Editorial

Amigos e amigos da onça 
Picture of Damião Cunha Velho

Damião Cunha Velho

Partilhar

Utilizamos com frequência a palavra “amigo” para designar alguém que conhecemos e que não é propriamente um amigo, é apenas um conhecido.

Este abuso da palavra “amigo” é hoje muito comum e todos já o fizemos.

Até porque o termo “conhecido” não é muito simpático no trato pessoal e marca uma distância pouco calorosa entre as pessoas.

Banalizamos o termo “amigo”, talvez por elegância ou facilidade de expressão, como se alguém tivesse milhares de amigos. Ninguém tem, de facto, muitos amigos e ter poucos que façam justiça ao termo já é uma sorte.

Os verdadeiros amigos não são voláteis, nós é que chamamos “amigo”, sem critério ou exigência, a muita gente. Fomos categorizando os amigos em função da atividade que partilhamos e que não sendo, em abstrato, amigos também não são apenas conhecidos: amigos da pesca, amigos do trabalho, amigos do futebol… O Facebook até inventou uma nova categoria: “os amigos dos amigos”.

Porém, o amigo é alguém a quem confidenciamos coisas íntimas da nossa vida e essa pessoa compreende, explora, interessa-se, tenta ajudar, conforta e não nos abandona em nenhuma circunstância.

O critério é a intimidade e não é por acaso que há casamentos que duram muito tempo, porque os elementos do casal tornaram-se grandes amigos. Como diria Mário Quintana “a amizade é um amor que nunca morre”!

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Também é por isso que perder um amigo é doloroso. Sempre podemos arranjar alguém para ir ao futebol, já alguém que nos conhece da cabeça aos pés não nos cai do céu.

Eu sei que não é politicamente correto dizê-lo, mas se o meu melhor amigo for preso por ter cometido o crime mais hediondo do mundo, eu irei visitá-lo à prisão até ao fim dos meus dias.

Eu tenho amigos assim, que tenho a certeza de que pensam como eu. Todos, um dia, podemos fazer uma asneira, não temos o controle absoluto do nosso cérebro e dos seus mistérios e é ele quem dita as nossas ações.

Já tive mais pessoas que pensei serem amigos. Na verdade, estava em negação. A nossa voz interior é sábia, intuitivamente diz-nos quem são os nossos verdadeiros amigos. No entanto, ninguém gosta de subtrair amigos nem de conflitos ou separações. Perante o facto óbvio de estes supostos amigos desaparecerem nos momentos mais do que difíceis, torna-se praticamente impossível e incontornável não os deixar para trás. Eu já o fiz e não me arrependo de o ter feito. Na minha idade, já não quero perder tempo com quem não já não me diz nada.

Também acontece o contrário. Pessoas que julgávamos serem apenas nossas conhecidas podem revelar-se verdadeiros amigos nessas horas ou dias insuportáveis.

Comigo também aconteceu, com pessoas com quem convivi no passado e que mesmo não estando comigo há uns 20 anos, apareceram como se tivéssemos conversado no dia anterior.

A vida dá voltas e tem surpresas engraçadas…

A verdade, é que quem sempre se sentiu amigo – a amizade é sentimento genuíno – não andou às voltas e mesmo estando fisicamente ausente, esteve e está sempre presente!

E nós, damos conta disso…

Amigos.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Mais
editoriais

Junte-se a nós todas as semanas