Editorial

A grande mentira
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Dina Ferreira

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Num corrupio legislativo, acabam de ser aprovadas medidas “para garantir o direito de crianças e jovens à autodeterminação da identidade de género e a proteção das suas características sexuais”, quando a sua identidade ou expressão de género “não corresponde ao sexo atribuído à nascença”.

A expressão “sexo atribuído à nascença” dá-nos a dimensão da demência erigida em lei, como se a identidade feminina e masculina fosse um acaso e não correspondesse à verdade nuclear cromossómica XX ou XY presente em todas as células de cada pessoa e que a define de forma fundamental e não acidental.

Assim, essa primeira e nuclear base identitária, é, por decreto, pura e simplesmente, cancelada. A realidade não interessa, os factos não interessam, qualquer base de objetividade essencial à convivência humana é destruída.

Os ideólogos de género vão mais longe e indicam a autoperceção como base da identidade desde a infância. A autoperceção (como é possível!), esse emaranhado tão precário quanto incerto nas idades do crescimento cheio de alterações, em que a autoaceitação é também, por si só, sempre tão desafiada, a necessitar como nenhuma outra do apoio claro numa verdade essencial.

Mas o desvario não fica por aqui. Para alavancar a sua desconstrução, os ideólogos de género postulam conteúdos programados para o cancelamento da identidade com base biológica desde o pré-escolar, pagas pelo erário público (que é o dinheiro dos impostos de todas as famílias) e querendo atingir todos os nossos filhos que frequentam as escolas de Portugal.

A lei foi aprovada pela maioria (PS, Bloco, PAN e Livre), como se qualquer maioria pudesse legitimar a imoralidade. Mais extraordinário ainda, nos argumentos dos ideólogos do género cita-se proficuamente o “ódio” quando na verdade o ódio é o que os mesmos destilam em relação a tudo o que não se enquadre na sua desconstrução social, o nihilismo destruidor de toda a base de diferenciação.

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Os ideólogos de género odeiam a cultura diversa que emerge de cada família com as suas próprias sínteses, o seu legado histórico, as suas formas de estar, falar e ver o mundo. Para os ideólogos de género há uma só forma de ver o mundo não admitindo o contraditório, anulando tudo o resto.

A ideologia de género é a base de sustentação de todos os cancelamentos: da ciência, da história, da literatura, de todas as formas de arte, que captam e descrevam a gloriosa diversidade da vida. E assim os ideólogos do cancelamento reescrevem os livros da Agatha Christie, escondem os da Enid Blyton, alteram os livros de história, alteram os postulados da produção científica, e até criticam o nariz de Bradley Cooper no papel de Bernstein, por poder ofender os judeus.

Deixamos de ser pessoas e passamos a categorias. Ficamos tomados por uma teia de cancelamento onde a suscetibilidade vence toda a realidade e também todo o humor, e é preciso medir tudo o que somos, dizemos e fazemos para evitar qualquer ofensa que está à espreita, vindo de um qualquer irritadiço e autocrático big brother.

Como qualquer totalitarismo, a ideologia de género e seus sequazes têm um enorme lápis encarnado e têm também um vasto enquadramento legislativo, que é o que costuma preceder a enorme ameaça repressiva.

Coitado do ocidente, ferido de morte naquilo que o costumava definir, a tolerância que vem do convívio e do diálogo com a diferença, suscitando sínteses ricas e multifacetadas para um mundo mais humano, incapaz de ser artesanalmente construído sem essa base de diferenciação.

O Papa Francisco deu-nos quatro princípios onde nos devemos segurar neste tempo de águas agitadas, e todos eles nos servem para discernirmos sobre este desafio ideológico do género: a realidade é superior à ideia, a unidade é superior ao conflito, o todo é superior à parte, o tempo é superior ao espaço.

Com eles, somos levados a resistir e a empreender, expedientes obrigatórios quando nos entram em casa, na nossa privacidade, e nos roubam os filhos, a história, a cultura e a família que escolhemos, tal como escolhemos.

O que temos pela frente não é pouco e não é adiável: a maravilhosa missão de dialogar e amar a diferença, de não nos entrincheirarmos seguindo uma agenda que não é a nossa, de rir, de fazer humor do grotesco, do burlesco e de nós mesmos, e dos outros também, como o último reduto de ser ocidental nos dias que correm, sem capitular até que cheguem dias melhores, dias de mais liberdade e dias de mais respeito pelas verdades essenciais da existência humana.

3 comentários

  1. Parabéns à Dina Ferreira pela análise feita, assertiva, factual.
    É tão grotesco o que está a acontecer que, seria impossível, se o povo tivesse o mínimo interesse em seguir o dia-a-dia da governação de Portugal.
    O deixa-andar das pessoas, o não ligar à realidade, faz com que quem esteja no poder faça o que quiser e as portas das ditaduras ou do colapso social se abram lentamente… até se fecharem sem darmos por isso…

    1. Mas o engraçado é que as pessoas continuam a apoiar estas medidas… Até parece que GOSTAM de sofrer, sem nada(?) a fazer!

  2. De Zenit noticias, DICIEMBRE 29, 2023
    El Daily Mail del 27 de diciembre reveló que más de 70 niños de tan sólo tres o cuatro años han sido remitidos a la clínica para transexuales Tavistock del NHS (Servicio Nacional de Salud) inglés.
    Más de mil familias han emprendido acciones legales contra la clínica, (sobre todo a raíz del extraordinario y dramático caso de Keira Bell), por diagnosticar erróneamente a sus hijos y causar, en muchos casos, enormes daños, incluida la extirpación de partes del cuerpo a adolescentes.
    Este último escándalo sigue a la alarmante noticia de la propia Tavistock, que a finales de noviembre tuvo que admitir cómo el número de niños a los que se prescribían bloqueadores de la pubertad se había duplicado desde 2022, a pesar de que el NHS se había comprometido a reducir el tratamiento a 83 niños.

    El Gobierno de Sunak se está tomando el asunto muy en serio con una serie de iniciativas.
    La primera es la consulta pública sobre las nuevas directrices para las clínicas de transexuales. Los niños sólo serán derivados a las clínicas transexuales si sus padres y un especialista están de acuerdo, mientras que hasta ahora los profesores, los trabajadores sociales y los médicos de familia podían enviar a los niños al Tavistock sin tener que obtener el consentimiento paterno. Por otra parte, la ministra de Igualdad y Mujer, Kemi Badenoch, está al frente de la batalla contra la epidemia de transexualidad en las escuelas y sociedades británicas.
    Badenoch, en una carta abierta publicada en el Daily Mail el 19 de diciembre, reiteró que a los niños británicos «se les ha hecho creer que pueden nacer en el cuerpo equivocado y que tenemos una ‘identidad de género’ abstracta separada de nuestro sexo biológico». Se trata de una ideología controvertida y confusa… [pero] se ha extendido a nuestras escuelas, causando preocupación entre padres y profesores bienintencionados que quieren hacer lo correcto con los niños que se les confían… La postura del Gobierno al respecto es clara. En primer lugar, creemos en la dignidad, el respeto y la libertad individual… En segundo lugar, enseñar a los niños que pueden nacer en el cuerpo «equivocado» es perjudicial… el sexo legal de los niños es siempre el mismo que su sexo biológico… En tercer lugar, el sexo biológico es real y debe ser protegido. Las escuelas y universidades tienen obligaciones legales y reglamentarias específicas que dependen del sexo biológico del niño».

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