Editorial

Chegaram os saldos políticos
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Cristina Miranda

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Confesso que não tenho paciência para a forma como se fazem, desde sempre, as campanhas eleitorais no nosso país.

Já falei disso aqui, em crónica. É profundamente penoso ouvir candidatos que anunciam de forma irresponsável, todo o tipo de promessas sem medir o que dizem. Na verdade, parece uma feira onde cada vendedor, de megafone na mão, tenta persuadir – com tudo o que lhe vem à cabeça -, que o melhor?produto é o seu.
O problema é que essa forma de fazer campanha, cai em descrédito junto dos mais informados. Do salário mínimo e pensões que vão ultrapassar a Espanha em 4 anos, às portagens e o IUC que, por artes mágicas vão agora desaparecer, não se aguenta!

A realidade nacional é bem diferente desta fantasia que nos querem vender:

1- O aumento de salários está intimamente ligado ao desempenho da economia do país (com as suas inevitáveis variáveis) e este, intimamente ligado à estabilidade fiscal, incentivos, liberalização e desburocratização do sector;
2- O aumento das pensões está intimamente ligado a reestruturação da Segurança Social e desempenho da economia;
3- A redução de impostos está intimamente ligada à redução do aparelho do Estado;
4- TODAS estas medidas estão intimamente ligadas ao COMBATE contra as AGENDAS globalistas. Sem este combate em TODAS as vertentes da agenda 2030, o país não parará de empobrecer.

Se não houver coragem de colocar primeiro estas questões em cima da mesa, que estão interligadas entre si, tudo o resto é pura demagogia.
Há coragem suficiente para o dizer em campanha e cumprir estas 4 metas durante o mandato, para depois e só depois, começar a melhorar a qualidade de vida da população? Essa é a minha questão.
Propaganda é fácil de fazer (daí a minha aversão). Política séria e de compromisso, não. Porquê? Porque não é popular. Cria até algum desconforto em eleitores que dependem do Estado (e são muitos em Portugal pois são mais de metade da população activa, isto sem falar das clientelas – o polvo).
A política de verdade não caça votos fáceis mas absorve muito voto da abstenção (acima de 40% e mais difícil de captar) porque é aí onde estão os descrentes na política por estarem fartos de ouvir promessas não cumpridas e outras, impossíveis de cumprir do jeito que são anunciadas. Fartos da política do faz de conta, da mentira descarada, da conversa para “boi dormir”.
É na abstenção que reside o maior cepticismo, a revolta, a descrença. É aqui que se diz “não vale a pena votar porque é tudo farinha do mesmo saco. Prometem o céu sem saber se o podem comprar.”
Ninguém pode prometer sem dizer “preto no branco”, e antes de qualquer outra promessa, “o Estado tem de encolher 50%” e que para este objectivo tem de “auditar todo o aparelho do Estado” para o tornar mais eficiente, mais leve, menos oneroso e totalmente transparente. O aparelho do Estado não produz riqueza logo não pode ser o maior sugadouro de impostos dentro do país. Veja-se a Holanda, Suécia, Suíça, Irlanda e outros países com a mesma dimensão geográfica de Portugal e com um Estado mais pequeno onde tudo funciona com excelência.
O socialismo fez crescer exponencialmente o aparelho do Estado apenas para aumentar o seu eleitorado e isso tem de ser urgentemente revertido.

Observemos através de números de 2022, no PORDATA, esta triste realidade:

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Total de população: 10.444 milhões (2022)
População activa:
no sector privado: 4.582.115
no sector público:
empresarial: 196.953
funcionários administração pública: 745.707
Total: 942.660
População inactiva beneficiária de:
– pensões: 3.638.367
– RSI: 87.052 (dados de 2006 Pordata)
– desemprego: 163.824
Total: 3.889.243
Total de dependentes do orçamento do Estado (população inactiva e trabalhadores do Estado): 4.831.903

