Editorial

MORREU JÚLIO POMAR, UM PILAR DA PINTURA MODERNA PORTUGUESA
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Jorge VER de Melo

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Jorge VER de Melo

Consultor de Comunicação

Faleceu Júlio Pomar o artista plástico que marcou uma época desde os primeiros anos do séc. XX.

Nascido na capital em 1926, cedo denunciou as excecionais tendências artísticas que iniciou na Escola de Artes Decorativas António Arroio em Lisboa, onde conviveu com Cruzeiro Seixas, Mário Cesariny e Pedro Oom, entre outros.

Em 1942 prosseguiu os seus estudos na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, durante apenas dois anos. Nesse tempo, enquanto praticava como aluno de artes num atelier próximo da ESBAL, conseguiu vender o primeiro trabalho, “Os Saltimbancos”, por coincidência ou não, ao grande Almada Negreiros que imediatamente o expos no VII Salão de Arte Moderna do Secretariado da Propaganda Nacional.

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Devido aos problemas que regularmente eram levantados naquela Escola pelo preconceito de ele ter frequentado a António Arroio, resolveu mudar-se para a Escola de Belas-Artes portuense onde participou no grupo das “Exposições Independentes”, composto por: Júlio Resende, Fernando Lanhas e Amândio Silva.

Era um homem de muitas facetas e de bastante cultura tendo inclusivamente, em 1945, a responsabilidade de escrever um artigo semanal intitulado “A Arte” no diário “A Tarde”.

Mas foi com a obra “Gadanheiro” que iniciou mais claramente a divulgação do seu trabalho pois ao participar na IX Exposição Estética de Férias em Évora, selecionaram-na para ser exposta na Sociedade Nacional de Belas Artes em Lisboa.

Em sequência deste sucesso surge no Porto, dois anos depois, a sua primeira exposição individual.

A evolução de toda essa popularidade foi interrompida pelo facto de a PIDE, Polícia Internacional de Defesa do Estado, ter descoberto que ele pertencia à Juventude Comunista, MUD Juvenil. Foi então detido como preso político em 1947, conhecendo assim Mário Soares de quem se tornou amigo.

Todo o trabalho de Júlio Pomar se encontra num contexto ético e estético simultaneamente, pois a sua preocupação político/social, “ética”, conseguiu ser divulgada com alto valor “estético” neorrealista. Pertenceu ao grupo dos artistas que mais se evidenciaram na terceira geração modernista.

A arte Contemporânea portuguesa deve muito a este artista plástico que desde o neorrealismo, expressionismo até ao abstracionismo, não se resumiu apenas à pintura mas experimentou imensas variantes como: desenho, gravura, tapeçaria, assemblage, escultura, vidro, ilustração, cerâmica e cenografia.

Foram setenta anos de e com influência: política, erótica, literária; em e de certas regiões como: Lisboa, Poto, Évora, Paris (onde foi bolseiro) e até a Amazónia no Brasil.

Mesmo encarcerado realizou obras neorrealistas marcantes como: “Almoço do Trolha” e “Resistência”, exibidos na Exposição Geral de Artes Plásticas. Mas ainda em 1946/47 pintou os frescos do cinema Batalha, no Porto, que foram logo destruídos em 1948, pela polícia política.

Condecorado pelo presidente Sampaio em 2004, com a Ordem da Liberdade; foi também Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa e distinguido com a Medalha Municipal de Honra pela Câmara de Lisboa.

Finalmente em 2013 foi inaugurado o “Atelier-Museu Júlio Pomar” onde estão depositados cerca de 400 trabalhos do artista que vão desde: pintura, esculturas, artes decorativas, desenhos, serigrafias até ás gravuras. Trata-se de um edifício do séc. XVII reabilitado e adaptado pelo Arquiteto Siza Vieira.

Mesmo com todas estas honras, Júlio Pomar morre com 92 anos sem ver devidamente respeitadas as artes visuais no nosso país. Senão vejamos:

– O Ministro da Cultura Luís Filipe de Castro Mendes diz que vai ser reforçado o Programa de Apoio Sustentado para 72,5 milhões de euros, até 2021;

– Afinal, de um reforço de 2 milhões de euros anuais, apenas 180 mil euros vão para as artes visuais;

– Quer isto dizer que desses milhões todos para as artes, só pouco mais de 5 milhões de euros serão para as artes visuais até ao ano 2021.

Reparem, as artes visuais não são apenas as artes plásticas, estão englobadas variantes que envolvem também criatividade, inovação e originalidade.

Será que vão continuar até 2021 a desrespeitar a cultura, especialmente as artes visuais?

Ainda não se aperceberam que estamos na “Era da Comunicação” onde as artes visuais são parte fundamental da evolução global?

Devem estar noutro planeta!…

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