Editorial

Montenegro está condenado a ser um Primeiro-Ministro fantoche!
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Damião Cunha Velho

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Estas eleições legislativas já podiam estar resolvidas para o PSD se Luís Montenegro tem perdido as eleições. Parece estranho, mas faz sentido.

Da ida às urnas resultaram três blocos partidários:

1 – Esquerda, com 92 deputados (PCP, BE, PAN e Livre, com PS à cabeça);

2 – Direita, com 88 deputados (CDS e IL, com PSD à cabeça);

3 – Extrema-direita, com 50 deputados (Chega).

O problema é que nenhum destes blocos consegue sozinho formar um governo de maioria absoluta.

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A AD (PSD + CDS + PPM) venceu as eleições por uma margem quase insignificante em relação ao segundo mais votado, o PS. O Chega, o terceiro mais votado, quadruplicou os deputados no Parlamento.

Como por um voto se ganha, cabe ao PSD formar governo e Marcelo já indigitou Montenegro nesse sentido. Porém, dada a irrelevante margem de votos que deu a vitória a Montenegro, apenas mais 54 mil votos em relação ao PS, e tendo à sua esquerda 78 deputados do PS (o mesmo numero que o PSD) e à sua direita 50 do Chega, resta-lhe escolher se quer governar com o apoio do PS ou com o apoio do Chega.

Sucede que Montenegro pôs duas condições sem as quais não aceitaria ser primeiro-ministro: o PSD ser o partido mais votado e não fazer qualquer coligação ou acordo de governação pós-eleitoral com o Chega.

A primeira conseguiu à tangente.

A segunda (não tendo maioria e com o PS a não viabilizar um governo da AD) a manter-se, Montenegro não conseguirá governar. Pode ser primeiro-ministro, um primeiro-ministro sem capacidade governativa ao estar refém do poder de veto do PS ou do Chega.

Um político só pode estar na política se honrar a palavra dada. Só assim se pode dignificar a política, não existe outra forma se queremos devolver a autoridade moral e o respeito que quem comanda os destinos do país merece. Por isso, entendo que Montenegro não deve voltar atrás.

Assim sendo, o imbróglio que saiu das eleições só tem uma de duas soluções:

– A primeira, o PSD chegar a um acordo com o PS em várias matérias que possam ser aprovadas de imediato na AR. Desde logo nas medidas que ambos delas fizeram bandeira na campanha eleitoral (professores, forças de segurança, oficiais de justiça, médicos e enfermeiros). Depois, manter um diálogo permanente com o PS para acordos possíveis por forma a manter Portugal governável.

– A segunda, Montenegro demitir-se e dar lugar a “um número dois” do PSD que não tenha dito “não é não” e este, com o apoio do próprio partido, associar-se ao Chega para formar uma maioria absoluta de direita capaz de levar a legislatura até ao fim. Isto teria muito provavelmente acontecido se Montenegro tivesse perdido as eleições ao manter a palavra dada e se Marcelo aceitasse o novo nome e a nova geringonça à direita. Marcelo, encostado à parede, teria que escolher entre a governabilidade e a ingovernabilidade!

Acontece que o PS quer liderar a oposição, já o disse e não vai estender uma passadeira vermelha ao PSD.

Acontece que o Chega não é confiável e como partido antissistema que é, sabe que crescerá mais quanto maior for o caos em que o país se tornar. Para quem ainda tinha duvidas, viu-se o que a casa de Ventura gasta na eleição de Aguiar-Branco para presidente da Assembleia da República, mesmo que o “não é não” passasse informalmente a “sim”.

Montenegro ganhou, quer legitimamente ser primeiro-ministro. Será, no entanto, um primeiro-ministro fantoche porque está condenado a levar à AR somente aquilo que os “governos sombra” do PS ou do Chega aprovarem!

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