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Há muitos produtores nos Arcos de Valdevez sem um “palmo de pasto para o gado”

Gado sem pasto

O incêndio que lavrou no Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG), assim como nas imediações deste, consumiu cerca de 15% de toda a área ardida no território nacional, durante o período crítico, de 7 de 12 de agosto. Os prejuízos em riqueza natural e capacidade produtiva são extremamente avultados.

Já se sabe que os próximos tempos são de angústia para os criadores de gado e para os que vivem da agricultura nas zonas mais fustigadas pelos fogos. Sem pastos, os produtores reclamaram logo ajudas urgentes, tendo o Ministério da Administração Interna respondido com uma conta de emergência, que abriu, esta quinta-feira, 1 de setembro, e se prolonga até sexta-feira, 9 de setembro. Deste modo, os criadores prejudicados pela destruição de pastagens, usadas na alimentação de vacas, ovelhas, cabras e cavalos, têm, ao todo, 500 mil euros em ajudas, verba exígua para os lesados identificados em concelhos como Arcos de Valdevez e Arouca. Complementarmente, as candidaturas aos apoios prometidos pelo Ministério da Agricultura abrem a partir de 15 de setembro, próximo.

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Mesmo sem declaração de calamidade, a verdade é que a devastação provocada pela “fúria” das chamas deixou um manto preto em campos de cultivo, pomares, ramadas, currais, estábulos, palheiros e casas de férias. Maria Pires (Soajo), Virgílio Barreira (Vilar de Suente), Manuel Leiras (Soajo), Deolinda Fernandes (Ermelo), Teresa Carlos (Ermelo) e António Cerqueira (Soajo) são alguns dos prejudicados e com histórias para contar em fóruns próprios, caso da reunião promovida pelos Baldios de Soajo no passado dia 19 de agosto.

As populações do PNPG, além de lamentarem falhas nas políticas de prevenção e ataque inicial aos incêndios, apontam a inércia e a deficiente política de gestão do Instituto Nacional da Conservação da Natureza (ICNF) como tendo estado na origem de mais este desastre ambiental. “Porque está afastado do território e dirige a sua atividade contra os moradores, que só encontram constrangimentos”, disseram vários compartes na referida reunião. Nesta, foi lembrado que, no seguimento dos incêndios de 2006 e 2010, o PNPG arrecadou centenas de milhares de euros com a venda de madeira e, ainda assim, não respondeu aos anseios dos residentes. Algumas das soluções preconizadas – investimento em planos de reflorestação, retirada do muito material lenhoso acumulado na serra e abertura de aceiros – estão ainda por concretizar.

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Consequência disso, a entidade que rege o único Parque Nacional tem cada vez mais críticos entre residentes e autarcas locais, como se viu na visita que várias delegações oficiais fizeram à Porta do Mezio no passado dia 15 de agosto. “O ICNF pouco ou nada tem feito para proteger o Parque. Em vez da incúria e da perseguição às populações, como é seu apanágio, é fundamental que a direção do ICNF assuma uma postura responsável, zelando e preservando o território, ordenando a floresta, recolhendo, com prontidão, o material lenhoso e abdicando da percentagem de 40% pelo corte de madeira”, dizem, consensualmente, moradores e dirigentes dos conselhos de administração dos Baldios, uns e outros revoltados contra a gestão implementada no PNPG.

Mas, enquanto (des)esperam pelos apoios destinados à aquisição de rações, alguns produtores ganharam, rapidamente, forças para subirem as encostas e espreitarem, por detrás dos recortes da serra de Soajo, o paradeiro de “alguns animais desaparecidos”, como explicaram Laurinda e Manuel Leiras na reunião promovida pela Comissão dos Baldios de Soajo.

Com o conhecimento que têm do terreno, os criadores traçam um cenário desolador. “A serra ardeu, os canais de água estão secos, também devido à seca extrema, e não há um palmo de pasto para o gado”, queixam-se os produtores, alguns dos quais perderam, também, os respetivos estábulos, caso de Maria Pires.

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Sem forragens para alimentar o gado, tanto em Soajo como na freguesia vizinha de Cabana Maior (localidades mais afetadas), resta acreditar nas ajudas. “Que sejam céleres”, apelam os desconsolados criadores, que, nos próximos meses, terão de alimentar os bovinos (e os restantes animais serranos) com feno nas cortes.

Mas os prejuízos estendem-se a outros setores. Na freguesia de Ermelo, os produtores de citrinos choram a destruição dos laranjais que dão fama ao recôndito lugar. “Um terço da laranja autóctone desapareceu”, diz Bento Amorim. Também Teresa Carlos, Benjamim Brito, Alexandre Fernandes, Deolinda Fernandes, Rosa Esteves e Rosa Preto, entre muitos outros, fazem contas de subtrair. “Perdi 29 árvores, entre laranjeiras, tangerineiras e limoeiros”, diz Deolinda Fernandes. Alguns destes produtores entregaram, entretanto, na Cooperativa Agrícola de Arcos de Valdevez uma relação dos prejuízos. Segundo fonte conhecedora do processo relativo à destruição de áreas de produção frutífera, o apoio rondará os 60 cêntimos o metro quadrado.

Com base em informações apuradas por este jornal, a maioria dos lesados, entre criadores de gado, agricultores e exploradores florestais, com o objetivo de recuperar a capacidade produtiva, está a preparar candidaturas a apoios, com a preciosa ajuda das respetivas associações.

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