Editorial

Israel não é a Ucrânia, Putin não é a Rússia e o Hamas não é a Palestina!
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Damião Cunha Velho

A Ucrânia foi invadida por um ditador sanguinário russo e Israel foi atacada por um grupo terrorista palestiniano.

Até aqui parece tratar-se de um ato semelhante.

Porém, há uma diferença que faz toda a diferença: a Ucrânia nunca invadiu a Rússia e Israel passou a vida a invadir e a roubar território à Palestina.

O povo judeu sempre foi um povo perseguido ao longo da sua história. Foram expulsos da Palestina pelos romanos, depois tiveram de fugir do antigo Egipto – o êxodo, uma caminhada bíblica que durou 40 anos até chegarem à “Terra Santa”, Israel. Em Portugal, foram obrigados a converterem-se em “cristãos-novos”. Mais tarde, na Segunda Guerra Mundial, foram mortos milhões por Hitler em crematórios – o holocausto nazi.

Depois da Segunda Guerra Mundial, a comunidade internacional concedeu aos judeus aquela área geográfica que conhecemos como “Israel” e que também lhes pertencia por razões históricas.

Israel cresceu, modernizou-se e construiu um arsenal de armas enorme, incluindo armas nucleares. Isto com a ajuda do parceiro de sempre, os EUA. Também, com a ajuda de milhares de judeus espalhados pelo mundo, excelentes homens de negócios, muito endinheirados.

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A união entre os judeus é única no mundo. Não foi por acaso que em 1967, conseguiram, em apenas seis dias, vencer quatro países vizinhos que os atacaram, apoiados por outros oito. Ficou conhecida como a “Guerra dos Seis Dias”.

Um orgulho para israelitas que lhes pode ter dado a ideia de invencibilidade.

Progressivamente, Israel tem conseguido aumentar o seu território com ocupações sobre o Estado Palestiniano. Estado que Israel não reconhece como tal. Dessas ocupações resultaram verdadeiras ilhas armadas dentro do território dos palestinianos – os colonatos.

Israel não se contentou com o território que lhe foi atribuído e foi sempre conquistando terreno vizinho que não lhe pertencia. Comportou-se como a Rússia de Putin sobre a Ucrânia, com milhares de mortos, não da noite para o dia como aconteceu na Ucrânia, mas ao longo de décadas.

Os israelitas não aprenderam. Fizeram aos palestinianos o mesmo que lhes fizeram a eles durante milhares de anos. Israel e o povo palestiniano, desde que o Estado de Israel foi criado em 1948, estiveram sempre em guerra.

Por aqueles lados, os momentos de acalmia deveram-se aos moderados de ambas as partes. O problema são os extremistas. Yitzhak Rabin, talvez um dos melhores presidentes de Israel, iniciou um processo de paz com o povo palestiniano, que parecia estar a chegar a bom porto. O seu esforço valeu-lhe, em 1994, o prémio Nobel da Paz, juntamente com Yasser Arafat, presidente da OLP (Organização para a Libertação da Palestina). Por essa razão, pouco depois de fazer um discurso público, acabou por ser assassinado em plena rua por um extremista judeu.

Os consensos e a paz não são alcançáveis enquanto houver extremistas. A atuação de Israel ao longo destes anos tem alimentado com ódio os extremistas palestinianos. Também tem alimentado com ódio os extremistas judeus, cujo sonho é varrer do mapa todos os não judeus. Pois, ainda há dias, em Jerusalém, judeus ortodoxos cuspiram em cristãos em plena Via Sacra.

Na terra de Cristo, não há santos. Na terra onde nasceram as grandes religiões monoteístas, não há paz.

Esta guerra no Médio Oriente não tem fim, nem terá enquanto houver Hamas, Intifadas, Benjamins Netanyahus, Ariels Sharons, Guerras Santas… e quem os alimenta.

O ataque terrorista do Hamas do passado fim-de-semana – não da Palestina, porque um grupo terrorista não representa uma pátria nem um povo que ele próprio hostiliza – terá contado com o apoio do Irão e quem sabe da Rússia para desviar atenções e apoios para a Ucrânia. E até hoje, os sucessivos avanços de Israel sobre o território palestiniano, tiveram o apoio dos EUA. Ou seja, as grandes potências que enchem a boca para falar da paz!

Já se contam milhares de mortos e feridos e outros milhares que se adivinham, quer de um lado quer do outro. Sendo o ataque do Hamas indefensável, e é, como podemos justificar os ataques de Israel, na Palestina, a escolas e hospitais? Afinal, não é o mesmo modus operandi de Putin sobre a Ucrânia? E digo Putin e não Rússia porque um psicopata criminoso não representa um povo que oprime.

Ambos são crimes de guerra. Aqui não pode haver dois pesos e duas medidas.

As imagens que nos chegam pelas televisões são chocantes. Porém, a imagem que mais me chocou, talvez por ter sido pai nesse ano, foi há 23 anos, quando um polícia israelita matou, intencionalmente, uma criança palestiniana enquanto o pai a tentava proteger e suplicava para que não lhe matassem o filho – (https://youtu.be/4NNz_FHCaBg?si=b5QeU34cm6FslV-C).

E assim se semeia o ódio que depois se paga com sangue!

Um ciclo que tem de ser quebrado urgentemente por quem quer mesmo a paz!

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