Editorial

Da perda à saudade 

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Damião Cunha Velho

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Fez esta semana dois anos que o meu pai morreu. Mesmo muito doente durante longos anos, pensei que o meu pai era imortal. Não era. E o seu Tempo esgotou-se.

Para enaltecer a importância do Tempo, do Tempo que é vida, a vida de cada um, diz-se, muitas vezes, que o Tempo é dinheiro. Porém, se o Tempo fosse dinheiro, o dinheiro seria Tempo. E não é, pela razão simples de o Tempo valer o que o dinheiro não consegue, por muito dinheiro que tenhamos. E o dinheiro sempre podemos conseguir mais e mais, enquanto o Tempo está-nos contado e vai-nos sendo subtraído à medida que somamos dinheiro.

O inverso é impossível, pois não é possível somar Tempo.

No dia em que o meu pai morreu, foi-se com ele todo o Tempo que ele tinha. Acabado esse Tempo, e tendo eu dinheiro, não consegui comprar mais Tempo. Não fui capaz de transformar o meu dinheiro em Tempo para o dar ao meu pai e mantê-lo vivo, comigo.

Por isso, o nosso Tempo de vida é a nossa maior fortuna e não o dinheiro.

Não há, de facto, dinheiro nenhum que valha mais do que uma migalha de Tempo!

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Nenhum.

E nisso andamos todos enganados.

Essa fortuna que é o Tempo também ajuda a atenuar a dor da perda. Essa dor, que é presença, vai-se diluindo com o Tempo, esquecida algures. Mas, ninguém quer esquecer quem sempre amou por muito que doa!

O Tempo não cura. Não há cura para a perda de quem nos deu vida. O Tempo somente aproxima a dor que é presença com a dor da ausência e que juntas se transformam em saudade.

A saudade do meu pai é imensa. Deixei de o ver. Não o vendo, pressinto-o por perto todos os dias. Tão perto que às vezes procuro à minha volta na expectativa de o rever e nesse esforço, sempre o encontro. Sempre.

Dentro de mim!

É esse o dom da saudade.

Fazer dos que julgávamos imortais, eternos!

À saudade, ao meu pai:

Partiste…

Ficou a saudade

Não é coisa menor

É amor!

Às vezes, na saudade

Grito um “ai”

Porque nesse grito

Vou até ti, pai!

 

1 comentário

  1. Aprendi a gostar do José Ribeiro da Cunha Velho. Homem simples, sorridente para com todos, atencioso com todos e homem que gostava que gostassem dele. Não o vi partir, não pude dizer-lhe, pessoalmente, ADEUS. Mas disse-lhe ADEUS espiritualmente e pedi a Deus que o recebesse na SUA LUZ. E acredito que é onde está o Zé Cunha Velho. (Artur Soares)

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