Editorial

Cartas ao Director: Histórias que acontecem!
Picture of Minho Digital

Minho Digital

Partilhar

Eu sou a Nela, minha mãe Adelina Cruz, a mulher mais velha do Darque. E creio, se calhar, até de Viana. Tem 100 anos.

Há duas semanas, chamaram-nos do lar onde ela se encontrava. Puseram no quarto, num quarto assim de repente, ao quarto, tal, a família toda para se despedir da Adelina Cruz, que a tia Adelina ia morrer.

Mas como ela já teve para morrer 11 vezes…

Eu não acreditei muito, mas ao mesmo tempo aquilo parecia mesmo verdade.

100 anos a fazer 101.. É assim, é muito velhinha. O certo é que toda a família se encontrou lá. Netos, bisnetos, filhos, até a minha filha veio de França para se despedir da avó. E toda a gente pensava, quando a Marisa chegar, a tia Adelina vai partir, que é a neta do coração da tia Adelina.

Então, o que acontece? Ela da manhã rezava, rezava e dizia adeus, rezava e dizia adeus. Toda a gente a chorar, agora desta vez, já não vamos fazer a festa à tia Adelina dos 101 anos.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Que bem! O que é que acontece? Depois de toda a família ir lá, netos, bisnetos, filhos todos, toda a gente deixou os trabalhos para ir ver a tia Adelina, para se despedir da tia Adelina. Na parte da manhã, na parte de tarde, foram as minhas sobrinhas, que só puderam deixar o trabalho à tarde para ir lá. E o meu irmão Alfredo já tinha estado lá de manhã. E então ela de manhã à tarde já ganhou o começo.

Quando de manhã rezava e dizia adeus, e dizia adeus às senhoras do lar, a se irem despedir delas todas a chorar, porque ela já está ali há 12 anos naquele lar. Já há muita gente que morreu e a tia Adelina continua lá. E muita gente muito mais nova, ela sempre foi a pessoa mais velha do lar, eu digo, e continua a ser. E então, à tarde, a minha sobrinha mora no Alfredo, então dizem eles, então mãe, e ela já estava arrependidinha e disse, mas irem embora que eu quero descansar. À tarde, e o meu irmão Alfredo, mal, virou-se para as sobrinhas, está assim, então mãe, você está a ver, quero descansar e irem embora. Aí vai a tia Adelina e eles irem embora.

Eu à tarde não sabia nada disso, chego lá;  então mãe?, vou-lhe dar água de manhã, só para ela chupar, que era para não se engasgar, vira-se para mim, ¡não quero comer essa merda, tira-me isso daqui!, eu mal carago, a tia Adelina que se sentia todos mortos, vou-lhe até para colocá-la ao sol, ¡deixa-me estar como eu quero!

Ela já está boa, liga para o meu irmão Alfredo e disse, Alfredo, olha que a mãe já ranhou comigo, diz ele, está a acabar, quer lá à tarde escorraçamos a todos, a mim, aos sobrinhos, embora que queira descansar. A razão para dizer, a tia Adelina ressuscitou todos mortos, mas ela tinha uma razão para estar assim, ela tinha uma infecção urinária onde os médicos não tinham detectado, era isso que eu estava a deitar abaixo, depois de detectarem infecção urinária. A tia Adelina ficou fina como um gato, já come por a mão dela, já pintaram as unhinhas e já ralha com toda a gente. E está feito!

Nela (Darque)

 

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Mais
editoriais

Junte-se a nós todas as semanas