Editorial

Porque há tantos descontentes com o 25 de Abril?
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Damião Cunha Velho

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A visita de Lula a Portugal, a convite do presidente da República e do governo português, para as comemorações do 25 de Abril foi de uma insensatez indesculpável.

Quarenta e nove anos depois da Revolução, há cada vez mais pessoas descontentes com o 25 de Abril e devíamo-nos perguntar porquê, até para bem da democracia, quando esse dia pôs fim a uma ditadura e abriu um mundo de esperanças aos portugueses.

E a resposta talvez seja porque essas esperanças foram para muitos defraudadas.

Toda a liberdade que veio depois de Abril de 74 e Novembro de 75, já em democracia, foi pautada por múltiplos acontecimentos que nada têm a ver com liberdade ou democracia, mas sim com abusos da liberdade. Sendo que os atores principais desta nova era foram os responsáveis pela degradação do sistema ao não conseguirem estancar o maior desses abusos, e para mim, o cancro da nossa democracia: a corrupção.

O enriquecimento ilícito, os compadrios, as assimetrias sociais, uma justiça para ricos e uma justiça para pobres e um sem-fim de outras injustiças, em que o cidadão comum é o mais prejudicado, têm apodrecido a democracia.

Os milhões para a Banca, os resgates do FMI, Sócrates e Salgado à solta, a lavandaria de dinheiro em que se tornou a TAP, as eternas “portas giratórias” de elementos dos partidos do poder… já não são apenas as maçãs podres no cesto dos sucessivos governos, é todo o cesto que está podre e bolorento.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Depois de tudo isto, quando tudo fica na mesma, quando ninguém é responsabilizado, quando a impunidade se passeia diante dos olhos de quem acreditou em Abril, só se pode compreender quem está desiludido.

Para cúmulo, este ano Lula da Silva foi convidado para participar nas cerimónias de comemoração do 25 de Abril, com um arranjo diferente face a tantas críticas. Mais uma vez a democracia deu um tiro no pé por duas razões: a primeira, porque sobre Lula paira a sombra da corrupção com o caso do Mensalão e por ele próprio ter sido preso; a segunda, porque Lula é um apoiante declarado de ditadores como Putin, Maduro e Xi Jinping.

O mundo, e a Europa em particular, está a viver uma guerra com consequências gravíssimas cujo epicentro está na Ucrânia, com milhares de inocentes mortos, milhões de refugiados, crianças abruptamente separadas dos seus pais…

Um drama que só conhecíamos dos livros de história.

Portugal e bem, como elemento da NATO, tem estado a apoiar a Ucrânia, tal como os EUA, contra a invasão russa. Sobre esta matéria não pode sequer haver hesitações na escolha do lado a defender quando há um país soberano que foi invadido e quando Putin foi considerado um criminoso de guerra pelo TPI.

Acontece que Lula não está do nosso lado, está contra a Europa, a NATO e os EUA, como fez questão de o dizer recentemente em Pequim.

Portanto, contra Portugal e os países que estão a lutar juntamente com a Ucrânia contra a Rússia precisamente na defesa da liberdade, da democracia, de Abril. Pois, se assim não fosse talvez Putin já tivesse chegado a Lisboa.

Quando a democracia está em decomposição por culpa própria, Portugal faz o impensável ao convidar alguém como Lula para celebrar o Dia da Liberdade na mesma casa onde recebemos por videoconferência Zelensky.

Uma contradição plena e vergonhosa.

Para mim, este 25 de Abril só podia ter sido comemorado com protestos. Protestos em nome da liberdade que Abril proclamou. Protestos civilizados, ao contrário do que fez o Chega na AR. Protestos contra quem convidou Lula, mas sobretudo contra quem vai legitimando todo este descalabro que já dura há vários anos, ou seja, contra os responsáveis pela grande desilusão em que Abril se está a tornar para cada vez mais portugueses… sob pena de voltarmos a uma nova ditadura!

Como dizia Salgueiro Maia “Há alturas em que é preciso desobedecer”!

 

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