Editorial

CRÓNICAS DE TRAZER POR CASA: Que farei com estas lágrimas?
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Zita Leal

Zita Leal

Professora

(Aposentada)

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É que não são de desgosto, nem de dor, compaixão ou sentimento solidário. Essas eu saberia envolvê-las em abraços, afagos em cabeças infelizes, mãos que afagam só porque sim. Estas não. São mesmo de raiva, de vontades infinitas de matar, esmagar, de fazer mal, de todo o tipo de revoltas. E não sei encaminhá-las porque os culpados não se mostram.

 

Quinta feira Santa era dia de rezar, trabalhar não que o Senhor estava para morrer e era preciso respeitar a dor que Jesus ia sofrer na cruz. Esta morte anunciada proibia a Emissora Nacional de transmitir música ligeira que o respeito só tolerava música clássica e mesmo assim da “ pesada”. As marchas fúnebres tinham a primazia e eu detestava a situação. Só no sábado de aleluia, à tarde, voltariam a Amália, os olhos castanhos, o encontro às dez e afins. Mas nada me soltava as lágrimas Era uma rapariga feliz e cravos e pregos ou coroas de espinhos não me causavam mossa. Quem me dera nesse tempo de insensibilidade confortável!

 

Quinta feira Santa de 2021 não é dia de rezar, é dia de trabalhar que o ferro e a esfregona tomaram o lugar do terço e dos missais, e as rádios  locais trazem o Quim e a Rosinha para a cozinha. Dia de bacalhau, de pacote pois então, que os panejamentos roxos estão um pouco ultrapassados. Estão OUT.. Hora da merenda, televisão ligada, cházinho a presumir-me mulher fina e educada, folar de Vale de Ílhavo com os ovinhos da praxe. Perdoem-me os outros folares mas estes são especiais. Tudo para dar certo: Não deu. Norte de Moçambique, bazucas, uma empada e água para três dias, gente esfaimada de terror no olhar, crianças numa corrida sem prémio nos lugares da frente, a jogar ao “ agarra” com terroristas misturados com quem foge, vítimas inocentes sem perceberem porque correm sem parar. O folar já não é doce, o chá não se pode beber, os olhos estão molhados e eu sinto a raiva a crescer dentro de mim. Quem são os culpados? Como impedi-los destes ataques? Como é que o Criador não impede o terror? Morreu por nós pecadores? Porquê? Para quê?

 

Que farei com estas lágrimas?

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