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Damião Cunha Velho

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Da última vez que Angela Merkel veio a Portugal, António Costa e Angela Merkel deram uma conferência de imprensa.

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Na sala onde se deu a conferência tinha um estrado e dois púlpitos.

Um para o Primeiro-ministro de Portugal e outro para a Chanceler alemã.

No púlpito de Costa dizia “Dr. António Costa” e no de Merkel dizia “Angela Merkel”.

António Costa é apenas licenciado em direito, já Angela Merkel é doutorada em química quântica.

Os títulos monárquicos (Marquês, Conde…) foram extintos em 26 de outubro de 1910, dezasseis dias depois do fim da monarquia em Portugal.

Os “portuguesinhos” não perderam tempo e foram logo a correr para os títulos honoríficos (Dr., Eng. …).

Isto ainda está enraizado na nossa cultura “tosca”.

Os nossos vizinhos espanhóis tratam-se todos por tu. Não estou a pedir tanto. Mas, vejo jovens licenciados em que a primeira coisa que fazem logo que acabam o curso é irem ao banco e pedirem para acrescentar na sua ficha de cliente os ditos títulos. Para depois aparecer nos cheques e no cartão multibanco o Dr., Eng. …

Conheci dois jovens recém-licenciados em economia e gestão que foram a uma entrevista de emprego vestidos com o traje académico.

Quase parecia que iam para uma praxe.

Tratava-se de uma empresa multinacional e eles apresentaram-se verbalmente com o título de Doutor.

O entrevistador que era alemão disse-lhes num tom de gozo:

“Então vocês são doutores de Portugal?”

Não foram recrutados e julgo que foi exatamente pela forma como se apresentaram.

Infelizmente, esta cultura ou falta dela ainda existe num Portugal onde quase todos estudam.

São as portuguesices dos portuguesinhos, agora sem aspas!