Editorial

A diferença entre compreender e aceitar os homicídios
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Damião Cunha Velho

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Esta semana um cidadão imigrante afegão matou duas mulheres e fez vários feridos no Centro Ismaili em Lisboa.

Logo choveram linchamentos públicos sobre este homicida. Também inúmeras críticas à comunicação social quando tentou perceber o que levou esta pessoa a cometer tão bárbaro ato. O argumento era que se estava a tentar desculpar o homicida por ter tido um surto psicótico, e com isso não ser dada a mesma notoriedade às vítimas.

Também houve um discurso repugnante e populista de André Ventura, que quis meter no mesmo saco o imigrante homicida com todos os outros imigrantes. As culpas do Chega foram até ao primeiro-ministro, como se não houvesse cidadãos portugueses a fazer o mesmo. Basta lembrar os vergonhosos números de vítimas mortais de violência doméstica em Portugal. Um verdadeiro delírio de André Ventura que só lhe faltou responsabilizar o aquecimento global pelo sucedido.

Os “surtos” de Ventura já começam a ser recorrentes.

É óbvio que o que aconteceu tem que ser condenado e jamais pode ser aceite por quem quer que seja.

Mas tem que ser compreendido pela psicologia, pela criminologia, pela psiquiatria ou pela sociologia.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Pois só conhecendo as causas, se poderá intervir no sentido de evitar casos idênticos no futuro.

Recentemente, nos EUA, um jovem foi ao médico porque sentia que algo de estranho se passava consigo, que tinha pulsões homicidas e pulsões suicidas, ou “pulsões de morte” como lhes chamou Freud. O médico desvalorizou e disse-lhe que se tratava de uma fase da sua vida que iria naturalmente passar.

O que aconteceu foi uma tragédia, porque este jovem saiu à rua e matou aleatoriamente dez pessoas e a seguir suicidou-se. Antes de o fazer deixou um bilhete escrito a pedir para ser autopsiado. Na autópsia encontraram um tumor numa zona do cérebro que levou os médicos a estabelecerem uma correlação com o acto tresloucado cometido.

Portanto, é um imperativo da ciência perceber o que leva a que situações como esta aconteçam. Não para desculpar, mas para detetar sinais, tratar as pessoas com sintomatologia passível de desencadear comportamentos desta gravidade, e prevenir para que outros atos como este não se repitam. Nomeadamente, desde muito cedo nas escolas com sensibilização pedagógica.

Há uma diferença substantiva entre compreender e aceitar.

Estes atos não se aceitam, daí existir uma moldura penal para eles, mas sem os compreender jamais se conseguem evitar.

Até porque todos, como animais que somos, temos instintos selvagens que estão domesticados. No entanto, nada nos garante que eles não se revelem a nós próprios ou aos que nos são próximos.

Aqui não vale cuspir para o ar porque o cuspe pode-nos vir a cair em cima.

Aceitar não, compreender sempre!

 

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