Editorial

Crónicas de Trazer por Casa: Viagens ao Passado
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Zita Leal

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Já sentia falta de desabafar nas antigas Crónicas de trazer por casa.

Foi o covid de novo a tirar ânimo, foram artroses a teimarem instalação definitiva, tudo era pretexto para me agarrar aos tachos e às agulhas de tricotar mas o motivo principal foi “não ter que dizer nada“ de bom. Guerras por tudo quanto é lado, catástrofes a aterrorizar pessoas de todas as cores e credos, violências de todo o género, corrupções, branqueamentos, um rol de desgraças a desanimar o mais estóico fizeram-me fugir do computador.

11 de Setembro carregado de más memórias não ajudava nada. De repente a campainha soa no rés do chão e abro a janela para ver quem era porque o intercomunicador com cinquenta anos recusa-se a funcionar, por cansaço, acho eu. – Sim… quem é? Gargalhadas frescas e passos de corrida. Que bálsamo para o meu desencanto do mundo actual! Adolescentes que não vi mas que riem, garotada que corre livremente no passeio e que brinca na rua, miudagem que se diverte com partidas destas aos vizinhos sem teclarem no telemóvel, “parecem bandos de pardais à solta “ diria o Poeta… Isto era o que eu fazia há setenta anos atrás… Alguns ralhetes das vizinhas e tabefes da mãe quando elas lhe faziam queixa… Mas que era bom, era.

No sítio onde moro, há um parque infantil em frente à minha casa e os miúdos pequenos andam devagarinho nos baloiços enquanto os adultos que os cuidam falam ao telemóvel ou escrevem mensagens. Apetece-me, muitas vezes abrir a janela da cozinha e “ranhosar“ com esses adultos. Esses miúdos não lembram pardais à solta mas as gargalhadas que há pouco ouvi debaixo da minha janela eram, sem dúvida, pardais felizes e livres.

Felizmente ainda há pássaros em Portugal!

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