Editorial

A “FIB” – Os Jovens e o Trabalho 
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Damião Cunha Velho

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Ninguém sabe ao certo a razão porque estamos cá, porque viemos ao mundo ou qual o real sentido da vida. No entanto, todos sabemos o que queremos: ser felizes.

Ser feliz não é fácil e dá trabalho, sobretudo no trabalho e para conseguir “o” trabalho. Isto quando se sabe – e os jovens sabem – que sendo o trabalho parte integrante da vida, só faz sentido se for sinónimo de prazer. Para isso, é preciso ser perseverante, determinado, estudar muito e ter a coragem de sair da zona de conforto.

Já lá vai o tempo em que as os jovens iam trabalhar para satisfazerem unicamente as suas necessidades mais básicas. Foi assim nas décadas de 60 e 70 do século passado em que praticamente se trabalhava para comer. Na minha geração, que começou a trabalhar nos anos 90, procurava-se sobretudo um emprego seguro, de preferência na função pública, onde não existem despedimentos, num país muito estatizado e pouco industrializado.

Hoje, os jovens querem trabalhos que lhes proporcionem realização profissional, satisfação, ao invés de passar uma vida inteira num trabalho a pensar no dia da reforma. Trabalhar somente para pagar as contas e ter segurança já não é suficientemente apelativo, não chega porque não satisfaz quem quer trabalhar motivado. Uma exigência que subscrevo, pois só assim se é verdadeiramente produtivo e feliz.

Aliás, a felicidade e a produtividade não existem em compartimentos estanques, são causa e consequência. Se repararmos, nenhum jogador de futebol é bom jogador se não gostar do que faz.

Também é por esta razão que muitos jovens emigram. A grande parte das empresas portuguesas ainda não assimilou esta realidade como sendo essencial, por falta de meios ou visão. Olham, ainda, para o trabalhador como um mero funcionário e não como um ativo. Muitas pagam-lhes mal e não os tratam como humanos que são, iguais em sentimentos, emoções, ambições, embora com tarefas diferentes. A verdade é que as empresas não vivem isoladas e o meio em que estão inseridas, as mentalidades e as políticas, também as condicionam.

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No fundo, o maior investimento das empresas são os seus empregados. E empregados satisfeitos são também a melhor publicidade de uma empresa.

As grandes empresas, sobretudo as multinacionais já perceberam isso e têm políticas e praticas de gestão dos recursos humanos, que encerram essas preocupações. No entanto, com a introdução da Inteligência Artificial para automatizar processos, o meu receio é que estas empresas, num mundo extremamente competitivo, obcecado pela rentabilidade, deem um passo atrás deixando de investir nos trabalhadores enquanto indivíduos, enquanto entidades humanas.

Se a insatisfação no trabalho passar a ser uma indiferente constante por parte dos empregadores, novas revoltas sociais surgirão. Ninguém quer voltar para trás, ninguém quer gastar o seu tempo de vida como se o tempo esticasse ou como se a recompensa viesse numa outra vida que ninguém sabe se existe.

Estes jovens, a geração academicamente mais qualificada de sempre, não está disposta a isso e não se vai sujeitar como fizeram as gerações anteriores. É claro que as gerações anteriores criaram, com muito sacrifício, as condições de retaguarda para que os seus filhos e netos possam agora almejar mais do que eles do ponto de vista profissional. Porém, nem todos tiveram a sorte de ter uma rede de segurança e mesmo assim muitos destes atiram-se de cabeça na procura de trabalhos onde acreditam que podem exercer a sua vocação, seja em que parte do mundo for.

Ainda bem que o fazem, porque a vida não pode ser apenas sacrifício. Quem sabe se assim os índices de felicidade dos cidadãos passem a ser um critério relevante a contar para o PIB dos países!

Ótimo seria mesmo se as novas gerações contabilizassem a riqueza das suas vidas não pelo PIB – Produto Interno Bruto, mas pela FIB – Felicidade Interna Bruta!

Afinal, o que é mais importante? Viver ou apreciar viver?

 

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