Editorial

A resiliência dos portugueses
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Arlinda Rego Magalhães

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A resiliência do povo português vê-se, na sua capacidade de resistir às mais difíceis condições, e ainda assim, continuar a viver e a vencer etapas.

Ser resiliente, é ser mais forte!

É chorar, mas aguentar a dor!

Receber o golpe, e cerrando os dentes, avançar em força e raiva, para vencer!

Sofrer com anos de ditadura, de fome, de falta de escolarização e de abandono, em Portugal.

Trabalhar de sol a sol sem perspectivas de futuro.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Emigrar rumo ao desconhecido, com meia dúzia de tostões no bolso, e um naco de boroa e outro de toucinho, no bolso das calças.

Ir por montes e vales, a pé, e passar “a salto” as fronteiras.

Ser considerado inferior, menos válido intelectualmente, e fazer só trabalhos pesados, era esta a sina dos que conseguiam chegar vivos ao seu destino.

Muitos eram apanhados e presos no percurso.

Anos a fio sentiram a “espinha”, a vergar com o peso da injustiça política, social e económica do seu país.

Continuar a sofrer lá fora, com a desigualdade de tratamento, excesso de trabalho e múltiplas ofensas, eram as únicas condições, para poderem ganhar muito dinheiro.

Estes homens e mulheres resistiram a tudo, e vingaram-se, reerguendo-se!

Este país, que os maltratou, recebeu imenso dinheiro suado, e poupado com lágrimas de sangue. Todos compraram carro e construíram casa em Portugal.

Os seus familiares puderam ter melhores condições de vida.

Mas também muitos foram enganados, aqui no seu país, pois mal sabiam ler e escrever.

E isto não é admissível!

Será esta a sua maior virtude? A resiliência?

Será a resiliência, a vitória sofrida sobre a morte, insistindo em tentar restaurar a vida?

Qual vida?

Aquela após um 25 de Abril de 1974, que se apresentava justa e recompensadora, mas que a quase todos defraudou?

Ou esta que se coloca em bicos de pés, por ter eleições livres, liberdade de expressão e mais acesso à cultura e educação, mas que continua a enviar pessoas jovens para fora do país?

A particularidade deste tipo de vida, que ainda não pretende, aprender a respeitar o dinheiro, os ganhos, a experiência, a exigência das aprendizagens dos nossos primeiros emigrantes, continuando numa atitude de sobranceria, não serve a ninguém.

Porque já ninguém consegue, resistir aos impostos, à falta de ética na economia e na saúde, e ao desinvestimento na educação.

A resiliência é uma súplica, é uma palavra fortíssima que não tem de se transformar numa forma de vida. Sobretudo não pode ser, a única realidade de vida do povo português.

Aguentar até ao limite das suas forças e resistir sempre!

É demais!

O povo português pratica, ou melhor é obrigado, a praticar a resiliência, de uma forma muito exigente.

E tal como muitos outros povos, pode transformar essa resiliência numa obsessiva forma de recuperar/reconquistar os seus direitos humanos e de sentir segurança.

Muitos de nós, não nos revemos, em extremismos sociais, económicos e político partidários.

Mas o esforço que é feito, de forma significativa, abusiva e muitíssimo mal explicado, pela tutela.

Pode levar, todos os habitantes deste país que o praticam, a exacerbar as teorias de uns, e os supostos pragmatismos de outros, a confundirem os espíritos de todos, e criar o caos.

Somos pessoas simples, mas muito atentas.

E não gostamos, de todo, de ver os nossos conterrâneos com medo, indignação e insegurança. É uma condição sufocante!

E extremamente incómoda, não sentir confiança nem segurança a curto, médio e longo prazo. Tudo depende sempre de nós e da nossa resiliência?

É que já estamos todos, muito mas mesmo muito cansados, dos nossos milhões na TAP em Lisboa.

Da ideia disparatada do novo aeroporto em Lisboa.

Das novas linhas de metro em Lisboa.

Das urgências hospitalares em Lisboa.

Das discussões sem nexo na Assembleia da República em Lisboa.

Do dinheiro dos nossos impostos gasto nas habitações para estudantes em Lisboa.

Dos processos judiciais, de banqueiros e ministros demoradíssimos, dicutidíssimos complicadíssimos, onerosíssimos, absolvidíssimos em Lisboa.

Não há RESILIÊNCIA que ajude!

1 comentário

  1. Infelizmente…o povo português está decepcionado…tanta esperança no 25 de Abril …finalmente chegamos à terceira idade e continuamos a pagar imensos impostos e muita falta de apoio…
    Reconheço que poderia ter lutado mais,reivindicado mais,mas limitei-ne à minha profissão , ao matrimónio e cuidadora dos familiares na terceira idade…e agora??? Quem cuidará de nós??? Lares sobrelotados…e continuaremos a ser idosos sem apoios…

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