, todo o sentido. Separada porque o 25 de Novembro só existiu porque antes houve o 25 de Abril e o que se seguiu. Novembro é, por isso, uma consequência de Abril, do PREC e do Verão Quente. O inverso não existe, ou como me dizia há tempos Fernando Tordo, “Novembro é filho de Abril”.

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Portanto, apesar de interligadas, as datas são diferentes, não correspondem exatamente ao mesmo facto ou contexto, não tiveram em concreto o mesmo propósito, e como tal merecem comemorações separadas. A primeira derrubou a ditadura e a segunda impediu que uma nova ditadura tomasse o poder.

O 25 de Abril de 1974 foi o dia em que começou a Liberdade em Portugal. Seguiu-se uma tumultuosa transição para o que designamos hoje por “democracia”, com movimentos terroristas de esquerda e de direita. O início de uma guerra civil que foi travada graças ao 25 de Novembro de 1975.

As revoluções não se fazem com régua e esquadro, e os inconformados com Abril ou Novembro prosseguiram nas suas intenções.

À esquerda surgiram as FP-25, lideradas por Otelo Saraiva de Carvalho, que tiraram a vida a 14 pessoas, incluindo uma criança. À direita também continuaram grupos como o Movimento Democrático para a Libertação de Portugal (MDLP), o Exército de Libertação de Portugal (ELP) e superiores hierárquicos de algumas dioceses, que mataram comunistas e incendiaram sedes do PCP em todo o país durante o Verão Quente. A destacar o MDLP, que matou o padre Max e a sua aluna num atentado bombista e ainda dois diplomatas cubanos noutro atentado contra a embaixada de Cuba em Lisboa, em 22 de abril de 1976.

Ou seja, a democracia é um processo dinâmico que teve início a 25 de Novembro de 1975 com o fim do PREC e com o início do Processo Constitucional e, como tal, é uma data incontornável.

Não há liberdade sem democracia, nem democracia sem liberdade.

O 25 de Novembro deve, portanto, ser lembrado e comemorado como o 25 de Abril, pois se não tivesse existido, hoje seríamos uma espécie de Cuba na Europa e estaríamos sob o jugo putinista.

Porém, convém dizer-se que ainda há muitos portugueses que querem comemorar Novembro, não porque apreciem Abril, a Liberdade ou mesmo a Democracia, mas sim porque têm saudades do 24 de abril!

Acredito que o facto de a nossa Liberdade e Democracia ainda serem muito recentes, pouco maduras, explica porque o 25 de Novembro não tenha o mesmo destaque que o 25 de Abril. E assim, vai continuar porque os extremistas ressabiados, que insistem em fazer uma divisão cega entre direita e esquerda, em partir o país a meio, ainda existem e estão novamente a crescer. Logo quando Portugal e o mundo nunca precisaram tanto como agora de moderados sensatos que olhem para a história com isenção para evitar que a história de terror, opressão e mordaça se repita!

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