Joaquim Letria
Professor Universitário
Dentro de pouco tempo vamos votar para as eleições europeias. Se muito devemos à Europa, também muito tivemos de sacrificar (agricultura, pescas, indústrias pesadas) para sermos aceites por esse clube que nos exige subserviência e nos paga com desprezo.
A obsessão com o défice público que conhecemos dos nossos quatro últimos ministros das Finanças e que teve a sua expressão máxima no Tratado de Maastricht e no Pacto de Estabilidade é a consequência de um pensamento rígido europeu, que considera que a inflação é o verdadeiro diabo e minimiza os outros problemas.
Muita gente qualificada pensa acertadamente que as regras e práticas financeiras europeias foram as grandes responsáveis pelo retardar do crescimento económico da Europa e por criar uma sociedade acentuadamente desigual.
GOSTA DESTE CONTEÚDO?
- Não se esqueça de subscrever a nossa newsletter!
Os países da zona euro tinham diferentes graus de desenvolvimento e diferentes situações financeiras. Os países do centro e do norte da Europa pareciam preferir que os do sul não fossem sócios do mesmo clube. Começaram por lhes chamar “Club Mediterranée”, numa maldosa piada que utilizava o famoso clube de férias e depois tornaram-se mais agressivos, chamando-lhes PIGS (Portugal, Itály,Greece, Spain).
Agora, os nossos queridos parceiros europeus aumentaram a parada, subindo ainda mais de de tom as ofensas, servindo-se de uma origem geográfica mais diversificada: STUPID (Spain, Turkey, United Kingdom, Portugal, Italy, Dubai.) Porém, estes países onde o holandês achava que se pedia dinheiro para beber álcool e passear com mulheres sem trabalhar, conseguiram cumprir os critérios rígidos do tratado, ainda que recorrendo a alguma engenharia financeira, particularmente no caso da Grécia.
A pensar nos países europeus menos desenvolvidos, o tratado incluía uma regra que impedia resgates e deixava claro que cada país não tinha responsabilidade em relação aos outros. Assim se criou uma zona monetária e económica sem solidariedade entre países com um orçamento central baixo, e sem recurso para combater as dificuldades assimétricas, sem poder orçamental central, sem governo económico e com um banco central que só se preocupa em combater a inflação. A inflexibilidade do euro teve muito a ver com a crise porque a Europa não estava preparada para uma moeda única.
Vamos então eleger mais uma mão cheia de portugueses para continuarem a alinhar com as asneiras europeias ou alguns para tentarem evitá-las. Oxalá que saibamos escolher aqueles que melhor nos saibam proteger, mais nos ajudem a beneficiar de ser sócios deste clube e não andem a abanar o chocalho, aproveitando para lhes explicar que não somos porcos nem estúpidos.