Editorial

Que o lado bom permaneça em nós!
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Nadir Faria

Nadir Faria

Cooperante

 

Comecei a ouvir falar sobre o Covid-19 aqui, em Cabo Verde. Há muitos estudantes cabo-verdianos na China, onde começou a pandemia[1].

Logo após os primeiros casos conhecidos, houve a possibilidade de voltarem a casa. Uns optaram por ficar, outros optaram por voltar!

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Na altura, houve quem aplaudisse a decisão dos que voltaram, houve quem criticasse. As críticas tinham que ver com o medo de algum deles trazer o vírus e de se considerar que o sistema de saúde de cá ser incomparável ao da China. Portanto, o medo era o de contágio. O medo de contágio faz com que olhemos para os outros de canto. Eu própria, numa loja onde estava uma senhora chinesa na caixa, no dia em que se conheceram os dois primeiros casos em Portugal, sofri um “interrogatório”. Quando me dirigi para a caixa, a senhora perguntou-me: “É portuguesa?”. E eu pensei: “Que simpática! A Fazer conversa…”! Entretanto, depois de confirmar, as perguntas avançaram para: ”Quando chegou? Veio fazer o quê? Viu as notícias hoje?…”. Percebi qual era, afinal, o motivo da atenção de que estava a ser alvo. Na altura, ri-me com o insólito! Apenas por se ter sabido, naquele dia, que havia casos no meu país de origem, eu fui considerada “suspeita” por aquela senhora – achei insólito.

Passaram alguns dias e os casos em Portugal, em toda a Europa e em todo o mundo, foram aumentando. A pandemia a fazer jus ao seu nome! Houve, de forma generalizada, a decisão de se fecharem escolas e outros locais onde se potencia a aglomeração de pessoas. Começou a espalhar-se o hashtag #FiqueEmCasa. Ficar em casa para que a pandemia seja contida é o mínimo que podemos fazer. Sejamos gratos por termos uma casa onde ficar e fiquemos. Foi-nos relembrado que devemos lavar as mãos com água e sabão, com frequência (hashtag #LavarAsMãos; hashtag #ÁguaESabão). Sejamos gratos por termos água e sabão. Por podermos até optar por álcool gel. Foi-nos pedido para evitarmos multidões (hashtag #EvitarMultidões). Sejamos gratos por o conseguirmos fazer.

Sejamos gratos por todas as opções que temos. Sejamos capazes de aprender com esta lição. Não há credos, não há cores, nem estatuto social. Estamos juntos à mercê de um vírus! E conjuntamente, mas cada um por si, sejamos capazes de aproveitar o lado positivo a que esta pandemia nos obriga: tempo, criatividade, olharmos para nós, preocuparmo-nos com os nossos mais que nunca!

Que o lado bom permaneça em nós! Que sejamos capazes de olhar para o outro, e de o ver, para além da pandemia.

 

[1] surto de uma doença com distribuição geográfica muito alargada e simultânea (Priberam online).

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