Editorial

O fim da classe média é um perigo atómico
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Damião Cunha Velho

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A classe média está a desaparecer em grande parte do mundo e em Portugal é evidente.

Um fenómeno que pode ter repercussões semelhantes à explosão de uma bomba atómica se os extremistas chegarem ao poder.

Hitler nasceu na Áustria e foi na Áustria há 23 anos que o impensável aconteceu, a extrema-direita chegou ao poder com Jörg Haider.

A Europa não queria acreditar e pensou tratar-se de um epifenómeno. Enganou-se e a saudação nazi anda por aí.

Na Itália, a extrema-direita ganhou as eleições com a senhora Giorgia Meloni que não perde o sono enquanto, todos os dias, deixa morrer migrantes no Mediterrâneo. A Hungria e a Polónia já são governadas por ditadores de direita. Em França, Le Pen pode chegar ao Eliseu nas próximas eleições. O mesmo poderá acontecer com Trump nos EUA e, à Casa Branca, regressará o conservador insensato e menos culto dos presidentes americanos.

No norte da Europa, estes movimentos estão a aumentar e Portugal não se livra de ter o Chega no poder. Já aconteceu nos Açores e, se houver eleições antecipadas, seguramente que terá mais deputados.

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Agora é a terceira força política em Portugal com tendência a crescer e a direita moderada, liderada por Luís Montenegro, apesar de ter traçado uma linha vermelha com Ventura, pode não resistir à tentação de se coligar com o Chega se quiser ser Governo por cá.

Ainda na Europa e no outro lado do mundo temos duas potências comandadas por outra extrema, a extrema-esquerda, na Rússia e na China. Duas ditaduras.

Lembro que o Partido Comunista também já chegou ao poder em Portugal com a Geringonça.

Os extremos estão perigosamente a crescer, enquanto os moderados tendem a desaparecer. Os moderados são os que negoceiam, os que chegam a consensos.

Ghandi e Yitzhak Rabin por fazerem cedências foram assassinados por extremistas próximos de ambos. Hitler e Estaline foram o que sabemos, com milhões de mortes.

Os extremos não querem negociar, querem sim impor a sua visão, cada um à sua maneira, mas com resultados idênticos.

São várias as explicações para este crescimento dadas pela ciência política: os fundamentalismos religiosos, as migrações em massa, as dívidas soberanas, o mau funcionamento da Justiça ou a descredibilização das instituições democráticas.

Para mim, é a clivagem entre ricos e pobres que tem vindo a aumentar nas últimas décadas e o consequente desaparecimento de quem carrega o mundo às costas – a classe média.

A classe média é o pilar estrutural da sociedade. Mantém os ricos através do consumo e os pobres através dos impostos que são aplicados na Educação, Saúde e subsídios.

A classe média está a desaparecer, a caminhar para a pobreza e, em desespero, vota nos extremos, cansada que está de ver o seu nível de vida a baixar e sem perspetivas de um futuro melhor.

Os extremismos são a esperança, o sonho, de quem está a perder qualidade de vida. Um sonho que pode vir a acabar em pesadelo.

O passado das guerras mundiais, dos genocídios, está a ficar esquecido, apesar da atual guerra na Ucrânia. E quem não se lembra do passado está condenado a repeti-lo.

Por isso, os extremos não são a solução, a história já nos deu conta disso.

A desapontada classe média pode ser a causa (o rastilho) e a consequência (o apagão) do que pode vir acontecer.

Votam nos extremos porque estão a empobrecer, mas quem escolhem para governar vai-lhes responder com controlo, vigilância e repressão. Pobreza.

Os extremistas prometem o Céu com slogans lapalissianos, apesar dos seus programas políticos serem um vazio de ideias. Um Céu, que a avaliar pelo passado, se pode transformar no Inferno.

O problema é que as pessoas estão tão desesperadas que já foram capturadas pelas frases sonantes desses partidos políticos que tudo prometem.

E em agonia, os eleitores são mais suscetíveis, o que é compreensível, mas presa fácil dos oportunistas pescadores de descontentes que abundam nesses partidos.

Se a classe média ruir, o mundo pode implodir numa guerra entre velhos ricos, porque, sem classe média, não haverá novos-ricos! Todos seremos pobres e nenhum dos agora ricos vai aceitar ser pobre.

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