Editorial

O grande ausente das JMJ
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Damião Cunha Velho

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As JMJ foram um sucesso quer pela organização do evento quer pelo facto de se terem juntado 1,5 milhões de jovens de todo o mundo em Lisboa.

Porém, é preciso olhar para tudo isto em perspetiva e não me parece assim uma coisa do outro mundo juntar tantos jovens num mundo global, sem fronteiras, com voos low cost, e com uma Igreja que tem milhões de fiéis.

Aliás, em Meca juntam-se todos os anos mais de 2 milhões de muçulmanos. 1,5 milhões entre tantos milhões de católicos não é assim tanto. Por exemplo, na Romaria d’Agonia em Viana do Castelo estiveram no ano passado 1,25 milhões de pessoas.

Mas, mais importante do que discutir números é falar sobre aquilo que as JMJ representaram. Para mim, o Papa Francisco foi igual a si próprio. Um homem bom que quer uma Igreja inclusiva. Um verdadeiro outsider quando olhamos para a história de vida dos seus antecessores. É por isso que é amado por muitos dentro e fora da Igreja e odiado por muitos dentro da igreja. Sim, há católicos conservadores que lhe desejam a morte exatamente por Francisco querer a igualdade entre homens e mulheres dentro da Igreja ou por aceitar homossexuais como filhos de Deus.

Estes últimos chamam-lhe o Papa comunista, um alvo a abater. Estes são os mesmos que nutriam uma profunda admiração por João Paulo II, que lutou contra o comunismo. O comunismo abominável que matou milhões à fome com Estaline em 1932 na Ucrânia, semelhante a João Paulo II que matou milhões em África e deixou milhões de crianças órfãos quando num périplo por África disse que o uso do preservativo ainda disseminava mais a SIDA, no auge dessa pandemia e quando a ciência comprovadamente já dizia o contrário.

É claro que Estaline executou e João Paulo II apenas disse. Porém, quem sabe que tem o poder de influenciar milhões de pessoas através da palavra, é pela palavra um executante.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

E atenção, eu faço esta comparação simplesmente para dizer que não existem holocaustos de esquerda ou de direita, holocaustos católicos ou ateus, não existem holocaustos soft, existem holocaustos, ponto.

É esta cegueira dos religiosos, neste caso dos católicos, que me indigna. Eu não lhes estou a pedir para deixarem de o ser, só gostava de os ver a serem os primeiros a se indignarem contra as maldades que são praticadas dentro da sua própria casa. Assim deveria ser na Igreja como na nossa vida em geral. Por exemplo, não aceito que um socialista não levante o rabo do sofá para criticar José Sócrates. E o que fazem quando as evidências são tão grandes? Ficam em silêncio. Só que o silêncio é nestes casos mea-culpa, é conivência. Uns por medo de perder votos outros por medo de perder Deus.

No caso concreto dos abusos sexuais na Igreja, o silêncio, a conivência são a perpetuação do crime e por isso também crime.

A subida ao palco, aplaudida com o silêncio, se quisermos, pela audiência das JMJ, de D. Manuel Clemente é mais um exemplo de que estas reuniões em massa são mais uma adição do que uma virtude. É que o cardeal-patriarca de Lisboa terá encobrido abusos sexuais e mantido em funções o padre abusador. E se dúvidas existem em relação a este facto, apesar das provas, não há dúvidas que D. Clemente se insurgiu contra as indemnizações que a Igreja teria que dar às vítimas, considerando-as um insulto às vítimas. Os abusos sexuais são muito mais que um insulto, são um crime público e um pecado para os verdadeiros católicos.

Se a sensatez existisse quer na Igreja quer nos políticos que levaram a cabo este evento, D. Manuel Clemente ou não aparecia ou fazia um discurso de penitência. Mas não. E porque não? Porque a Igreja não está, de facto, preocupada com as vítimas ao esconder os casos de abuso até não poder mais e a continuar nesta leviandade, e os políticos sabem que encostados à Igreja conseguem votos.

