Editorial

AS EVIDÊNCIAS DA GUERRA
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Dina Ferreira

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Dina Matos Ferreira

Consultora e Professora Universitária

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A invasão da Rússia à Ucrânia deixa a descoberto algumas evidências, das quais destaco:

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GOSTA DESTE CONTEÚDO?
  1.  A ingenuidade da Europa (alargo a todo o Ocidente) que a levou a ceder setores estratégicos a parceiros de negócios sem o mesmo padrão de valores, no que toca ao respeito pelas liberdades fundamentais, ficando refém deles e sem estratégia de recuo.
  2. A surpreendente maturidade da sociedade civil ocidental (empresas, ongs, pessoas individuais e coletivas), mais rápida a responder à ofensiva russa (e a arcar com as consequências) do que as próprias instituições. 
  3. Ainda nas instituições, a invasão autocrática da linguagem “politicamente correta” que, em nome de uma pseudo-neutralidade, mascara a realidade, de que é exemplo a ONU, proibindo os seus funcionários de referirem as palavras “guerra” e “invasão”, substituindo-as por “conflito” e “ofensiva militar”.

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Ponto 1. A ingenuidade da Europa revela e traduz o desinvestimento na orientação militar das soberanias ocidentais, não só ao nível do armamento, mas também (o que é mais grave) ao nível do posicionamento estratégico com os parceiros internacionais alinhados com os respetivos governos. Negociar com agentes de países não livres é muito mais do que apenas negociar.

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Sun Tzu abana a cabeça, do alto dos seus 2.500 anos de vida a ensinar-nos: “Conhece o adversário como a ti mesmo e não temas o resultado de cem batalhas”. Ignorar a história, o ADN dos países, é um erro básico que pode pagar-se bem caro, como é o caso. A revisão dos pressupostos (também em Portugal) é inevitável e necessária.

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Favoravelmente, o que está à vista reforça a importância europeia como baluarte da liberdade, da democracia e dos valores que lhe subjazem. Efetivamente, a fraternidade universal ainda tem muito para andar e basta olhar para os êxodos humanos em tempo de crise para se perceber onde é melhor viver: o Ocidente. O Ocidente sai reforçado como espaço de liberdade, que se deve cuidar e aprofundar.

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Ponto 2. A maravilha de uma Europa global e pessoalmente sensível à injustiça e à dor dos mais frágeis comprova a sua maturidade ao nível dos valores. Ser capaz de se atravessar com prejuízo próprio em benefício de quem sofre significa um passo em frente de humanidade, pelo que devemos estar gratos. Uma vez mais, e também aqui, há um património comum de valores na Europa que não podemos dar como certos, nem podemos ignorar. Esse é o nosso legado e ele faz a diferença.

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Ponto 3. Na itinerância da humanidade, estão à vista os fossos na avaliação de uma mesma realidade. O relativismo moral surge como apanágio de uma equidistância considerada virtuosa, como se fosse possível avalizar todas as perspetivas. A linguagem surge como o instrumento mais poderoso na leitura híbrida, tingida e “pseudo-neutra” da realidade, para não ferir suscetibilidades, sobretudo ao agressor. Sim, há agressor. Sim, há guerra. Sim, há invasão. Não nos deixemos tomar por eufemismos. A linguagem molda a realidade e há uma verdade na realidade que não pode nem deve ser escamoteada. Só conhecendo a verdade como ela se apresenta poderemos defender a liberdade.

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Apresenta-se diante dos nossos olhos, como inexorável, a trilogia bíblica peste|guerra|fome. Se não tivermos mais alternativa do que enfrentá-la, enfrentemo-la juntos como na música épica:

And if we should die tonight
Then we should all die together
Raise a glass of wine for the last time
”.

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Mesmo que não se aplique hoje a nós por não estarmos sob as balas, aplicar-se-á a alguns que, por causa delas, amanhã não verão um novo dia.

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