Editorial

Talvez Deus e o ódio tenham de morrer para que os Homens se salvem!
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Damião Cunha Velho

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Quando um ateu se vê obrigado a falar sobre Deus está de certa forma a dar-Lhe existência, o que é paradoxal, apesar de ser do ponto de vista argumentativo.

Porém, é alguém que não acreditando em Deus, não Lhe prestando vassalagem, admiração ou ódio, está melhor posicionado para se pronunciar com isenção sobre o tema “Deus”.

Os crentes em Deus acham, genericamente, que a espécie humana é superior às demais espécies animais e vegetais por ser racional. O ser inteligente é obra de Deus com uma missão: servi-Lo.

Ora, começa, desde logo, aqui uma enorme contradição e um imperativo. Pois, não há qualquer argumento racional – nem prova científica – para a existência de Deus. A inteligência pode ser só mais uma característica entre muitas que fazem parte dos seres vivos, e que surgiu de um processo evolutivo, adaptativo. Se existissem dinossauros, julgo que a inteligência não nos tinha valido.

O imperativo, servir? Em nome de quem, com que propósito ou baseado em que valores?

Deus não é um facto já a crença em Deus sim. E a maioria dos que acreditam em Deus, não estão preocupados com a Humanidade, com o seu semelhante, com o bem ou com o mal, nem mesmo com Deus. Querem é salvar a sua pele porque estão borrados de medo. Medo de sofrer, medo da morte, medo de que haja fim.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Os lugares de culto a Deus não são lugares de amor, mas de medo. A imponente arquitetura das igrejas, sinagogas e mesquitas não é por acaso.

Aqui mora e manda o Todo-Poderoso!

As religiões são ceitas que se aproveitam do medo para outros fins, a maioria perversos, muitos criminosos.

Quando, por exemplo, os seus fiéis estão a praticar o bem, querem com essa prática ser salvos, o outro em agonia sendo o veículo para a salvação. Uma espécie de altruísmo egoísta.

Quando, por outro lado, estes fazem guerras, objetivamente más, apenas boas para fanáticos, o Homem está disposto a morrer em nome de Deus, com a promessa de chegar ao Paraíso. As religiões prometem algo que nunca provaram cumprir em séculos de existência. Veja-se a psicopatia a que as religiões chegaram e o desespero e aflição de quem as segue.

É claro que quem está a ler este artigo dirá que isso acontece com a religião do outro e não com a dele, ou que eu devia ser enterrado no limbo de um cemitério. Não se indigne que a sua também faz “merda” e acredite que a faz todos os dias em cima do Deus em que você acredita.

Não vou entrar em detalhes sobre as “merdas” de cada uma das religiões porque iria incentivar a uma guerra entre religiosos para verem quem faz menos ou nenhuma “merda”. Se o fizesse quase todos iam entrar nessa guerra e ao fazê-lo já estavam a fazer “merda”.

Tão fácil e tão simples. Fico-me pela carnificina em Israel e Gaza, entre judeus e muçulmanos, ou pelo desdém aqui em Portugal dos católicos para com as vítimas dos abusos sexuais na Igreja.

Não é tudo farinha do mesmo saco porque também há gradações na maldade, mas que é tudo farinha podre é: as religiões. Há fiéis e fiéis, note-se.

Acreditar em Deus é como um medicamento.

É por isso que eu não condeno quem acredita, porque infelizmente há muita gente a precisar de ajuda, apesar de escolher o caminho errado. Desde que existe ciência não há salvações milagrosas. As salvações fazem-se no bloco operatório à luz do saber científico.

Como disse, um medicamento que em doses moderadas até traz uma certa ordem social por temor a Deus. É que não há mais nenhuma outra razão senão medo, medo do inferno. O resto é treta. A grande maioria é cada um por si e fé em Deus!

Quando em doses elevadas, mata. É por isso que o mundo está constantemente em guerra. Os fanáticos religiosos já fizeram milhões de mortos. E não apenas nos países árabes, mas também por cá. Os livros de história contam muitas dessas barbáries.

Mesmo agora, não faltam católicos desses a desejar a morte do Papa Francisco por não se reverem no “Todos, todos, todos”. Não faltam judeus a desejarem a morte de todos os muçulmanos e não faltam muçulmanos a desejarem a morte de todos os judeus. Aqui sim, é “Todos, todos, todos” para o Inferno na Terra. Um gozo apreciado por religiosos que se esqueceram que são filhos do mesmo Deus.

Enfim…

Porém, há quem ainda mate mais, muitíssimo mais: vírus e bactérias. Se fossemos a fazer contas, não há qualquer guerra travada pelos Homens na história da Humanidade que tenha dizimado mais seres humanos do que estes seres microscópicos. Daqui, também podíamos tirar lições da nossa suposta superioridade. Orgulhosos demais para aceitar tamanha insignificância até que a morte nos bata à porta e nos ponha em sentido.

É curioso que eu nunca tenha visto nenhum destes religiosos, em aflição, na hora H, a irem a correr para o seu santuário e a não chamarem o 112. É que nem mesmo os que estão no topo da pirâmide e que, supostamente, estão debaixo da proteção divina!

De entre esta irracionalidade dos racionais, podemos sempre fazer uma gradação da sua irracionalidade que vai do pouco religioso ao fanático. O pouco religioso, odiado pelo colega fanático, é aquele que é religioso porque a tia também era e gosta de procissões. O mais religioso é o fanático. Para este não importa se o da outra religião é uma criança acabada de nascer – que por definição não tendo conhecimento ou escolha, não tem religião – é para abater, ponto.

Portanto, talvez tenham de morrer todos os adultos, os que acreditam em Deus e os ateus que odeiam quem acredita, e esperar que as crianças que nunca ouviram falar de Deus nem de ódio salvem o mundo.

Ou, deixar morrer Deus e o ódio para que os Homens se salvem!

3 comentários

    1. Obrigado.
      Gostava só de acrescentar uma citação de Clive James que diz o seguinte:
      “A religião é uma campanha publicitária de um produto que não existe”!
      Abraço.

      1. O “PRODUTO” existe, o que existe são poucos homens com carácter. NÉ?

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