A indiferença é na minha modesta opinião, a atitude que provoca mais desgaste e que mais penaliza o ser humano.
Ficar indiferente perante o sofrimento do outro, é esquecer que o outro existe ao nosso lado!
Ter consciência da existência dos outros, é o que nos torna sociáveis e dialogantes.
No entanto, não são raras as situações, em que preferimos não ver, não ouvir e ignorar completamente.
É neste cenário que me quero colocar!
No da ignorância confortável, e desligada da realidade.
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Sempre houve, pessoas que não quiseram ouvir, nem ver e muito menos saber, o que realmente se passava.
Só porque desta forma, nesta posição cómoda, não teriam de intervir.
Diz o povo que “o silêncio é de ouro e a palavra é de prata”. Normalmente após a frase, alguém mais sábio acrescentava a regra.
Se não sabes, ou não queres falar, fica calado. Mas se sabes e queres falar, exerce o teu direito ao discurso, de forma digna, verdadeira e convincente.
Era dignificado o valor da palavra.
Hoje ainda temos a palavra, mais a música de fundo, a imagem e até a legenda, mas não é suficiente.
Agora tudo é, ou pode ser manipulado, cortado, colado até inventado, conforme o julgamento de quem vê, ouve ou lê.
Um poema de 1968
“Cantata de paz” de
Sophia de Mello Breyner Andresen diz:
“vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar”.
Neste momento da nossa vida social, profissional e política, assiste-se a uma total Indiferença, sobre os problemas mais graves da nossa existência.
A total Indiferença com que se assiste diariamente a imagens e relatos de mortes desnecessárias e criminosas é chocante!
Estou em crer que a repetição da notícia, a forma factual como é apresentada, normaliza o sofrimento alheio. Torna- se trivial, ver morrer e ver matar qualquer ser humano, em qualquer lugar do mundo.
O exagero do pormenor sórdido, e a atenção constante dada a estes fenómenos, transformam estas vivências últimas de dor e sofrimento, em acontecimentos banais.
Será por esta e outras razões, que os jovens estão completamente indiferentes, aos meios de comunicação social?
Eles já só acreditam naquilo que veem de facto, a acontecer à sua volta!
Na pobreza de muitos, nas políticas erradas nas áreas da saúde, educação, justiça, habitação e na ineficácia da protecção ambiental.
Então falam, gritam, tornam-se disruptivos de propósito, para serem ouvidos e observados e se possível respeitados.
Alguns jovens não praticam a Indiferença! Só não acreditam nas palavras, nem nas promessas!
E nós também já não acreditamos!
Os que ainda praticam a Indiferença, consomem elevadas quantidades de álcool, para ficarem adormecidos, ou praticam a adição de substâncias várias.
Muitos ainda fazem da indiferença, uma forma de estar, de viver e de sentir.
Desde que possam viver, sem que ninguém os incomode ou contrarie.
Assim sendo, todas as lutas, todos os protestos, todas as manifestações têm uma legitimidade inerente.
Nesta sociedade civil, que se apresenta como inclusiva, não existem prioridades!
Por essa razão e por não se saber ouvir, ver e ler o outro, todas as situações graves, têm remendos e colagens de forma indiferenciada.
Nós e os jovens, que já não ligamos à comunicação social, nem vemos telenovelas, nem reality shows, estamos a praticar uma nova Indiferença, neste caso, a tudo que é supérfluo, de gratificação imediata e sobretudo muito caro.
Desafiem-nos com a verdade!
Com projectos e propostas credíveis!
Não façam mais atrocidades económicas, nem mais politicas sociais desajustadas, muito menos políticas de gestão incongruentes!
Essa pode ser a grande e indiscutível diferença no percurso interno e externo do nosso país!
Não queiram fazer parte, dos rankings do verdadeiro lixo indiferenciado do planeta!
Cantata de paz
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Não podemos ignorar
Vemos, ouvimos e lemos
Relatórios da fome
O caminho da injustiça
A linguagem do terror
A bomba de Hiroshima
Vergonha de nós todos
Reduziu a cinzas
A carne das crianças
DÁfrica e Vietname
Sobe a lamentação
Dos povos destruídos
Dos povos destroçados
Nada pode apagar
O concerto dos gritos.
O nosso tempo é
Pecado organizado.
Na origem desta canção esteve uma vigília, com cerca de 150 católicos, contra a guerra colonial que teve lugar na igreja de S. Domingos, em Lisboa, na passagem de ano de 1968 para 1969, feita por um grupo de católicos.
Entre estes, encontravam-se Sophia de Mello Breyner Andresen, que escreveu o poema propositadamente para a vigília, e o padre
1 comentário
Liiindooo, querida Arlinda…PALAVRAS que nos alertam e nos ajudam a ter certezas do nosso pensamento…às vezes…na minha solidão, duvido dos meus sentimentos e pensamentos…
OBRIGADA!!!