Editorial

A Arte de Viver – “O Evangelho do Prazer “
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Damião Cunha Velho

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Muitas pessoas vivem insatisfeitas no trabalho, trabalham para pagar as contas. Muitos alunos estudam desinteressados, sem motivação, porque é obrigatório.

Li em tempos um livro sobre um casal de matemáticos que era absolutamente fascinado por matemática. Tinham três filhos e ensinaram os filhos a divertirem-se, nos tempos livres, a estudar.

Estudar, resolver problemas de matemática, era o “brincar” naquela família.

Aqueles miúdos eram objeto de bullying na escola. Eram os marrões. Para mim, tinham os pais certos.

Há cerca de dois séculos que vários pensadores se debruçaram em adivinhar como seria a vida de hoje. E todos pensavam que os seres humanos iam trabalhar muito poucas horas por dia, devido ao aparecimento das máquinas, e sobraria imenso tempo que iria ser dedicado ao lazer e ao prazer. Benjamin Franklin, Karl Marx, Keynes, entre outros, escreveram sobre isso. Um mundo em que a máquina iria substituir o homem em benefício de todos.

A verdade é que se enganaram e hoje há aqueles que não têm ou não conseguem arranjar trabalho e depois há os que trabalham. E os que trabalham, trabalham imenso, muitas vezes muito para além do horário de trabalho.

GOSTA DESTE CONTEÚDO?

É assim. E agora com o teletrabalho os horários praticamente não existem.

A produtividade é tanto maior quanto maior for o prazer que temos quando trabalhamos. Aliás, costumo dizer que quando o trabalho atinge um nível de prazer elevado deixa de ser um trabalho e passa a ser uma arte. Do trabalho todos nos queremos reformar, já de uma arte praticamo-la até ao fim dos nossos dias.

Para que o trabalho seja exercido sem esse “sacrifício” temos, não apenas que pôr os nossos filhos a estudar, mas sobretudo ensiná-los a gostar de estudar. O trabalho de estudar deixaria de ser um trabalho e passaria a ser um divertimento. Depois, como consequência deste processo, eles iriam procurar empregos cuja primeira prioridade seria a satisfação pessoal, a realização profissional.

Tudo melhoraria: a saúde, o conhecimento e a produtividade.

Piaget dizia que o motor da inteligência é a motivação. Eu acrescento que o motor da vida é a motivação. Sem motivação a vida não tem interesse e pode resultar em depressão, aquela que se pensa vir a ser a maior causa de incapacidade para o trabalho daqui a trinta anos.

Reverter esta realidade não é uma utopia, é possível e tem que ser uma prioridade porque todos ficamos a ganhar: empregados, empregadores, a sociedade em geral. Eu, tu…nós.

Só assim substituiríamos o “Evangelho do trabalho” de Carlyle (uma visão do trabalho como escravatura) pelo “Evangelho do prazer” de Mill (uma visão do trabalho como prazer).

E só assim teríamos progresso social, moral e sobretudo aquilo que mais interessa a todos: espaço e tempo para aperfeiçoar a arte de viver!

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