Editorial

Socorrismo, uma disciplina que devia ser obrigatória nas escolas
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Damião Cunha Velho

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Quando fiz o ensino secundário tive a disciplina de Socorrismo e foi tão importante para mim como saber ler e escrever.

Passei por várias situações na minha vida em que esses conhecimentos foram cruciais para ajudar outros em dificuldades. Até para mim próprio quando fui mordido num braço por uma abelha asiática.

O meu pai fez hemodiálise durante 11 anos e foram inúmeras as vezes em que desmaiou, teve convulsões…. Enfim, um sem número de situações em que a prontidão do socorro mudou o desfecho da história.

Há um episódio que nunca esquecerei. Há uns anos, estava eu no Porto na Moviflor a ver mobiliário. Isto passou-se próximo do dia de Natal e nessa época do ano muitas lojas põem rebuçados nas mesas para os clientes se servirem. Uma criança, com dois anos de idade, meteu um rebuçado desses à boca e engasgou-se. Não conseguia respirar. O pânico instalou-se na loja com pessoas aos gritos, os pais em total desespero porque a criança já estava desmaiada e roxa. Eu apliquei as manobras que tinha aprendido em Socorrismo e consegui que o miúdo expulsasse o rebuçado e voltasse a respirar. Veio a si, chorou agarrado à mãe, recuperou.

Entretanto, chegou a ambulância e o miúdo foi para o hospital e acabou por ficar tudo bem.

O socorro imediato é fundamental, chegar rápido pode fazer a diferença. Um minuto a mais de espera pode fazer a diferença entre um desfecho bem-sucedido ou uma tragédia.

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Nem sempre uma ambulância consegue chegar a tempo de poder salvar uma vida.

No entanto, se alguém estiver perto, o que acontece quase sempre, e souber prestar os primeiros socorros pode mudar o final da história, para melhor.

Faz-me confusão, por estas razões, que a disciplina de Socorrismo não seja obrigatória nas escolas.

Até porque é uma disciplina que para além de ensinar a salvar vidas, também ensina de forma subliminar a solidariedade que deve existir numa sociedade saudável.

Socorrer é ajudar o Outro.

Acho inaceitável que pessoas com elevado nível académico, com mestrados e doutoramentos, não saibam o que fazer quando alguém que está perto de si tem uma paragem respiratória. Não saberem fazer respiração boca-a-boca e dar uma massagem cardíaca.

É que alguém que subitamente deixa de respirar se não for assistido nos dois minutos seguintes morre.

A primeira causa de morte em Portugal são as doenças cardiovasculares. Muitos dos que morrem é por terem tido uma paragem cardiorrespiratória, algo que se tivesse alguém por perto com estes conhecimentos tão básicos, muitas dessas mortes poderiam ser evitadas.

Numa sociedade de gente tão letrada, que passou anos na escola, a mais escolarizada de sempre, faz-me confusão que algo tão básico que pode ser apenas um simples gesto praticado na hora certa, como, por exemplo, uma PLS – Posição Lateral de Segurança, essa mesma gente não o saiba.

Estranho e inquieta-me, por estas razões, que a disciplina de Socorrismo não faça parte do currículo escolar como disciplina obrigatória!

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