Podemos observar que em 2022, havia mais dependentes do Estado do que população activa, fora do Estado. Significa isto, que 4.582.115 contribuintes suportam os custos dos 4.831.903 dependentes do aparelho do Estado.
Como é que um país pode crescer com uma asfixia assim? Ah! e não me venham aqui com a ladainha de que os empregados do Estado também pagam impostos para justificar que não são um peso na economia do país. Na verdade, pagar impostos (lembro que o salário mínimo nao paga IRS) não é suportar os custos salariais. Nada tem a ver. Esses custos, na realidade são na sua maior parte, suportados pela entidade patronal, aqui neste caso, o Estado.
Portugal está com uma dívida colossal, não tem dinheiro nos cofres e a UE não é garante de liquidez, muito pelo contrário. Quanto mais dependemos financeiramente da UE e do Banco Central, mais reféns ficamos da ditadura desses oligarcas da Europa que definham o país.
A primeira promessa tem de ser, REDUZIR todo o aparelho do Estado, uma medida estrutural urgente que foi sistematicamente ignorada por todos os governos até ao presente.
Porque o Estado é uma casa desgovernada, sem controle, onde quem detém o poder usa-o a seu bel prazer, sem responsabilidade e até de forma dolosa. Está mais do que provado pelos inúmeros casos que quase diariamente surgem na comunicação social, e que são apenas a “pontinha do iceberg”.
Eis como, na minha opinião, deveria ser:
auditar todo o aparelho do Estado: cortar no desperdício, nos excessos, no inútil;
tolerância zero para déficit nas empresas públicas que ao longo de décadas absorveram biliões de euros e mesmo assim continuam com déficits crónicos vergonhosos e qualidade deficitária – a carris; a TAP; a STCP; a CP – recorrendo às parcerias público privadas em todos os sectores do Estado onde há prejuízos;
criminalizar a gestão dolosa: impedir cargos públicos aos condenados por corrupção e gestão danosa, obrigando-os a responder pela dívida com os bens pessoais. Tem de haver punição para a gestão dolosa porque só assim se desincentiva o roubo ao erário público
Estado reduzido ao seu papel de regulador e fiscalizador – com parcerias público privadas na saúde, no ensino, nos transportes. ADSE para todos os trabalhadores;
eliminar observatórios que não observam nada: https://oinsurgente.wordpress.com/2012/05/05/lista-de-observatorios-portugueses/
transparência absoluta nos concursos públicos; acabar em definitivo com os oportunistas no Estado; os concursos públicos são sempre inflacionados por muitos milhões; fiscalização contínua aos processos concursais e a gestão camarária.
as PPP rodoviárias são criminosas e tem de ser revertidas: https://eco.sapo.pt/opiniao/ppp-repetir-os-erros-do-passado/
aumentar a confiança no Estado: plataforma digital com prestação de contas semestrais do Estado para sabermos para onde vão os impostos; o povo ser chamado a pronunciar-se sobre propostas políticas fracturantes através de referendo;
tolerância ZERO para resgates de bancos; nem um cêntimo sem auditorias externas a esmiuçar toda a contabilidade para averiguar se houve gestão dolosa; obrigar os acionistas a cumprirem com a directiva da UE e serem os primeiros a responder financeiramente por prejuízos.

E depois, imediatamente a seguir:
estimular a economia e investimento com estabilidade fiscal, liberalização e desburocratização do sector; redução/isenção de encargos fiscais; reformas fiscais atractivas para o sector, colocar o Estado a pagar todas as responsabilidades a 20-30 dias da factura, no máximo (o Estado caloteiro é a pedra na engrenagem da economia que endivida todo o país); estas medidas de apoio às PME acompanhadas de uma eficiente fiscalização, desincentivam a economia paralela que não é mais do que o resultado da asfixia fiscal em que o socialismo deixou o país. Usar como modelo a Irlanda.
reestruturar a segurança social. Como? Aqui:
Começando a GERIR (as contas da segurança social não estão a ser geridas mas sim, usadas sem qualquer responsabilidade, para investir em fundos – até tem acções da Coca Cola e Luis Vitton – e servindo até para tapar buracos do governo) essas contas de forma transparente e responsável:
colocando o dinheiro dos descontos do trabalhador à parte, sem possibilidade de movimentar a não ser para atribuir as respectivas reformas.
Os descontos das empresas para a segurança social, referente a cada salário pago, noutra conta, para efeito de pagamento de baixas médicas, tratamentos de saúde e apoios sociais a TRABALHADORES.
Os restantes apoios sociais, a não trabalhadores, noutra conta gerido com fundos do OE e UE (esta conta seria a única a poder sofrer cortes ou aumentos consoante a evolução socioeconómica).
Tudo separado. Sem possibilidade de usar estas verbas para outros fins. Porque o que é do trabalhador tem obrigatoriamente de lhe ser devolvido para uma reforma condigna. É preciso parar o desfalque.

APENAS depois destas medidas se pode avançar com a correcção às políticas danosas que prejudicaram várias classes profissionais, jovens e reformados deste país, lesados décadas a fio por uma classe política irresponsável, e em muitos casos, criminosa: os professores, os médicos, os enfermeiros, os agentes de autoridade, jovens recém formados e tantos tantos outros, roubados e maltratados pelo Estado.
É muito fácil prometer e depois, chegar ao governo e dizer: “ups! afinal não podemos fazer nada do prometido porque não há dinheiro, a culpa é do “Costa”. Assim, também eu prometo a Lua.
Esta forma de fazer política tem de acabar. Não precisamos que nos prometam o paraíso. Precisamos que se comprometam a gerir com responsabilidade os recursos do país, estancando imediatamente as fugas colossais de dinheiro público (por via da obesidade mórbida do aparelho do Estado e gestão dolosa e criminosa dos detentores de poder), para assim, ser possível fazê-lo crescer, torná-lo mais próspero, mais seguro, com serviços públicos de qualidade e acessíveis a todos.
Porque quem muito promete sem condições, pouco cumpre. Poucas promessas mas com sentido de responsabilidade e bem sustentadas, aumentam a credibilidade e esperança. O contrário, não.
Fica aqui a dica.

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