Editorial

Ou regulamos a Inteligência Artificial ou seremos extintos
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Damião Cunha Velho

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A maioria das pessoas sempre teve uma grande resistência à mudança em todos os aspetos da vida.

No que concerne às mudanças operadas pela tecnologia não foi diferente, com exceção dos mais jovens que foram “amamentados” por telemóvel, computador ou tablet.

Quando apareceram as primeiras máquinas de calcular, havia quem fizesse as contas à mão para verificar se a máquina não se tinha enganado, tal era a desconfiança. Hoje ninguém faz uma conta à mão, recorre à calculadora do telemóvel e quando a faz, logo que pode, verifica na calculadora se se enganou ou não. A máquina passou a ser confiável, mais do que o trabalho humano.

Lembro-me dessa desconfiança quando apareceram os micro-ondas. Muitos tinham medo das radiações, diziam que iriam provocar cancros ou achavam que a comida ali aquecida não era saudável. Hoje ninguém pensa nisso e o micro-ondas é um eletrodoméstico inquestionável em qualquer cozinha.

A Inteligência Artificial (IA) não é somente mais uma tecnologia, como foram a máquina de calcular e o micro-ondas. Tem uma diferença que marca a diferença de todas as tecnologias inventadas até hoje pelo Homem: autoaprende.

Isto significa que um ser artificial pode tornar-se, em segundos, mil vezes mais inteligente que o mais inteligente dos humanos. À primeira vista seriam imensos os benefícios para toda a humanidade em múltiplas áreas de atividade, desde logo na buca de cura para as muitas doenças que nos atormentam.

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Porém, há um senão: uma máquina que aprende por si própria à velocidade da luz, pode também vir a decidir por si, sem intervenção humana. E as decisões humanas resultam não apenas do conhecimento que a inteligência proporciona, mas da consciência, algo que a IA não tem, nem se acredita que venha a ter porque, ao contrário da inteligência ou da capacidade de aprender, não existem algoritmos para a consciência.

A inteligência é a capacidade que temos de resolver problemas e a consciência é a ética, o que distingue o bem do mal, o certo do errado.

Num futuro dominado pela IA, que será mais próximo do que julgamos, imaginem um idoso a ser conduzido por um carro inteligente. No percurso, um seu neto passa a estrada e o carro para se desviar tem de embater noutro carro provocando a morte do idoso. O carro não irá tomar esta decisão, porque o imperioso para a IA será sempre salvar a vida do proprietário do carro. No entanto, se fosse o idoso a conduzir e não a IA, provavelmente o idoso optaria, até instintivamente, por salvar a criança.

Quando inventamos a faca, tanto podíamos, com essa tecnologia, fazer uma cirurgia como matar uma pessoa. A faca não tem o poder de decisão, compete ao Homem saber como utilizá-la. Se a faca fosse IA, decidia, ponto. Agora imaginem o que poderia decidir baseada apenas em inteligência!

Pensa-se que dentro de sete anos a IA terá evoluído de tal forma que não seremos capazes de distinguir o virtual do real.

Poderemos ter um senhor Putin virtual a anunciar o lançamento de uma bomba atómica sobre Nova Iorque. A reação poderia desencadear uma guerra mundial baseada num falso perfil.

Se não regularmos já a IA, o mais provável será que uma entidade-não-humana desprovida de emoções, decida que a espécie humana, infinitamente menos inteligente, menos poderosa, é um inútil embaraço que deve ser extinto!

 

 

 

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