Editorial

PENSAMENTOS DE VERÃO
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Joaquim Letria

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Joaquim Letria

Professor Universitário

 

Nós, cristãos, celebramos todos o Natal. Mas, na verdade, e em rigor, não se sabe muito bem em que ano e em que dia Jesus da Nazaré terá nascido. À excepção dos evangelhos não há qualquer outro documento que comprove a existência de Cristo.

Flávio, Plínio e Tácito, bem como outros cronistas romanos, não se referem nos seus escritos aos efeitos da vida do nazareno, ainda que se pronunciem quanto aos efeitos da morte dum certo rabino judeu.

Os agnósticos têm sempre insistido em que a esmagadora maioria dos mitos da antiguidade têm, invariavelmente, um nascimento entroncado na fábula da anunciação: o imperador Chin-Nung, da China, o Deus Quetzalcoatl do México, Vishnu da Índia, os faraós, Zoroastro, os conquistadores mais importantes eram primeiramente anunciados por arcanjos e nasciam, depois, de mãe virgem.

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A existência de Jesus tem, portanto, pouca solidez histórica e foi recebida com grande hostilidade pela intelectualidade do seu tempo. Juliano, o Apóstata, considerava os cristãos como os novos bárbaros que proibiam a liberdade de religiões no mundo pagão.

Os helenistas e os filósofos diziam, com enorme virulência, que Jesus comparado a Platão e Aristóteles não passava duma criança débil. Os bispos redigiam as encíclicas num péssimo grego burocrático. Apoiando-se nos pensamentos daquele renovador judeu, acossou-se aqueles que não acreditavam no monoteísmo.

Houve perseguições contra os heterodoxos, os livre – pensadores e os sábios. Toda a filosofia é a preparação para a morte, mas os seguidores de Cristo temiam o vazio, receavam o sexo, eram obcecados com os ossos e viviam fascinados pelas relíquias.

Os estóicos interrogavam-se se antes de nascermos não existíamos, por que razão teremos nós de nos convertermos no que éramos no início. Os cristãos temem o nada.

Tudo o que aqui escrevo é verdade. Mas também é verdade que Galileu venceu e que as ideias resultantes da verdade sempre acabaram por triunfar. Nem papas incestuosos nem bispos pecaminosos conseguiram destruí-las.

Hoje, a religião não escraviza ninguém. Bem pelo contrário. Muitas vezes a Igreja transforma-se num espaço de verdade, em arauto de ideias como se verificou na configuração da História da Europa, mesmo quando esta teve de se defrontar com a sua racionalidade e com a ilustração contra as trevas da Igreja que lhe deram consciência sem lhe travar o progresso. Assim, hoje, a Igreja nos traga esperança, pois não há pior escravo do que aquele que é impedido de exprimir os seus pensamentos.

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