O Papa Francisco foi quem se destacou pela positiva neste evento, o que não me surpreendeu. Um homem que vive à semelhança de Cristo. Um homem humilde que olha para todos como iguais. Um homem que, tal como Cristo, consegue calçar as botas dos outros como ninguém. É por isso que este Papa é muito admirado dentro e para além da Igreja Católica.

Ninguém lhe fica indiferente, ninguém fica indiferente às suas palavras. Exceto aqueles que nele viram uma forma de aumentar a sua família católica conservadora ou a sua família partidária. E isso vê-se já nas lutas internas da Igreja para a sucessão de Francisco e entre partidos e políticos ao quererem reivindicar para si o sucesso das Jornadas. Para esses, o que Francisco falou entrou por um ouvido e saiu pelo outro. E tão rápido.

Esses tiveram uma visão puramente instrumental das JMJ, para retirar proveitos para os seus respetivos burgos.

Eu não estou a discutir os prós e os contras da Igreja Católica e da política, mas sim algo que, para mim, foi factual: a hipocrisia.

É por tudo isto que eu acho que houve um grande ausente nas JMJ, alguém que nunca foi hipócrita e acabou crucificado por gente como esta…Jesus Cristo!

5 comentários

  1. O problema, caríssimo Damião, é que a Igreja foi instituída por duas partes: a parte Humana e a Sobrenatural. Logo, sabemos que Esta, nunca falha e a Outra, porque humana, falha. Foi assim que o Nazareno quis a COISA. Resta aos homens – cristãos ou não, crentes ou ateus – saberem ser Homens e jamais esquecerem que HÁ CONTAS A PRESTAR, quando face-a-face com o CRIADOR.

    1. Talvez a prova de que a Igreja Católica não representa Deus são aqueles que uma vez lá dentro não temem Deus ao ponto de não acreditar Nele. Daí a inquisição, os Bórgia, os padres pedófilos e os encobridores. Já se perguntou porque estes homens não tiveram ou têm medo das consequências: o Inferno? Será porque uma vez dentro da Igreja percebam que tudo isso não passa de um grande negócio e que Deus não existe tal como a vida depois da morte?
      No caso português, descobrirem que Lúcia foi raptada aos pais (outro crime, hoje impossível) para se fazer um milagre com o intuito de recuperar os privilégios que a Igreja tinha com a monarquia. Sabe quem é o Cônego Formigão? Sabe que o milagre do 13 de agosto foi mudado para o dia 19 de agosto porque o Formigão não chegou a tempo. Sabe que o pai da Lúcia morreu alcoolizado devido ao rapto e sabe que a mãe da Lúcia nunca acreditou na filha porque ela não conseguia desobedecer ao cônego Formigão?
      Talvez António Damásio esteja certo quando disse que a maior criação do homem foi Deus!

    2. Colega de colunas num impresso e digital/Facebook.
      Vou repetir um escrito num mensário de Ronfe: um dia, uma jovem, que ia à missa, disse ao pároco de uma paróquia, que ía deixar de ir à missa. Ele perguntou-lhe porque motivo? Ela disse que toda a gente olha para ela, e uns para os outros, não por olhar… Ela combinou com o pároco irem à igreja só os dois. Ele aceitou. No dia e à hora combinada, lá estavam os dois na igreja.
      Ela pediu um copo cheio de água. E disse ao pároco que ia dar 3 voltas, no interior da dita igreja. Ao fim das 3 voltas mostrou ao padre o copo cheio de água.
      Disse ao pároco: Estive, todas as três voltas, atenta.
      Se estivesse na missa teria entornado água.
      É isto: respeito humano, perturba e tira atenção.
      Duvida, colega.
      Sou um.

  2. Deus ninguém o conhece, em vida. Só depois de deixar estar
    Ou se Segue ou na se Segue
    Eu Sigo, para não estar só.

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