Editorial

Só… em Lavradas!
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Damião Cunha Velho

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Disseram-me que tinha ardido.

Fui lá dias depois do incêndio. Vi uma igreja bonita, um monumento. Entrei. Por dentro estava destruída.

Foi notícia, deu na televisão. O presidente da República, o católico Marcelo Rebelo de Sousa, fez questão de ver com os seus próprios olhos a tragédia que assolou a pequena freguesia de Lavradas em Ponte da Barca.

O povo de Lavradas e outros católicos solidarizaram-se e dos quatro cantos do mundo chegou dinheiro, em tempo recorde, para reconstruir a velha igreja, como havia sido pedido por todos na aldeia: povo e diocese.

Voltei lá este verão, cinco anos e meio depois. A igreja ali continua, igualmente bonita, igualmente imponente. Por dentro, comida pelo tempo, pelo desdém. Por fora, indestrutível. Porém…

Só!

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

Pensei: é assim que ela quer ser, como sempre foi e então aguenta-se firme à espera de uma mão que a ajude a reerguer-se.

Foi isso que foi pedido ao povo de Lavradas e aos emigrantes no estrangeiro ligados à terra e à fé cristã, que prontamente contribuíram para fazer a vontade aos fiéis, à velha igreja, a um povo unido pelo mesmo drama, pela mesma causa.

Fui lá hoje. Constatei que, passados seis anos, nada se fez na igreja.

Chovia. Na fachada corriam lágrimas.

Lágrimas de quem acreditou e se desiludiu com aqueles a quem sempre a igreja deu.

Continua só!

Tristemente só!

Estranhamente só!

Imerecidamente só!

Perguntei a mim mesmo: se todos deram das suas poupanças para reconstruir a igreja, então porque não se fez a reconstrução?

Não encontrei resposta, apesar de saber que o projeto de reconstrução foi travado por quem achava que o melhor era fazer uma nova igreja. E nessa discussão, que ainda dura e divide “irmãos”, a igreja de Lavradas ficou esquecida. Seis anos esquecida…

Só!

Há coisas que mesmo não sabendo explicar, o nosso cérebro vai-nos dando pistas para encontrar as respostas. Curiosamente, nesse mesmo dia, lembrei-me de uma aula que tive na faculdade. Era uma aula prática em que fomos visitar uma escola que reclamava falta de material escolar elementar e nós tínhamos de fazer uma “Avaliação das Necessidades para a Formação/Educação”. Nessa visita, sem querer, entramos numa sala da escola que parecia abandonada e quando acendemos a luz, vimos amontoadas carteiras, cadeiras, canetas, livros… tudo o que a escola precisava e tanto reclamava estava ali, por estrear, dentro da própria escola.

O nosso professor-orientador da faculdade, tão espantado quanto nós, virou-se para todos e, olhos nos olhos, disse:

“Aprendam esta lição para a vida. Quando uma coisa está mal, tem solução e permanece mal é porque alguém está a ganhar com isso”!

Lamento, por pensar que vais continuar…

Só!

4 comentários

  1. Concordo plenamente com tudo o que, muito bem ,descreveu.
    Também já escrevi sobre o tema.
    Acontece muitas vezes quando há dinheiro envolvido e o poder de decisão, foge das mãos do povo.
    Se pretendem uma nova igreja, há dois caminhos a ter em consideração.
    1- Reconstruam a actual.
    2- Caso não queiram, devolvam as esmolas acrescidas de juros

  2. Ò senhor José Venade, o senhor não desconhece a seguinte frase!
    “Venha a nós o vosso reino”!
    A nota já lá chegou e jamais voltará! Ser cristão e temente de Deus, não tem necessidade de “qualquer arranjo urbanístico”
    A propriedade é da diocese ,não do povo, o povo serve-se dela “enquanto” tiver uso e seja rentável! Depois fica abandonada, como é o caso!
    Povo de Lavradas, a igreja ardeu, e veio o “arado” das lavradas e lavrou!
    A “terra” está pronta para nova sementeira!
    A 7 anos que não entro numa igreja nem capela e não é por isso que “deixei” de ser temente de Deus. Continuo com a mesma fé que tinha “antes” do episódio que me levou a afastar-me dos patrimónios!

    1. José Cachadinha concordo consigo. Sempre que há dinheiro envolvido, não faltam os ” lamboneiros” do costume.

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