Editorial

FLORES DE ALGODÃO. EM VEZ DE SACOS PLÁSTICOS
Picture of Nadir Faria

Nadir Faria

Nadir Faria

Cooperante

 

Na ilha de Santiago, e com a ausência de chuva há já três anos consecutivos, as montanhas estão secas e têm uma cor triste e acastanhada. Mayra Andrade canta “Ilha de Santiago tem corpinho de algodón (algodão)”.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Não sei se se refere ao algodão por causa da planta que já foi aqui abundante. Mas, se olharmos bem para as montanhas, em particular para as que circundam as estradas, em vez de algodão têm sacos de plástico “plantados” pelo vento!

Volto, por isso, a um assunto sobre o qual já escrevi: lixo! Continua a ser premente repensarmos hábitos de consumo e de gestão de resíduos.

Além de tentar usar o menos possível embalagens de plástico, de usar os transportes públicos, comprar produtos locais, separar os resíduos orgânicos para um porco alheio, tenho estado atenta a algumas alternativas locais. Recentemente, estou a experimentar sabonetes e detergentes feitos a partir de óleo usado, recolhido em restaurantes da Praia.

Apercebo-me também de que, não havendo uma resposta a nível central para o tratamento de resíduos, são as iniciativas privadas, de índole individual ou coletiva, que vão trazendo essas alternativas. Através de uma associação local, tive a oportunidade de ver serem implementadas máquinas para triturar vidro (para voltar a ser areia e utilizado na construção) e plástico (para ser reciclado).

Também tive a oportunidade de visitar uma empresa que recolhe, separa e compacta metais para exportação e que recolhe e armazena vidro e plástico (ainda na experimentação do que será o futuro destes dois). O metal separado tem como primeiro destino a Índia e, em seguida, o Dubai. Espanto do meu espanto! Fazendo jus à expressão do lixo ao luxo – pois parece-me um luxo o destino ser o Dubai!

Ironia à parte, senhores no comando, se compensa enviar cubos de metal prensado até ao Dubai, se há empresas a testar construções com areia obtida a partir da moagem de garrafas, se há pequenas iniciativas não-governamentais que estão a funcionar, não seria de pensar melhor nisso? Além dos benefícios ambientais, sem nenhuma análise mais profunda, vejo oportunidade lucro, vejo oportunidades não de luxo mas de trabalho onde outras (oportunidades) não abundam.

Quanto a mim, vou continuar atenta às alternativas. Vou sonhar com flores de algodão, em vez de sacos plásticos.

Mais
editoriais

Junte-se a nós todas as semanas