Editorial

Flores do interior português
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Daniel Jorge

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Um campo de flores amarelas na aparente inocência da vida.

Olhava para elas com desprezo. Nada mais que isso. As flores.  Amarelas. Porque não azuis? Sempre gostou mais da cor azul. O amarelo incomodava-o. Não tinha razões em específico para isso. Simplesmente não achava que o sentido da cor fosse apropriado ao mundo

“Não concordas?” Perguntou ele ao cão amarelo que olhava para ele com a mesma inocência das flores.

Sentou-se na cadeira lânguida, também amarela, e ficou estático a observar a paisagem. O céu nublado escondia o azul. Enormes planícies com árvores, postes de eletricidade,  o toque humano. E flores amarelas. Essas havia em todo o lado.

Tinha sido ele a fazer as pequenas escadas em que a cadeira se segurava. Usou aquelas pedras. Mas é uma pena. Ninguém olha para o chão, para o que está em baixo. Todos olham para cima, ou até para si próprios. Procuram o amarelo nas amarguras da vida. Não gostava de complicar as coisas. A vida não passa de um sonho. Estamos a dormir para acordar para a realidade. Era isso o que pensava. Ninguém lhe mudaria a opinião. Os pais gostavam de flores amarelas… Irmãos, nunca teve.

“Também pensas assim?” Olhou de novo para o animal. Este já não olhava para ele. Olhava para as flores.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Ao menos via terrenos planos. Planaltos, vales, falésias,  coisas inclinadas. Incomodavam-no. Então porque fazia escadas? Porque essas inclinações eram produto dele, tipo filhos, cada pedra.

Puxou do maço. Abriu-o, tirou um dos quatro cigarros que restavam. Pegou no isqueiro do bolso. Acendeu o cigarro. Pegou-lhe com os lábios e inalou o amarelo que o incomodava.

 

 

 

 

 

 

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